Waze se junta ao Uber contra o crime organizado

Leandro Demori
3 min readJul 7, 2015

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O Waze está testando uma nova funcionalidade: as caronas pagas. A notícia tem potencial para deflagrar proibições e batalhas campais como as geradas pelo Uber.

Os aplicativos são combatidos por taxistas porque provocam uma revolução no mercado legal. Há mais em jogo: eles também ameaçam destruir o poder de grupos de crime organizado, que controlam milhares de taxis em todo o mundo.

Vamos do princípio: o mercado legal tem problemas típicos de monopólios. Taxistas atendem mal. Parece que a descortesia faz parte da profissão. Um tom grosseiro em algumas cidades, postura agressiva em outras, voltas desnecessárias em quase todas. Eu já peguei taxis em São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Roma, Veneza, Budapeste, Praga, Paris, Viena e… bem, os padrões de comportamento se repetem em todo canto. Não são experiências isoladas. Quase todo mundo tem algo a reclamar, de Nova York ao Cairo.

Fiquemos no Brasil. Taxis são usados como garotos-propaganda nas campanhas de balada segura. “Se beber, vá de taxi.” Em muitas cidades que conheço, o risco de pegar taxi de madrugada me parece maior do que o de dirigir bêbado. Em Porto Alegre, onde morei por mais de uma década, prefiro dirigir sob efeito de heroína (dormindo) do que pegar taxi à noite. A estupidez e a imperícia dos motoristas é a regra, e me sinto fugindo num carro roubado após um assalto a banco.

Taxis são lojas ambulantes nas quais o vendedor cospe na tua cara. Há exceções, mas o padrão de comportamento faz o medo do Uber, e agora do Waze, justificado. Enfim surge na praça uma concorrência superior a preços competitivos. Eu também temeria perder clientes se agisse dessa forma.

Os donos de taxis temem por algo mais. Cada placa pode custar meio milhão de reais. O que aconteceria com esse bem caso o mercado se abrisse? O mesmo que aconteceu com linhas telefônicas. As placas passam a valer nada. Devemos nos preocupar em manter o valor das placas de poucos ou em qualificar e diversificar um serviço para muitos?

O mercado fechado inflaciona o valor das placas — é precisamente isso que gera banditismo.

No Brasil, algumas pessoas são donas de 100, ou 150, ou centenas de taxis. É ilícito, mas todo mundo faz. E, claro, não dá nada.

Qualquer motorista pode contar como o sistema funciona: cada condutor paga um valor fixo por dia de trabalho, em dinheiro vivo, direto para a quadrilha (chame do nome certo: quadrilha). Esse dinheiro não gera impostos — é grana suja. Os carros estão em nomes de laranjas. O recrutamento de motoristas não tem qualquer critério, o que fortalece a cadeia do crime. Nada diferente de todas as corrupções que conhecemos. Crime organizado.

É claro que Uber e Waze não são tábuas de salvação das cidades. Sugiro a leitura deste texto, com boas ponderações a respeito. Uma guerra se avizinha. As batalhas mal começaram.

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