O drug lab da deep web

Bem-vindo ao laboratório do DoctorX, onde as drogas que você compra online são testadas

João Brizzi
Revista Poleiro

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Por Joseph Cox
Tradução por João Brizzi

Em uma mesa dentro de um laboratório de química em Barcelona, Cristina Gil Lladanosa faz uma incisão em um envelope prateado e inodoro. Ela retira de dentro dele um saco transparente cheio de cristais. À sua volta, máquinas preenchem o ambiente com seus zunidos enquanto pesquisadores andam para lá e para cá em seus longos casacos brancos.

O que ela tem em mãos é a mais recente encomenda chegada ao laboratório de alguma droga comprada na deep web, o lado clandestino da internet que não pode ser acessado por motores de busca comuns e que é a casa de sites que exigem softwares especiais para serem visualizados. Rotulada como MDMA (o termo usado nas ruas é ecstasy), a amostra foi mandada do Canadá. Além do país da folha de bordo, Lladanosa e seu colega Iván Fornís Espinosa já receberam drogas anonimamente de pessoas da China, Austrália, Europa e Estados Unidos.

“Aqui no laboratório temos speed, MDMA, cocaína e balas”, diz Lladanosa enquanto aponta para recipientes cheios de soluções vermelhas, verdes, azuis e incolores guardadas em caixas devidamente identificadas.

Cristina Gil Lladanosa no laboratório de testes, em Barcelona. Foto: Joan Bardeletti

Desde 2011, com o lançamento do Silk Road, qualquer um se tornou capaz de comprar seguramente drogas ilegais pela deep web e tê-las entregues em sua porta. Ainda que o FBI tenha fechado o site em outubro de 2013, outras lojas surgiram para atender à demanda. Nos últimos 10 meses, o laboratório onde Lladanosa e Espinosa trabalham ofereceu um serviço pago para testar essas drogas. Enviando amostras para análise, os usuários podem saber o que exatamente estão comprando e, assim, decidir melhor se utilizarão ou não as substâncias. O grupo, chamado Energy Control, tem realizado programas de “redução de danos” desde 1999 e é o primeiro a propor um serviço explicitamente voltado à verificação de drogas da deep web.

Antes de entrar para o Energy Control, Lladanosa teve uma breve passagem por uma farmácia; Espinosa, por sua vez, trabalhou por 14 anos com análise de substâncias ilícitas. Para Cristina, o trabalho no Energy Control é “mais gratificante” e “recompensador” do que seu emprego anterior. Eles também recebem ajuda de um grupo de voluntários formado por “intrusos”, como Espinosa gosta de chamar, e estudantes de medicina responsáveis por preparar as amostras antes de cada análise.

Depois de pesar os cristais, batê-los com força para dissolvê-los completamente junto do metanol e delicadamente colocar o líquido resultante em uma pequena garrafa marrom, Lladanosa, pequenina dentro de seu jaleco, está pronta para testar a amostra. Ela preenche três bandejas no topo de um grande aparelho branco em cima de uma mesa chamado cromatógrafo gasoso (GC). Um emaranhado de tubulações liga a máquina ao teto do laboratório.

Foto: Joan Bardeletti

Enquanto carrega o engenhoso equipamento com as drogas recebidas da deep web e de usuários locais, Lladanosa explica que “o cromatógrafo separa todas as substâncias”. Ele nos mostra se a amostra está pura ou não e, se contaminada, nos diz qual é a substância que não deveria estar ali.

Sopros de ar quente sobrevoam a sala enquanto o cromatógrafo superaquece a amostra a 280 graus Celsius. Trinta minutos depois, o braço mecânico da máquina se move automaticamente para pegar outra garrafa. Ele continuará fazendo tal esforço em mais de 150 amostras colocadas naquelas mesmas bandejas durante toda a semana.

Foto: Joan Bardeletti

Para que as drogas cheguem até Barcelona, o usuário deve enviar pelo menos 10 miligramas da substância que tem em mãos para o escritório da Asociación Bienestar y Desarrollo, a organização não governamental que superviosiona o Energy Control. A amostra é levada, então, ao laboratório de testes no Barcelona Biomedical Research Park, um prédio futurista de sete andares a alguns metros de distância da praia, onde o Energy Control pode usar gratuitamente toda a infraestrutura dos laboratórios.

Os testes custam 50 euros por amostra. Os usuários pagam — adivinhe só — com bitcoins. Em sua postagem anunciando o serviço oferecido pelo Energy Control na deep web, o grupo assegurou que “todo o lucro obtido com o serviço é voltado para a manutenção do projeto”. Cerca de uma semana após os testes, os resultados são enviados em PDF para o e-mail informado pelos clientes anônimos.

“Por cair na rotina, o processo se torna muito chato”, diz Lladanosa. Mas uma parte dessa rotina é sempre surpreendente: o momento em que os resultados aparecem na tela. “Toda vez acontece algo diferente.” Por exemplo: uma amostra de cocaína que ela testou continha fenacetina, um analgésico misturado à droga para aumentar seu peso, lidocaína, um anestésico que adormece as gengivas, dando ao usuário a impressão de que ele está usando uma droga de maior qualidade, e cafeína.

O drug lab da deep web é uma idealização do médico espanhol Fernando Caudevilla, mais conhecido como “DoctorX” na rede. O apelido surgiu dentro do próprio Energy Control por conta de seus estudos e artigos sobre a história, os riscos e a cultura recreacional do MDMA. No mundo físico, Caudevilla trabalha há mais de uma década para o Energy Control em diversos projetos com foco na redução de danos, sendo a maioria deles responsável por dar orientação médica aos usuários de drogas ilegais na Espanha, produzindo também panfletos sobre os perigos de certas substâncias.

Fernando Caudevilla, o DoctorX. Foto: Joseph Cox

Caudevilla participou pela primeira vez dos fóruns de discussão do Silk Road em abril de 2013. “Eu gostaria de contribuir com este fórum oferecendo aconselhamento profissional em tópicos relacionados ao uso de drogas e saúde”, disse ele, usando o codinome DoctorX, em seu post introdutório. Caudevilla se ofereceu para responder perguntas que um médico comum não está preparado — ou mesmo não quer — responder. Ao menos não sem um discurso ou julgamento. “Esse aconselhamento não pode substituir uma avaliação médica completa cara-a-cara, mas eu sei o quão difícil pode ser conversar francamente sobre essas coisas.”

Choveram respostas. Um diabético perguntou que efeito o MDMA teria no nível de açúcar em seu sangue; outro usuário perguntou quais eram os riscos do uso frequente de drogas psicodélicas para uma pessoa jovem. Chegaram até a perguntar o quanto o uso de anfetaminas deveria ser evitado durante o período de amamentação. No fim, o tópico de Fernando recebeu mais de 50.000 visitas e 300 questões antes do FBI derrubar o Silk Road.

“Ele é fantástico. Uma dádiva dessa comunidade”, escreveu um usuário no fórum Silk Road 2.0, site que sucedeu o original. “Seu conhecimento é inestimável e nunca vem acompanhado de julgamentos.” Até pouco tempo atrás, Caudevilla ainda respondia perguntas em outro mercado, o Evolution, mas os administradores do site deram um golpe em seus usuários, cortando os serviços oferecidos e sumindo do mapa com cerca de 12 milhões de dólares em bitcoins.

A transição de ir paulatinamente deixando os conselhos de lado para começar a realizar testes anônimos de drogas foi uma consequência da experiência de Caudevilla na deep web. Ele passou a refletir sobre como poderia fornecer ainda mais serviços de redução de danos em um ambiente de negociações sem regulamentação. O Energy Control, como parte de sua função de educar usuários de drogas e prevenir malefícios excessivos, já realizava testes de drogas para usuários locais desde 2001 em festivais de música, boates ou em um laboratório em Madri.

“Eu pensei: se estamos fazendo isso na Espanha, por que não fazer um serviço de teste de drogas internacional?”, disse Caudevilla durante minha visita ao outro laboratório do Energy Control, na capital espanhola. Caudevilla, uma figura truculenta, de cabeça raspada e piercings na orelha, não consegue esconder o brilho que surge em seus olhos toda vez que alguém discute o mundo da deep web. Mais tarde, por e-mail, ele admitiu que não tinha sido difícil convencer seus chefes. Claramente, o Energy Control acreditou que a reputação por ele adquirida na internet como um médico sem preconceitos poderia melhorar a imagem do serviço de análise, onde eles precisavam estabelecer, segundo o médico, “credibilidade, confiabilidade e transparência”. Ele ainda pontuou: “nós não podíamos cometer erros”.

Foto: Joseph Cox

Enquanto o laboratório do Energy Control em Madri só testa drogas espanholas vindas dos mais diversos lugares do país, é em Barcelona que as substâncias vindas dos cantos obscuros da internet são verificadas. Caudevilla já não coordena mais o espaço, tendo passado o bastão para sua colega Ana Muñoz, mas ela também mantém presença nos fóruns da deep web, responde questões de usuários em potencial e envia os relatórios assim que eles ficam prontos.

O programa de testes reside em uma zona cinza da lei. Os donos do laboratório de Barcelona têm a autorização para realizar experimentos com as drogas, mas o Energy Control em si não tem uma permissão específica. Ao menos não uma claramente estabelecida.

“Nós temos um acordo verbal com a polícia e outras autoridades. Eles estão cientes do que estamos fazendo”, me disse Lladanosa. É um pacto de benefício mútuo. O Energy Control dá à polícia informações sobre os carregamentos de drogas na Espanha, sejam eles da deep web ou não. Eles também contribuem com o European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA) e seu sistema de avisos, uma parceria que tenta espalhar informação sobre drogas perigosas o mais rápido possível.

Na época da minha visita, em fevereiro, o Energy Control já tinha recebido mais de 150 amostras da deep web e continuava recebendo mais, variando entre 4 e 8 por semana. Drogas tradicionais como a cocaína e o MDMA representam cerca de 70% das amostras testadas, mas o laboratório também recebe codeína, produtos químicos utilizados em pesquisas, canabinóides sintéticos e até mesmo pílulas de Viagra.

Foto: Joan Bardeletti

Com essas informações, é justo tentar chegar a um veredicto sobre o que as pessoas estão comprando na deep web. E, na maior parte dos casos, as drogas compradas na rede tendem a ter uma qualidade muito superior às compradas nas ruas.

“Em geral, a cocaína é fantástica”, diz Caudevilla, explicando que as amostras que eles receberam têm pureza de até 80 ou 90%, às vezes até ultrapassando tais valores. Para ter uma ideia do quão impressionante é essa informação, dê uma olhada no Relatório Mundial sobre Drogas de 2014 da ONU, que aponta, sobre a cocaína que circula nas ruas da Espanha, uma pureza de 40%, enquanto no Reino Unido ela fica mais perto dos 30%. “Nós já achamos cocaína 100% pura. Isso é muito, muito estranho. Significa que, tecnicamente, essa cocaína foi purificada em métodos clandestinos.”

É natural que identificar os vendedores que fornecem drogas de maior qualidade é uma das razões pelas quais as pessoas têm enviado amostras para o Energy Control. Caudevilla sempre reforça que, oficialmente, o serviço oferecido “não se destina a ser um controle de qualidade das drogas”. Em termos práticos, há um veto deliberado a identificar os best sellers, mas é exatamente por isso que algumas pessoas têm o utilizado.

Em uma mensagem de um comprador chamado elmo666 no Evolution, ele me disse: “Minhas motivações iniciais eram egoístas. Minha maior motivação era a de garantir que eu estava e continuaria recebendo um produto de alta qualidade, essencialmente para ter uma relação honesta com o vendedor”.

Os vendedores nas lojas da deep web anunciam seus produtos como qualquer outra loja faz, usando promoções relâmpago, amostras grátis e a promessa de que suas drogas são superiores às de seus competidores. As afirmações, no entanto, podem acabar se mostrando vazias: ainda que os resultados de testes mostrem que os vendedores de cocaína da rede costumam fornecer um produto de melhor qualidade do que o das ruas, em muitos casos a droga não passa nem perto de ter a pureza anunciada.

“Você não vai chegar NEM PERTO do que pagou para ter”, reclamou um usuário sobre a cocaína de Mirkov, um vendedor do Evolution. “Ele vende 65%, e não 95%.”

Foto: Joan Bardeletti

Apesar do predomínio de pessoas usando o serviço para medir a qualidade do que é aspirado para dentro de seu nariz, muitos usuários enviam amostras para o Energy Control seguindo o espírito de sua missão original: se manterem vivos e saudáveis. O pior cenário de compra de drogas na deep web é, de fato, o pior que poderia se imaginar. Aconteceu quando Patrick McMullen, um estudante escocês de 17 anos, ingeriu meio grama de MDMA e três papéis de LSD que teriam sido comprados no Silk Road. Enquanto conversava com seus amigos no Skype, sua fala ficou embaralhada e ele desmaiou. Os médicos socorristas não conseguiram reanimá-lo. O legista que analisou o caso e determinou um excesso de substâncias tóxicas originárias do ecstasy como causa da morte comentou o ocorrido no The Independent: “Você nunca sabe a pureza do que está tomando e pode muito facilmente passar dos limites”.

ScreamMyName, um usuário da deep web que é ativo desde os tempos do Silk Road original, tem como objetivo alertar os outros usuários sobre os perigosos produtos químicos que são frequentemente misturados às drogas e vê o Energy Control como um meio de realizá-lo.

“Vivemos uma época em que alguns vendedores estão enviando veneno para as pessoas o tempo todo. Alguns sem nem saber que estão o fazendo”, disse ScreamMyName em uma mensagem criptografada. “A produção de cocaína na América do Sul frequentemente passa por misturar levamisol ou fenacetina às drogas. Ambos são tóxicos para os humanos e têm efeitos colaterais muito graves.”

No caso do levamisol, a droga é normalmente prescrita por veterinários, não por médicos comuns, já que a substância é comumente usada no combate a vermes em animais. Se ingerido por humanos, o levamisol pode levar a casos extremos de erupções na pele, fator documentado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco.

A substância foi encontrada por Lladanosa em amostras de cocaína. Os traficantes a utilizam para aumentar o peso do produto, permitindo que eles lucrem mais para cada carregamento vendido, e também para aproveitar as fortes propriedades estimulantes do levamisol.

“Me deixou maluco pra caralho”, disse Dr. Feel, um usuário do Evolution, após consumir cocaína que, após testada pelo Energy Control, mostrou ter 23% da substância tóxica. “Eu fiquei de cama por vários dias por conta daquela merda. Na primeira noite, achei que iria morrer. Quase fui parar no pronto-socorro.”

“Mais pessoas morrem por conta de drogas impuras do que pelas drogas propriamente ditas. São os produtos adulterantes que estão deixando pessoas doentes e as matando.”, finalizou Dr. Feel.

Foto: Joan Bardeletti

Os casos de cocaína misturada com levamisol têm particularmente incentivado ScreamMyName a fazer campanha por um maior número de testes de drogas nos mercados da deep web. “Eu reconheço que o uso de drogas não é exatamente saudável, mas por que exacerbar o problema?”, me disse ele quando o contatei depois de sua postagem. “[O Energy Control] fornece aos usuários uma maneira de testar as drogas que eles utilizarão e saber o que eles estão colocando em seus corpos. Esse tipo de serviço é muito escasso.”

Depois de realizar, ele mesmo, um bom número de testes no Energy Control, ScreamMyName começou uma campanha de financiamento coletivo para que mais drogas fossem enviadas ao laboratório e, após conseguir algum dinheiro para tirar a ideia do papel, compartilhou todos os resultados. Ele criou uma carteira de bitcoins com a esperança de que os usuários financiem testes futuros. Durante a elaboração desta matéria, a carteira já tinha recebido um total de 1,81 bitcoins, o que corresponde a cerca de 430 dólares no câmbio atual.

Em posts na comunidade do Evolution, ScreamMyName defendeu o projeto como algo que beneficiará os usuários e garantirá a honestidade dos traficantes. “Quando os fundos forem suficientes para comprarmos um teste do Energy Control nós faremos, por alguns dias, uma enquete nos Estados Unidos para decidir de maneira coesa qual vendedor será testado.”

Foto: Joan Bardeletti

Outros membros da comunidade também têm ajudado. PlutoPete, um vendedor do Silk Road original que distribui sementes de cannabis e outros itens legalizados, cedeu a ScreamMyName amostras para serem testadas em Barcelona. Ao telefone, PlutoPete deu mais detalhes sobre as amostras: “É uma caixa cheia de saquinhos com diferentes proteções contra a umidade. Isso é tudo que os vendedores usam.”

Até agora, é um programa modesto. ScreamMyName disse já ter conseguido financiamento público suficiente para pagar cinco testes no Energy Control além dos dez que ele pagou do próprio bolso. “O programa ainda está dando seus primeiros passos e vai mudando com o passar do tempo, mas tenho muita fé no que estamos fazendo.”

O espírito é contagioso: elmo666, o outro usuário da deep weeb que testou sua cocaína, originalmente guardou os resultados de seu teste para si mesmo mas, por fim, acabou enxergando o benefício de distribuir os dados. “É óbvio que este é um serviço útil para outros usuários, mantendo os vendedores honestos e as drogas (e seus usuários) seguros”, disse ele. Seus dados também passaram a ser compartilhados com outros usuários nos fóruns, fazendo com que ele criasse um tópico reunindo os resultados de diversos testes e os comentários dos traficantes que venderam as drogas testadas. Os membros do fórum logo passaram a guiar suas decisões pelos resultados dos testes de elmo666.

“Eu definitivamente vou usar uma das drogas que o incrivelmente solícito elmo avaliou e recomendou em seus testes”, escreveu o usuário jayk1984. Em cima disso tudo, elmo666 planeja lançar um site independente na deep web que coletará todos os resultados e servirá como um recurso para usuários de diversas lojas.

À medida que a palavra de elmo666 se espalhava, ele começou a receber pedidos de traficantes que queriam usá-lo para testar seu produto. Eles logo perceberam que um resultado positivo no Energy Control seria uma estratégia de marketing fantástica para atrair mais clientes. Elmo até mesmo recebeu ofertas de amostras grátis, mas preferiu recusá-las.

Enquanto isso, algumas pessoas na comunidade de compras começaram a argumentar que as próprias lojas do mercado negro da deep web deveriam oferecer serviços de controle de qualidade. PlutoPete, inclusive, declarou já ter discutido isso com Dread Pirate Roberts, o pseudônimo do dono do Silk Road. “Nós já conversávamos sobre o assunto de uma maneira mais organizada no Silk Road 1, fazendo diversas compras anônimas para policiar cada categoria. Acontece que eles acabaram derrubando a coisa toda [o Silk Road] antes que pudéssemos mostrar os resultados do nosso esforço”, lamentou.

De qualquer forma, talvez seja melhor que os usuários que estão de fato consumindo as drogas continuem encarregados de falar sobre os traficantes e ajudarem-se. “É nossa responsabilidade fiscalizar o mercado com base em avaliações e feedback”, escreveu elmo666 no Evolution. Parece que na terra sem lei da deep web, onde coisas que vão desde pornografia infantil até armas de fogo são abertamente vendidas, os usuários têm cooperado num esforço orgânico de autorregulamentação para marcar a mercadoria que pode causar mais danos aos compradores.

“A deep web sempre foi assim”, disse PlutoPete. Confirmando a afirmação, é fato que, desde o Silk Road, a estabilidade dos mercados de drogas tem se dado em cima de um sistema de avaliações onde os compradores podem dizer o que acharam da droga e deixar seu feedback para os vendedores, fazendo com que os outros saibam mais sobre a confiabilidade do traficante. O laboratório do DoctorX, testando rigorosamente os produtos de maneira científica, leva essa mentalidade um passo adiante.

Foto: Joan Bardeletti

“No mercado comum existe controle de qualidade. No mercado negro deveria ocorrer o mesmo”, disse Cristina Gil Lladanosa pouco antes de eu deixar seu laboratório em Barcelona.

Uma semana depois de minha visita, os resultados sobre o MDMA chegaram à minha caixa de entrada: ele era 85% puro, sem indícios de outros ingredientes ativos. Seja lá quem encomendou aquela amostra de alguma prateleira virtual na deep web, essa pessoa teve entregue, na porta de sua casa no Canadá, uma droga realmente boa e relativamente segura. E, agora, essa pessoa sabe disso.

Foto de capa por Joan Bardeletti

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João Brizzi
Revista Poleiro

Designer e jornalista no The Intercept Brasil. Antes, trabalhei na revista piauí e fundei a Revista Poleiro.