[resenha 01/2018] Por que fazemos o que fazemos?

Ou seja, por que escolhemos um livro que filosofa sobre o trabalho pra começar o ano?

Poli Lopes
5 min readJan 23, 2018

Uma das minhas metas pra 2018 é ler mais. Sim, eu sei que com as pesquisas de conteúdo, com as atualizações pro trabalho e também pras aulas e, claro, com a correria do doutorado, eu leio pra caramba. Mas necessariamente não são leituras que eu faço por prazer. É business, tão ligados?

Então, eu decidi no início do ano que eu leria — ou quem sabe releria, de acordo com meu humor — livros de outros assuntos. E faria, na medida do possível, resenhas sobre eles, exatamente pra registrar essas etapas.

Comecei, não sei porque, com Por que fazemos o que fazemos?, do Mario Sergio Cortella. Uma coisa que me chamou a atenção é que ele está na 26ª edição e foi lançado em 2016. Ou seja, uma média de 13 edições por ano. Em um país cujos índices de leitura quase dão traço, achei esse esse número interessante (embora saiba que ele, sozinho, ele não diz muito, porque podem ser tiragens bem pequenas).

Tá bom começar o ano olhando pra dentro, né?

Bem, nesse livro o foco do Cortella é trabalho. Ou, como vemos na capa, sobre as “aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização”. Dividido em capítulos cujos títulos são super auto-explicativos, ele fala sobre a nossa necessidade de termos um propósito (pro trabalho e, claro, pra vida!): precisamos de um “porque eu faço o que eu faço”, “aquilo que eu coloco adiante” e também um “porque eu deixo de fazer algo”.

Uma questão discutida por Cortella bem pesada e óbvia, por mais que a gente faça de conta que não é assim, é a de que o trabalho é o que nos define:

Somos seres que têm de construir a própria realidade. E a noção de trabalho é tão forte entre nós que perpassa outras esferas da nossa vida. Até a noção que temos de saúde está ligada à ideia do trabalho. Você só se considera saudável quando pode voltar a trabalhar, e não quando é capaz de passear, transar, cantar, dançar. (p.16)

O trabalho é mais do que um função que nos dá o dinheiro do sustento. Ele é elemento fundamental da nossa identidade. Todos os autores que li nos últimos anos reforçam a intrínseca relação entre identidade e alteridade, entre eu só saber quem eu sou a partir do momento que sei o que não sou. Então, como não sou — e não quero ser — vagabundo (ou preguiçoso ou encostado) sou trabalhador.

E esse capítulo?

Quando fala da nossa necessidade de um propósito, Cortella também reforça que a existência e o reconhecimento deste é uma forma de não alienar-se — ou seja, não fazer algo sem saber o por quê, não ser apenas a ferramenta que produz algo que não é meu / ou não é eu.

Ter esse propósito e, ao mesmo tempo, não se alienar, é ser o autor da própria vida. e é não ser egoísta, reconhecemos nossos propósitos quando eles colaborar com a minha vida e com a comunidade em que estamos inseridos (afinal, somos seres sociais, não é mesmo?).

O propósito é o que nos dá motivação para fazer, para seguir em frente. E, por isso, essa motivação tem que ser interior, ela vem de mim, de dentro, do íntimo. Ela não é um estímulo, porque esse vem de fora, é externo. Na verdade, como comenta o Cortella, a motivação é o que gera estímulos.

Sim, eu risco, grifo, escrevo nos livros. E às vezes ainda colo post-its!

Pra fechar esse texto, dois pontos que considero importantes.

O primeiro é a questão da rotina, que Cortella define como os procedimentos que fazem com que um processos se realize, aquela otimização que permite o bom uso do tempo. É interessante que normalmente associamos rotina a monotonia, porque ela nos lembra que fazemos tudo igual. E aí que vem o pulo do gato: repetir os procedimentos que nos levarão aos nossos objetivos, aqueles que estão ligados aos nossos propósitos, não pode (e não é!) ser monótono nem chato. Essa rotina faz parte do nosso projeto de vida.

Claro, todo mundo gosta de fazer o que gosta. Mas é preciso ter consciência de que no desenrolar da vida profissional, para fazer o que se gosta, é necessário passar por etapas não necessariamente agradáveis no dia a dia. O caminho não é marcado apenas por coisas prazerosas. (p.84)

Mas se a rotina é chata, talvez não estejamos fazendo algo que tenha relação com nossos propósitos. Ou seja, estamos alienados.

A outra questão, pra fechar, tem total relação com propósito, com não alienar-se, com motivação e rotina. Nós não queremos ser apenas mais um na empresa, no mundo. Buscamos pelo reconhecimento. É por isso que fazemos o que fazemos. Pode ser financeiro, pode ser o curso aquele que a empresa dá, pode ser um e-mail. Desde que esse reconhecimento venha e nos satisfaça. Esse reconhecimento tem total relação com a forma como mantemos nossos empregos, como escolhemos entre diferentes oportunidades. Somos leais às empresas? Sim, mas:

Eu serei leal se eu for cuidado. Mas o modo de ser cuidado mudou. (p.138)

Nesse sentido, indico a leitura não apenas a pessoas que querem entender sua relação com o trabalho, mas aos empresários e gestores que querem entender como manter uma equipe que realmente seja um time.

Curtiu? Dá umas palminhas aí! ;-)

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Poli Lopes

Produção de Conteúdo ⏺️ Professora de #mktdigital ⏺️ Doutora em Processos e Manifestações Culturais ⏺ Pesquiso SMM e cultura de massa ⏺ + em linktr.ee/polilopes