A polícia de São Paulo se tornou a “máquina política” de Alckmin
Ao reprimir o acampamento montado por manifestantes nas proximidades da residência de Michel Temer em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) mostra como funciona o termo “dois pesos, duas medidas” no estado: ocupação na Fiesp já dura mais de 2 meses com apoio e proteção da Polícia Militar.
Neste domingo (22), a Frente Povo Sem Medo — composta por movimentos sociais, sindicais e estudantis — realizou uma grande manifestação contra o presidente interino Michel Temer em São Paulo.
Com concentração no Largo da Batata, o objetivo do ato era realizar um “escracho” em frente à casa de Temer, localizada no bairro nobre do Alto de Pinheiros. Mais de 30 mil pessoas participaram da caminhada. Porém não foi tão fácil assim.
Desde cedo o governo estadual já havia montado uma “operação” para blindar Temer e sua residência.
O presidente interino, sabendo da manifestação, chegou a adiantar sua viagem para Brasília, saindo de sua casa às 14 horas.
Policiais fecharam a rua onde fica a casa de Michel Temer, proibindo o acesso pelos manifestantes e dificultando até mesmo a entrada e saída dos moradores, gerando críticas por parte da vizinhança.
A manifestação chegou ao local e logo foi impedida de prosseguir.
No carro de som, o coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) denunciou a atitude do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que blindou ao máximo o presidente interino utilizando a máquina de repressão do Estado contra uma manifestação pacífica e democrática.
Mas o pior ainda estava por vir.
Os manifestantes, impedidos de realizar o protesto em frente à casa de Temer, resolveram acampar nas proximidades.
Segundo informações do Guilherme Boulos, pelo menos 200 pessoas armaram as barracas e decidiram resistir contra uma possível violência da polícia — que não demorou muito a vir.
Com dois caminhões novos do Batalhão de Choque, a polícia decretou que o acampamento deveria ser desmontado até às 23h45.
Após uma assembleia entre os manifestantes, ficou decidido que ninguém deveria sair do acampamento. A proposta era resistir contra a violência policial.
Neste meio tempo, Boulos criticou o que chamou de “uso da máquina policial para fins políticos” do governador Alckmin: “O ministro da Justiça já não é mais secretário de Segurança Pública de São Paulo, mas mesmo assim ainda manda na repressão contra as manifestações pacíficas no estado”, disse em entrevista.
E de fato, estava certo em seu argumento.
Por mais de 2 meses, um acampamento “pelo impeachment de Dilma” se mantém em frente ao prédio da Fiesp, na Avenida Paulista. Nas primeiras semanas, era rotineiro o fechamento de vias na avenida pelo grupo de manifestantes, que é calculado em 30 pessoas.
Em determinado momento, os manifestantes anti-Dilma chegaram a fechar as vias da Avenida Paulista por mais de 48 horas sem qualquer tentativa de liberação do local. Pelo contrário, o então secretário Alexandre de Moraes chegou a tentar dialogar com o grupo de manifestantes, sendo expulso poucos minutos depois.
E só depois de 48 horas que a polícia foi ativada para liberar as vias da Paulista, com um caminhão de água contra os manifestantes.
Na casa de Temer, a ocupação não durou nem 6 horas.
Mesmo com crianças e mulheres no local, a Tropa de Choque foi acionada e reprimiu duramente a manifestação pacífica contra o presidente interino.
Os manifestantes resistiram, sentados no chão e com gritos contra Michel Temer.
Do lado da polícia, bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água foram utilizados.
A violência da polícia neste domingo mostrou claramente o uso político da máquina de segurança pública do estado de São Paulo, a partir dos interesses do governo estadual de Geraldo Alckmin — novo aliado do presidente interino Michel Temer. Seu partido, o PSDB, ocupa pastas importantes na nova administração em Brasília, com destaque para o ministro das Relações Exteriores, o ex-governador José Serra.
A partir do momento em que a Polícia Militar se torna uma polícia política, agindo institucionalmente na prática de atos ilegais e inconstitucionais, é hora de refletir sobre como o atual cenário político pode se tornar cada vez mais complexo e caótico.
Texto por Francisco Toledo, co-fundador e fotojornalista da Agência Democratize