Enquanto a GCM retira cobertores, moradores se mobilizam para ajudar população de rua

eDemocratize
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5 min readJun 18, 2016
Foto: Gustavo Oliveira/Democratize

Após a polêmica envolvendo a prefeitura de São Paulo com a Guarda Civil Metropolitana (GCM), retirando cobertores dos moradores de rua no Centro e causando cerca de 7 mortes ocasionadas pelo frio até o momento, a população se mobiliza com doação de cobertores e roupas, além de alimentação quente para as pessoas em condição de rua.

Não é só de tristeza e indignação que os paulistanos receberam a notícia de pelo menos 7 moradores de rua mortos por conta do frio que tomou conta da cidade nos últimos dias.

Após a prefeitura e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) retirar os cobertores dos moradores de rua no centro da cidade, é a população que tem se mobilizado para denunciar e ajudar as pessoas mais fragilizadas pelo rigoroso inverno.

Acompanhamos o trabalho feito por duas jovens: Suellenn Portilho e Camila Lira, que sensibilizadas pelas notícias, se mobilizaram com colegas para realizar ações no sentido de ajudar a população de rua.

Com um trabalho que durou cerca de 3 dias, mais de 30 pessoas atenderam ao chamado de Camila e Suellenn entregando cobertores, roupas e marmitas para os moradores de rua na região da Baixada do Glicério e na Avenida São João.

Foram cerca de 150 marmitas e vários cobertores e peças de roupa, fruto de doações por parte da vizinhança, amigos e colegas, além de desconhecidos através das redes sociais.

Fotos: Gustavo Oliveira/Democratize

Segundo Suellenn, que trabalha com organização de eventos, é a primeira vez que ela realiza esse tipo de ação, sensibilizada pelas mortes ocasionadas pelo frio neste mês de junho na capital. Ao Democratize, ela contou que não pretende parar por ai: para este domingo (19), mais uma ação com cobertores de roupas de frio deve ocorrer, além da entrega de hot dogs para a população de rua no Centro, que deve acontecer durante a semana.

Tudo isso organizado de forma espontânea, pela própria população, diante da falta de ações positivas por parte da prefeitura de Fernando Haddad (PT) com a população de rua.

Na noite de quinta-feira (16), foram mais de 150 moradores em condição de rua que receberam a ajuda.

Foto: Gustavo Oliveira/Democratize

Questionada sobre a ação da GCM em retirar os cobertores dessa população fragilizada em pleno começo de inverno, Suellenn disse que foi “desumana” a ação da prefeitura. A organizadora de eventos diz que na Baixada do Glicério, por exemplo, é algo rotineiro os guardas municipais tratarem do hostilidade os moradores de rua, não só retirando seus cobertores, como também tentando expulsar essa população do local. Para ela, isso é uma prática que justifica a tentativa da prefeitura de não permitir a “refavelização” da cidade, como foi dito pelo prefeito Fernando Haddad em entrevista nos últimos dias.

Um morador de rua ainda teria dito durante a ação na quinta-feira que os números apresentados pela mídia e pela prefeitura são “mentirosos”.

Segundo Suellenn, o rapaz afirmou que não foram 7 os mortos de frio nos últimos dias, e sim 27. Número similar ao que foi apresentado pelo padre Julio Lancellotti, da Pastoral Povo de Rua, durante manifestação em defesa do povo de rua na Praça da Sé — segundo o padre foram 25 os mortos, após obter informações com o IML (Instituto Médico legal).

Foto: Gustavo Oliveira/Democratize

Existe uma dificuldade em saber realmente quantos moradores de rua acabaram favelecendo nos últimos dias por conta do frio na cidade.

A Pastoral Povo de Rua acompanhou, desde o começo da semana passada, pelo menos 7 casos onde registraram mortes ocasionadas pelo frio na capital. Para Suellenn, independente do número oficial, “sete pessoas em condição de rua morrerem por causa do frio já é muito”, disse ao Democratize.

Também na quinta-feira, o prefeito Fernando Haddad realizou uma coletiva de imprensa na prefeitura para explicar sobre a ação da GCM em retirar os cobertores da população de rua. Admitiu que existe uma postura que deve ser criticada por parte dos guardas municipais, mas tratou como se fosse um “caso isolado”, e não necessariamente um padrão adotado por ordens da prefeitura de São Paulo.

O Observatório do Povo de Rua divulgou locais específicos para a doação de cobertores, roupas e material de higiene pessoal na tentativa de ajudar a população de rua. Veja os endereços abaixo.

1. Casa de Oração do Povo da Rua de SP
Rua Djalma Dutra, 3 — Luz
(11) 3228–6223
(11) 3315–8168

2. Missão Belém
Rua Doutor. Clementino, 608, Belém .
(11) 2694–2746

3. Paróquia São Miguel Arcanjo
Rua Taquari, 1.100
São Paulo — SP
CEP 03166–001
Tel (11) 2692–6798

4. Missão Voz dos Pobres
Rua Ariaps, n 202 km 13 da Raposo
Av. Nossa Senhora da Assunção, n 1119 Jd. Bonfiglioli
Rua Bartolomeu Veneto, n 203 Vila Tiradentes
Rua Guajarauna, n 157 Rio Pequeno

Entenda o caso, no teaser da vídeo-reportagem por Fernando DK e Alice V, para o Democratize:

Veja mais fotos da ação feita na quinta-feira, por Gustavo Oliveira.

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