Grupo “anti-corrupção” terá candidato a prefeito pelo 2º partido mais citado na Lava Jato

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4 min readJun 21, 2016
Foto: Felipe Malavasi/Democratize

Após financiar a publicidade de manifestações do grupo, o PMDB será o partido escolhido pelo fundador do Movimento Brasil Livre para se candidatar à Prefeitura de Vinhedo, no interior de São Paulo. Hoje, o grupo pratica lobby político em defesa do presidente interino Michel Temer, também do PMDB.

O “negócio” do impeachment continua fervendo, mesmo após um mês do afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT).

Um dos fundadores do Movimento Brasil Livre, segundo grupo mais importante na organização das manifestações contra o governo petista, oficializou recentemente sua candidatura para a prefeitura da cidade de Vinhedo, localizada no interior de São Paulo.

Trata-se do advogado Rubinho Nunes, que ao lado de Renan Santos, participou da criação do grupo.

Mas a vida política não surgiu agora para Rubinho — sua família é conhecida na cidade, principalmente por conta do trabalho de seu pai, o vereador Rubens Nunes. Nas eleições de 2012, o então candidato recebeu cerca de 892 votos pelo PR (Partido da República), eleito por QP (quociente partidário). Ironicamente, em março deste ano, foi o PMDB o partido escolhido pelo vereador, se desligando do PR — se tornando companheiro de sigla junto ao filho.

Segundo reportagem da Carta Capital, documentos comprovam uma denúncia contra o vereador, por venda de produtos falsificados no ano de 2000.

Reprodução/Facebook

Para Rubinho, que junto com seus colegas do Movimento Brasil Livre levantaram bandeiras contra a corrupção para tirar o governo de Dilma Rousseff, isso não é problema. Tanto que se filiou e será candidato pelo 2º partido mais citado na Operação Lava Jato — a qual o grupo afirma apoiar.

Segundo levantamento do jornal O Globo, o PMDB fica atrás apenas do Partido Progressista (PP): 30 políticos envolvidos e citados contra 17. O partido escolhido por Juninho fica uma posição acima do PT, com 14 políticos envolvidos na investigação sobre desvios nas estatais.

Em reportagem na Folha de S. Paulo, fica claro o envolvimento de um empresário de Vinhedo na carreira política de Rubinho e Rubens: João Marcos Lucas, dono da Belenus do Brasil, uma indústria de parafusos na cidade e presidente do PMDB municipal. “Lançar Rubinho foi uma ideia minha e a aceitação dele está melhor do que eu podia imaginar”, disse o empresário para a reportagem da Folha.

Tanto o empresário quanto o pai de Rubinho chegaram a integrar a base do atual prefeito, Jaime Cruz (PSDB), que assumiu após a renuncia de Milton Serafim (PTB). O prefeito tucano, assim como seu antecessor, passa por dificuldades morais: em janeiro deste ano, a Justiça bloqueou bens de Jaime e de mais 14 réus por fraude. Trata-se de um esquema na compra de merenda escolar, que teria ocorrido entre os anos de 2011 e 2013, rendendo prejuízos avaliados em R$9 milhões, segundo o Ministério Público Federal.

Mas esses não são os únicos aliados da família Nunes em Vinhedo que estão em risco.

A própria empresa do parceiro e empresário João Marcos Lucas vive uma situação delicada, segundo levantamento feito pela Agência Democratize.

Várias ações legais exigindo indenização por dano moral contra a Belenus do Brasil estão atualmente na Justiça, além de processos no Tribunal Regional do Trabalho.

Figura importante do MBL, Kim Kataguiri ao lado de Jorge Gerdau, mega-empresário e nome cotado pelo Planalto para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico | Foto: Fernando Conrado

Com essa bagagem de polêmicas e casos de corrupção, um dos principais nomes do Movimento Brasil Livre pretende colocar as ideias e objetivos de seu grupo na política “oficialmente”.

O casamento com o PMDB, na realidade, vai muito além de questões regionais.

Uma reportagem publicada pelo UOL mostrou documentos e áudios comprovando o uso da máquina partidária do PMDB e do DEM pelo grupo anti-Dilma. O próprio partido de Michel Temer, através da Fundação Ulysses Guimarães, financiou a impressão de 20 mil panfletos para manifestações do MBL no dia 13 de março.

Sem mencionar o lobby político praticado pelo grupo anti-Dilma em defesa do governo interino — com postagens diárias defendendo a gestão de Michel Temer, e até mesmo convocando manifestações a favor do governo interino para o final de julho.

Tudo isso ocorre mesmo após o grupo, através da organização estrangeira Students for Liberty, ter recebido cerca de R$300 mil no caixa apenas em 2015 — além das doações que o Movimento Brasil Livre recebe de pessoas físicas.

Por diversas vezes, um dos líderes do grupo, Kim Kataguiri, foi questionado sobre o motivo do MBL não abrir seu caixa e mostrar com transparência de onde chegam as doações e investimentos. Mesmo com todas as denúncias contra o grupo até o momento, não foi feito nenhum esforço para tentar “desmentir” as reportagens citadas.

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