Beto Só
2 min readJul 14, 2016

Por que ‘Walking Dead’ favorece Trump e deve ser a série favorita dos fãs de Bolsonaro

Eu parei de assistir a ‘The Walking Dead’ no dia em que um garoto que, naquele episódio, aparentava uns 10 anos, filho do xerife que lidera a turma, apareceu com um revólver preso à cintura. A arma batia no seu joelho. “Isso tá errado”, pensei, sem elaborar muito a questão.

Passados uns anos, recentemente voltei a assistir a alguns episódios, da quinta temporada. Três coisas me chamaram a atenção.

1) Os zumbis viraram coadjuvantes completamente. Numa das cenas, uma mulher chora a morte da irmã quando um zumbi chega por trás dela, grunhindo e andando lenta e tropegamente. Ela faz uma cara de irritação, como quem diz “Me deixa chorar em paz”, levanta-se e crava uma faca na testa do zumbi.

2) Um diálogo mais ou menos assim: — Hoje, as pessoas são tão perigosas quanto os zumbis. — Não, as pessoas são mais.

3) O grupo central ressaltar o tempo todo, para si mesmo e para os outros, que eles são uma família e que, para salvar aquela família, são capazes de qualquer coisa.

O que essas três coisas nos dizem? No desenrolar da série, os criadores tiveram uma boa sacada, não muito original, mas boa, que costuma funcionar. Usar o apocalipse zumbi para refletir sobre a humanidade. Assim, a cena descrita no item 1 mostra como os zumbis viraram o trabalho do dia a dia. Do mesmo jeito que a gente levanta todo dia pra bater o ponto, os personagens devem evitar ou matar zumbis e encontrar abrigo e comida. Viver é isso.

Bem, viver seria isso, se não fosse o resto das pessoas. Os outros, os que não são da sua família. Pode até haver um ou outro do bem, mas, via de regra, o que eles querem é pegar o que você tem e te deixar na pior. Até mesmo quando não há má intenção de ninguém, o conflito de interesses é tão grande que o caldo sempre desanda.

Por isso, o que resta à família de bem comandada pelo xerife? Armar-se até os dentes e não dar mole pra estranhos. Claro, eles são “do bem”, então não atiram de primeira, mas estão sempre com o dedo no gatilho.

Agora, pensem comigo. Com qual candidato às eleições americanas melhor combina o discurso “devemos proteger a família de bem, dando a ela o direito de se defender armada contra o povo do mal”? É muito Trump isso aí. E muito Bolsonaro também.