A greve dos professores do Rio continua e ato termina em repressão na Alerj

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4 min readJul 20, 2016
Foto: Wagner Maia/Democratize

Numa paralisação próxima a completar 5 meses, professores da rede estadual de educação do Rio de Janeiro, decidiram numa assembleia lotada, pela continuidade da greve. Em seguida houve um ato na ALERJ para acompanhar a votação da proposta de rediscussão de Lei de Diretrizes Orçamentárias desse ano, onde os mesmos foram fortemente reprimido pela polícia.

Por Bárbara Dias

No Rio de Janeiro, podemos afirmar que a categoria da educação é uma das mais aguerridas, em se tratando da organização, mobilização e greves, pois sempre esteve envolvida em grandes lutas históricas no Estado. Em 2016 a greve da rede estadual da educação se configura também histórica, pela grande adesão de profissionais e pela sua duração de mais de 4 meses.

A extensão da greve, certamente, encontra explicação na falta de interesse de negociação das pautas econômicas dos professores, que tentam negociar o cumprimento da lei de 1/3 de planejamento e um reajuste salarial de 30%. Segundo o sindicato da categoria, as perdas salariais desde o início do governo do PMDB no Rio de Janeiro, já chegam próximo a 70%. Apesar do entrave na negociação das pautas econômicas, a greve conseguiu também junto com o movimento estudantil de ocupações alguns ganhos muito positivos, como a eleição direta para direção escolar e fim da avaliação diagnóstica do Saerj.

Foto: Bárbara Dias/Democratize

Na tarde desta terça (19), após aprovarem a continuidade da greve em assembleia, os profissionais da educação se dirigiram para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), para acompanhar uma sessão que iria rediscutir a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016, com o objetivo de rever o orçamento do Estado do Rio, que aponta um déficit de R$ 17 bilhões este ano. Segundo representantes do sindicato, as mudanças no texto da LDO poderiam abrir um precedente para o governo demitir servidores.

Na Alerj, professores e demais servidores que estavam interessados em acompanhar a sessão, foram impedidos de entrar, sob a alegação de que as plenárias da casa já estavam repletas. Houve uma pressão dos manifestantes para entrar mesmo assim, e os seguranças reagiram com agressões, jatos de extintores de incêndio e spray de pimenta. A polícia foi chamada e praticamente cercou o Palácio de Tiradentes, num forte esquema de segurança.

Foto: Wagner Maia/Democratize

Do lado de dentro da Alerj, os servidores que conseguiram entrar na plenária, protestavam contra a rediscussão da LDO e hostilizavam o deputado e presidente da Assembleia Jorge Picciani (PMDB) que foi chamado de chamado de “escravocrata”, já que sobre ele constam denuncias do uso de trabalho escravo em suas fazendas. Enraivecido, Picciani mandou que as galerias fossem esvaziadas e o Batalhão de Choque foi acionado. Segundo relato de uma professora que assistia a sessão:

“Hoje na ALERJ vivemos de muito perto o que é a indiferença! Enquanto professores eram empurrados e agredidos nas galerias pelo choque, deputados e assessores no plenário observavam de braços cruzados como se estivessem assistindo a uma cena normal! Fomos colocados a força para fora da “casa do povo” enquanto assistíamos as defesas das emendas ao PL 1975 que reduz metas orçamentárias podendo por tabela afetar a estabilidade do servidor público! Também como bonecos impassíveis ouviram todos os insultos a eles desferidos! Já estamos com nossos salários congelados desde 2014, tivemos nossos décimo terceiro parcelado em 5 vezes, nossos salários atrasados, descontados, perspectiva de não receber a partir de setembro e sem reajuste até 2019! Temos motivos de sobras para permanecermos na luta! Nem um direito a menos!” (Professora Vivane Coelho em sua página no facebook).

A rua em frente a Alerj também foi ocupada pelos manifestantes que atearam fogo num boneco do governador interino Francisco Dornelles. Após toda essa pressão dentro e fora da Alerj, o protesto de servidores públicos levou à suspensão da sessão da Alerj com a garantia de Jorge Picciani, que a rediscussão da LDO não traria riscos para os funcionários públicos estatutários.

Foto: Bárbara Dias/Democratize

Bárbara Dias é professora e fotojornalista pela Agência Democratize no Rio de Janeiro

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