Tese de novas eleições começa a gerar “pânico” em grupos pró-impeachment

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5 min readJun 2, 2016
Foto: Francisco Toledo

Com o recuo do senador Romário (PSB) sobre a continuidade do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff, circula nos bastidores que mais senadores devem seguir o mesmo caminho. Em pânico, movimentos anti-Dilma começam a articular novas manifestações. Mas crise permanente em governo Temer não ajuda.

“URGENTE: devido aos ERROS de percurso do governo Temer, apoio diminui no Senado e tese de novas eleições ganha força. TEMOS QUE PRESSIONAR!”

Essa é a chamada principal de um dos posts na página do Movimento Brasil Livre no Facebook, um dos principais grupos articuladores do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

O pânico e desespero acontece por conta da crise permanente pela qual o governo interino de Michel Temer (PMDB) vive, com o afastamento de dois ministros em menos de um mês de gestão em Brasília: Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência). Ambos foram pegos pelo empresário Sérgio Machado em gravações tentando complicar o andamento da operação Lava Jato, insinuando que o processo de impeachment de Dilma “ajudaria” a classe política a acabar com o processo na Justiça.

Com o atual cenário, nesta quinta-feira (02), o senador Romário (PSB) anunciou sua renuncia à comissão que analisa o processo final do impeachment.

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Já nesta quarta-feira (01), o senador do PSB havia afirmando que estava em dúvida sobre seu voto final, por conta da turbulenta gestão que o interino Michel Temer tem comandado em Brasília. Em sua página oficial no Facebook, o ex-jogador comentou em uma publicação:

“ Os primeiros dias do governo interino não foram como deveriam ser. No lugar de ministros “notáveis”, conforme Temer prometeu, tivemos ministros investigados. Vimos ministérios estratégicos para o país serem fundidos e perderem relevância, como o fundamental Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação. Assim como a extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Temas relevantes e tão caros ao país, como o das pessoas com deficiência perderam relevância e foram abrigadas no Ministério da Justiça e Cidadania. Além da já anunciada extinção do Ministério da Previdência Social, órgão responsável pela elaboração de políticas, gestão e fiscalização de importantes benefícios sociais. Houve ainda a extinção Controladoria-Geral da União que, de certa medida, prejudica o combate à corrupção. Defendo o enxugamento da máquina pública e redução de custos do governo, mas não acredito que estas tenham sido as melhores alternativas.”

O senador ainda diferencia os dois votos do processo de impeachment no Senado, afirmando que o seu voto favorável inicial foi para a continuidade da investigação, e não necessariamente pelo afastamento imediato da presidente Dilma: “ Finalizo esclarecendo que não há que se falar em mudança de voto porque são dois votos distintos. No primeiro, votei pela continuidade da investigação. O segundo e definitivo voto será para julgar o crime de responsabilidade, que eu farei, como sempre, guiado pela minha consciência e buscando o melhor para o Brasil”.

Outro movimento incomodado com a possível mudança de votos é o Vem pra Rua, principal articulador das manifestações pela saída da presidente Dilma.

Na postagem abaixo, o grupo questiona um possível almoço que o senador teria dito com o vice-líder do governo petista.

Reprodução/Facebook

Em outro post, também acima, o movimento continua sua prática já reconhecida de lobby político a favor do governo de Michel Temer — algo parecido com a postura de outros grupos pró-impeachment, como é o caso do Movimento Brasil Livre.

Outros senadores devem mudar de voto caso a crise permanente do governo Temer continue.

Além de Romário, Acir Gurgacz (PDT) também admitiu mudar de voto. O anúncio foi feito por Carlos Lupi, presidente do partido. O PDT chegou a expulsar e afastar deputados que votaram contra a ordem central do partido, ou seja, a favor da continuidade de Dilma no Planalto. Por isso, e com novos fatos polêmicos no governo Temer, Acir cogita mudar de voto.

Pelo menos um senador pode mudar, ainda em questão de hipótese, seu voto de contra o impeachment para a favor.

É o caso de Jáder Barbalho (PMDB), apoiador do governo petista até os últimos dias de seu afastamento, não comparecendo no dia da votação por motivos de saúde. Essa ausência acabou contando como um voto a favor da permanência da presidente afastada — algo que pode mudar agora, já que seu filho, Helder Barbalho, tomou posse como ministro da Integração Nacional.

Ainda na questão das hipóteses, o lado petista também pode sair fortalecido.

O senador Cristóvam Buarque, assim como Romário e Acir, pode mudar de lado. Inicialmente, votou a favor da continuidade da investigação e afastamento provisório de Dilma. Porém, com as primeiras semanas do governo Temer, sua opinião começa a mudar.

“O julgamento é jurídico, mas tem o conjunto da obra da presidente Dilma, que não tem como não levar em conta. Quanto mais o tempo passa, porém, entra também em julgamento o conjunto da obra do governo Temer, que tem tido erros” — disse o senador ao jornal O Globo.

Outros dois senadores ainda têm suas situações indefinidas: o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que era ministro de Minas e Energia de Dilma, disse que ainda não definiu seu voto. Essa também é a posição do senador Pedro Chaves (PSC-MS), que assumiu após a cassação de Delcídio Amaral.

Mas uma tese que tem crescido diante da atual crise, é a de novas eleições.

Foto: Francisco Toledo/Democratize

O site O Antagonista, conhecido pela sua postura de direita e anti-petista, pontuou os senadores que apoiam a tese de novas eleições para presidente e vice. São eles:

  • Walter Pinheiro (sem partido/BA)
  • João Capiberibe (PSB-AP)
  • Cristovam Buarque (PPS-DF)
  • Lídice da Mata (PSB-BA)
  • Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
  • Paulo Paim (PT-RS)
  • Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)
  • Reguffe (sem partido/DF)

O senador Romário também deve seguir o mesmo caminho, assim como seus companheiros no PSB, onde a tese de novas eleições segue cada vez mais forte.

Antes do processo de impeachment ter sido votado pelo Senado em sua etapa inicial, o Movimento Brasil Livre começou um ataque contra o partido Rede, da ex-senadora Marina Silva, por defender essa tese.

Segundo pesquisa do Ibope feita no final de abril, cerca de 62% dos entrevistados afirmaram defender novas eleições. Com a atual crise de Temer, o número pode ter aumentado ainda mais.

Grupos de esquerda, como o PSTU e setores do PSOL, ainda defendem uma proposta mais radical: novas eleições gerais. No caso, os senadores e deputados também teriam de abrir mão de seus cargos em uma nova disputa neste ano. A tese é rejeitada pelos políticos em Brasília.

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