Crítica | O Escândalo erra feio em seu formato

O trio formado por Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie relembra casos de assédio sexual envolvendo chefão da Fox News

Victor Malveira
Reviews on Time
3 min readApr 23, 2022

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Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie em O Escândalo (Divulgação) Reviews on Time
Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie em O Escândalo (Divulgação)

O Escândalo prometia ser um daqueles filmes excelentes, pois havia uma trama interessante baseada em acontecimentos reais e um elenco estrelado. Infelizmente, erros comprometem o potencial que a história carregava.

O foco dos acontecimentos é no ano de 2016, mesmo ano da eleição presidencial americana e é o ponto inicial do filme. É a partir daí que somos apresentados a Megyn Kelly (Charlize Theron), uma das principais âncoras da Fox News.

Essa parte do embate entre Trump e Megyn já demonstra uma das nuances do que seria abordado ao longo do filme. As duas outras personagens responsáveis por nos conduzir são Gretchen Carlson (Nicole Kidman) e Kayla (Margot Robbie), personagem fictícia.

A política e a relação do canal com o conservadorismo e Trump é secundário e superficial. O ponto central de O Escândalo são os abusos sexuais cometidos pelo chefão da Fox News Roger Ailes (John Lithgow) contra várias funcionárias do canal.

É bem óbvio que o assunto é sério e delicado, então o filme e tom adotado deveria ir ao encontro do formato e jeito escolhido para abordar o problema corretamente. Porém o diretor Jay Roach opta por algo estilo Adam McKay, o que obviamente não foi uma boa escolha.

O estilo de McKay é marcado por sátiras e humor ácido em um filme de farsa repleto de personagens caricatos. Tal estilo não combina com o que os acontecimentos por trás do filme, exceto, talvez, com início, onde a dinâmica do canal é explicada.

Esse estilo acaba por muitas vezes contradizer a importância da mensagem que o ato das jornalistas da Fox News carregava. Um exemplo é colocar a figura de Ailes como um chefe inconveniente alá Michael Scott, personagem de The Office, o que claramente ele não é.

A escolha pelo tom meio cômico desperdiça o potencial dramático dos abusos sofridos por aquelas personagens, algo que só aparece em poucos momentos — por exemplo, quando Kayla desabafa por telefone sobre o que aconteceu.

O que era para ser uma história dramática bem feita com o necessário peso sobre o que aquelas personagens sofreram, se torna uma tentativa má sucedida de contar o caso ao modo McKay.

Os pontos altos de O Escândalo ficam sob a impressionante caracterização por meio de maquiagem, principalmente de Charlize que fica identifica a Megyn Kelly real — embora exista um exagero que caricaturiza personagens e situações — . Ela própria se destaca mais que suas duas companheiras de filme.

Por fim, o filme deixa explicito que, apesar das diversas coisas erradas que Ailes fez, tal sistema e o que o chefão representava vai continuar firme e forte dentro do canal e na sociedade. A crítica política a direita americana e aos conservadores parece menor graças as escolhas erradas do filme.

Nota: 2,5/5 (Fraco)

Direção: Jay Roach
Roteiro: Charles Randolph
Elenco: Charlize Theron, Margot Robbie, Nicole Kidman, John Lithgow

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Victor Malveira
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Um quase jornalista que tenta ser cinéfilo. O objetivo aqui é escrever resenhas de filmes, séries e de outras coisas aleatórias. Amante de futebol.