Quando o tempo não significa tanto assim

Da série de livros que eu queria ter escrito. Será que dá pra voltar no tempo?

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

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Eu imagino a bagunça que deve ser a sala da casa da escritora Audrey Niffenegger. Ou, pelo menos, deve ter sido uma bagunça na época que ela escreveu seu livro de estréia, “A Mulher do Viajante no Tempo”. Talvez todo lugar de trabalho de um escritor em plena concepção de uma história seja um lugar meio caótico. No caso de Audrey, visualizo uma grande linha do tempo feita com fios, folhas de papel e post its interligados ocupando toda uma parede do local onde ela trabalhava.

Com essa linha do tempo, Audrey podia organizar-se e, principalmente, situar-se. Suponho que quando você escreve um livro sobre viagens no tempo e seu personagem principal está sempre indo e vindo até 50 anos para frente ou para trás, algo que te ajude a não perder o fio da meada é fundamental. E em sua história Audrey não se perde, nunca.

O viajante que mencionei é Henry DeTemble, um bibliotecário que devido a uma anomalia genética tem a capacidade de voltar ao passado ou conhecer o futuro. Em qualquer momento, mas especialmente quando sente muito estresse, Henry desaparece do seu presente e chega a um novo tempo, onde pode permanecer por segundos ou dias. Por mais impressionante que pareça, na realidade as viagens no tempo complicam bastante a vida desse homem.

Primeiro porque não é uma habilidade que ele pode controlar.

Henry simplesmente é arrastado pelo tempo, muitas vezes em ocasiões que ele realmente não gostaria de perder. Além disso, ele não pode levar nada com ele quando viaja pelo passado ou futuro, então sempre chega ao seu destino temporal completamente pelado e tendo que enfrentar vários dilemas. Como explicar-se ao aparecer totalmente nu num lugar cheio de gente? Ou como proteger-se do frio se seu destino é um espaço aberto em pleno inverno norte-americano? Complicações assim são comuns nas viagens de Henry, que muitas vezes precisa fugir da polícia, defender-se de valentões e solucionar tantos outros problemas.

Não parece uma experiência muito agradável, né?

Algumas coisas e pessoas traem um pouco de ordem à vida de Henry, principalmente aqueles que o amam e tentam ajudá-lo sempre. Mesmo assim, durante boa parte de sua juventude esse viajante se concentrou em auto-destruirse bebendo, usando drogas e tendo mucha encrenca por aí. Isso muda quando ele conhece Clare.

A jovem mulher que se torna esposa do viajante no tempo é a artista plástica Clare Abshire. O romance de Henry e Clare se torna o norte de ambos, e ela é o porto-seguro para onde ele sempre pode voltar. Toda a história entre eles é construída com paradigmas temporais que poderiam dar dor de cabeça a qualquer um: quando se encontram pela primeira vez no presente, ela com 20 anos e ele com 28, na realidade no passado de Clare eles já estiveram juntos. Mas Henry ainda não viveu esses encontros porque eles estão no seu futuro. Loucura né!

Desde os 6 anos, a rotina de Clare é esperar por Henry.

Primeiro, quando criança, ela espera esse curioso visitante que logo se torna seu amigo mais peculiar. Depois, conforme vai crescendo e se apaixonando, Clare espera pelo homem que desperta nela emoções totalmente desconhecidas e intensas. Anos depois, ambos já adultos, ela continuará a esperar por esse amor que, mesmo sem estar sempre no presente, é a verdadeira essência da existência dos dois.

A mulher do viajante no tempo fala sobre destino, livro-arbítrio, sobre coisas que acontecem sem nenhuma explicação, talvez até aleatoriamente, e que causam um impacto gigantesco na vida de alguém. É um livro sobre o tempo, mas no qual o tempo não significa nada se comparado ao amor, às descobertas, à vida.

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Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros