Um aperto na neve

Rafael Lois
14 min readNov 2, 2017

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Uma planície branca. Os ventos passam cortantes, açoitando as extremidades. Não uma planície, para ser mais mais correto, mas um vale extenso tanto em sua largura quanto em seu comprimento. Duas cadeias de montanhas o ladeavam, seus picos alvos de tanta neve desdenhando do viajante solitário que seguia o rio congelado.

— Sete infernos… — resmungava ele por baixo de seu capuz, bufando em seguida. — Se meu focinho cair, eu vou abrir a barriga daquele maldito!

Esse viajante carregava uma grande mochila em suas costas, que fazia com que seus pés afundassem na camada de neve depositada em seu caminho. O céu acima de sua cabeça começava a se alaranjar, então ele apertava seu passo. Afastando-se do rio, o viajante ofegou e bufou em direção a uma rocha alta em meio a alguns pinheiros. Ele a rodeou, examinando-a.

“Essa saliência oferece um bom aparo contra vento e chuva.” pensou ele observando a face irregular, que fazia sombra sobre um semicírculo de grama congelada no chão. “E parece estar firme o bastante. “Aqui será bom o suficiente.”

O viajante depositou sua mochila no chão e dela retirou alguns fardos menores. Deixando-os ali, rodeou os pinheiros próximos em busca de galhos caídos. Quando juntou o suficiente, largou-os perto de sua mochila. Calmamente, desamarrou um dos fardos e, desembrulhando um pano grande, montou um abrigo usando a pedra como uma das paredes. Murmurando um encanto de fixação, prendeu os anéis de metal na borda da saliência. Terminou cravando os anéis remanescentes no chão com pequenas estacas de madeira. Com a barraca pronta, guardou suas coisas dentro dela e se pôs a montar a fogueira.

Enquanto limpava a neve de uma área no chão, o viajante fazia um inventário mental de suas provisões. “Tenho o suficiente para mais alguns dias. Mas talvez seja melhor carregar um pouco de madeira daqui, as árvores estão ficando mais esparsas.” Ele olhou para o horizonte, tentando calcular quanto tempo de luz do sol ainda restava, e levantou-se sem acender a fogueira. Ele então começou a rodear o acampamento, estendendo a mão para fora. Murmurava outro feitiço, e linhas saíam da ponta de seus dedos como se distorcessem o ar que tocavam com calor. Ele completou três voltas, envolvendo a pedra e a fogueira com uma folga de alguns passos.

— Isso é suficiente! — disse ele. Entrou na barraca e pegou um balde de madeira que levava preso à mochila.

Pensou mais um pouco e resolveu levar um bastão curto de metal, retirando de um dos bolsos frontais. “Só por garantia.” Saiu do acampamento e foi até o rio.

Completamente congelado. “Droga.” O sol já estava quase todo coberto no horizonte, e logo ficaria um breu total. O viajante não perdeu tempo, canalizou energia na ponta do bastão e encostou-o no gelo, em um ponto perto da margem. Abriu um buraco grande o suficiente para passar o balde e mergulhou-o devagar, tomando cuidado para que ele não seja puxado pela correnteza. A água estava bem fria, e o buraco já começava a se fechar.

Levou rápido o balde cheio de volta, deixando-o ao lado da barraca. Já estava ficando difícil enxergar, então pôs-se a acender a fogueira. Aqueceu novamente a ponta do bastão para incendiar os galhos. Acendeu-os em três pontos diferentes para que fosse mais rápido. Deixou o bastão de metal ao seu lado e, levantando as mãos murmurou outro feitiço enquanto balançava os dedos. Fios mágicos saíram das pontas, tomando a cor do fogo alaranjado que se avivava e se enrolaram com os fios de fumaça que espiralavam em direção ao céu.

Com um suspiro, o viajante levantou-se e deu uma olhada no acampamento.

— Ótimo! Fogueira devidamente alongada, círculos de proteção devidamente feitos, água fresca garantida… Perfeito, não? — pontuou, pensando alto.

O vento assobiava em desdém.

Com um bufo desapontado, o viajante baixou seu capuz, revelando uma piggen de cabelos negros compridos amarrados em um coque no topo da cabeça. Seu focinho redondo estava avermelhado pelo efeito do vento em seu rosto, assim como suas bochechas. Elas não eram flácidas e caídas como a maioria dos homens porco, e ela cuidava muito bem para que isso não acontecesse tão cedo. Por baixo das roupas acolchoadas de frio, que a faziam parecer gorda e forte como sua mãe, ela mantinha um corpo esguio e especialmente saudável, mesmo para os padrões dos estudantes da Academia. Verqish era extremamente cuidadosa com seu corpo, fazendo com que ele esteja sempre pronto para a próxima peregrinação. Ela não era uma aluna excepcionalmente dotada em magia, então concentrou-se em manter uma forma física resistente e ágil.

Ela agora aquecia-se com o fogo, suas mãos já fora das luvas protetoras se esfregando. Após alguns minutos, voltou para a barraca e procurou algumas coisas na mochila: um fardo grande do qual tirou um fardo menor; uma concha e uma pele de cozinhar e hastes para segurá-la; duas canecas, uma grande e uma pequena; um balde miniatura de metal e um saquinho pendurado em uma linha com uma pedra no final, tirados de outro fardo separado. Carregou essas coisas de volta para a fogueira e começou a se organizar.

Armou as hastes sobre a fogueira, e encheu a pele de cozinhar com água do balde usando a caneca maior. Encheu o balde miniatura e pendurou-o junto a pele sobre a fogueira. Abriu o fardo, e dele saíram legumes já descascados e cortados. “A revolução das viagens! Alimentos sempre frescos aonde quer que vá!” riu-se ela por dentro. Murmurou a palavra-chave para desfazer o feitiço de preservação e amarrou-os de volta no fardo, depositando-os ao seu lado. Foi até a barraca novamente e buscou uma tigela e uma colher funda.

Verificou a água da pele e do baldinho. Quando o balde ferveu, colocou o saquinho com fio dentro da caneca e despejou a água quente por cima. Levou próximo ao rosto e apreciou seu aroma. “Raízes e folhas secas, um chá de floresta.” Ela lembrou-se da casa da família, à beira de um bosque. “Cheiro de infância.” Sempre apreciava este chá, que a preenchia de felicidade. Um dos poucos luxos que se permitia em toda viagem.

Quando a água da pele ferveu, adicionou os legumes e temperou com sal de um saquinho separado. Mexeu com a concha e pôs-se a esperar, tomando seu chá. As estrelas já se tornavam visíveis no céu, através das poucas nuvens que percorriam preguiçosamente as alturas. “Aposto que aquele maldito do Kedrand riria de escárnio se soubesse que estou no meio da neve preparando um ensopado de legumes prontos.”

Tomou mais uns goles de seu chá e, com os legumes cozidos tirou a armação com a pele de cima do fogo. Serviu-se enchendo a tigela de metal e sentando-se de volta. Conforme comia sua sopa, luzes boreais começaram a brilhar no céu. “Mas eu não trocaria isso por nada neste mundo.”

Ela jantou com calma, deixando-se levar pela beleza natural da paisagem que a cercava. Sua pele de cozinhar individual deu-lhe apenas mais um prato cheio de sopa, e assim que terminou-o juntou as coisas. Depois pegou seu bastão curto e colocou a ponta sobre a chama da fogueira. Murmurando um feitiço rápido, retirou-o, trazendo em sua ponta um pouco da chama. Usou-a como fonte de luz até a barraca, e com cuidado procurou até puxar um jarro de vidro com tampa larga de cortiça de sua mochila. Fincou o bastão no chão e abriu o jarro, deixando o vidro no chão. Segurando a tampa em uma mão, pegou novamente seu bastão e, recitando outro feitiço, aproximou a chama devagar até um lado da tampa. O fogo bruxuelou como se atingido por uma corrente de ar e então passou para o centro da cortiça. A piggen enfim fechou o fogo no jarro, deixando-o perto da mochila, iluminando o interior da barraca.

Ela saiu para arrumar as coisas do jantar e logo voltou a guardá-las. Por fim, puxou papéis, pena e tinteiro de um compartimento frontal da mochila e seu saco de dormir enrolado em cima dela e arrumou-o. Sentou-se recostada na pedra, ajeitou o fogo empotado para uma melhor luz, e começou a escrever.

“A passagem de Sobring” iniciou ela, “é conhecida pelo seu frio severo e sua eterna paisagem coberta com o branco da neve.”

Verqish, mais conhecida como A Exploradora, era uma famosa escritora na Academia de Magia de Serruth. Seus diários de viagem eram publicados no jornal interno da instituição, e faziam sucesso entre os estudantes. Esse tinha sido o único reconhecimento que havia conseguido, já que era uma aluna medíocre. Um colega havia lido seu diário de viagem de uma missão que ela havia feito a mando de um professor e ficou encantado com suas descrições de paisagem, e ele sugeriu que Verqish enviasse para a editora do jornal interno. O texto foi logo aceito e publicado, e ainda pediram outros mais.

A partir de então, ela se dedicou às viagens, aceitando missões simples em lugares distantes como desculpa para escrever seus diários — e como forma de sustento. Ela também voltou seus estudos mágicos para os feitiços simples de sobrevivência e qualquer coisa simples que ela pudesse precisar em suas viagens: feitiços para mascarar o acampamento de animais selvagens; alongar fogueiras; botânica de sobrevivência, entre outros. Mesmo sendo uma maga sem muita excepcionalidade, a maioria eram feitiços de simples execução e, com prática, ela conseguia usá-los perfeitamente.

Ela havia achado sua paixão como maga viajante e escritora, e ela estava feliz com isso. Sempre adorara estar a céu aberto, mesmo quando criança.

Verqish terminou de escrever, limpou a pena, soprou levemente a tinta para que secasse bem e guardou as coisas de escrita. Acomodou-se melhor no saco de dormir e logo adormeceu.

~

Ela estava em um campo florido. Mal conseguia visualizar o horizonte através das pétalas amarelas das flores tão altas quanto ela. O cheiro de grama fresca inundava seu focinho.

Verqish nunca havia visto flores como aquelas. Altas, com o centro redondo marrom tão grandes quanto sua mão aberta, pétalas de um amarelo brilhante irradiando como raios de sol. Eram lindas, mas algo no fundo de sua mente lhe alertava com constância. Ela sentia que precisava sair dali. Começou a andar com passo apressado, que logo se tornou em uma corrida a esmo entre essas flores, folhas verdes e pétalas amarelas batendo contra seu rosto. A sensação de perigo ficava cada vez mais forte.

Algo agarrou-se ao seu pé, e ela se esparramou de bruços no chão. Alguma coisa se enrolava em seu tornozelo e subia pela perna. Ofegante, ela se virou e viu. Uma das flores se enrolava como uma cobra em sua perna, seu miolo marrom apontando em direção ao seu rosto. A piggen tentou desgarrar-se, mas o aperto ficava mais forte. Outra flor desceu e amarrou-se à perna livre, e juntava-se a outra.

Desesperada, ela lutava contra elas, mas suas forças estavam se esvaindo. Mais flores desciam e se amarravam em volta de seu corpo, formando um casulo. Agora as flores começavam a forçar seu corpo para baixo, o chão se abrindo para absorvê-la. E depois, somente escuridāo…

Verqish acordou com uma exclamação, ofegante, mas a sensação do sonho não havia sumido. Seus braços estavam colados ao corpo, suas pernas bem juntas.

— Mas o que…!? — o desespero bateu forte. Ela começou a lutar para sair do saco de dormir, agarrando o tecido que conseguia com os dedos. Foi uma tarefa difícil, deixando-a ainda mais ofegante.

Olhou para seu corpo, mas não havia nada estranho enrolado nela. A sensação de algo prendendo seus membros estava lá, só faltava o objeto. “Mágica?” pensou ela. Tentou se lembrar das aulas de sobrevivência, mas o aperto em seu corpo ficava mais forte, tirando sua concentração. Ela conseguiu pensar em um feitiço, e concentrou sua magia nas orelhas e recitou. Logo sua audição ficou várias vezes mais potente. Ela regulou sua própria respiração e pôs-se a ouvir.

O vento lá fora mal chegava a ondular as folhas dos pinheiros, mas agora pareciam como rajadas impiedosas. O rio congelado soltava gemidos por inúmeras fissuras invisíveis de tão pequenas. Verqish estava completamente sozinha naquele vale.

Lá! Sobre o gemido do rio, passos abafados pela neve e o som de uma respiração suave. Não parecia estar se aproximando, muito provavelmente alguém seguia o curso do rio.

Verqish se debateu até a entrada da barraca, com muito esforço conseguindo passar sua cabeça pela entrada. A luz fria matutina a saudou, mas ela pouco se importava. À margem do rio, ela vislumbrou um vulto. Um pensamento de esperança resvalou em sua mente, e ela reuniu sua energia em sua garganta. Uma palavra rápida de ativação e ela conseguiu potencializar sua voz.

— Socorro! — ela gritou, várias vezes mais alto do que conseguiria normalmente.

A figura à beira do rio parou e olhou em sua direção.

— Por favor, me ajude! — suplicou ela novamente. A figura teve um sobressalto, mas veio apressada em sua direção.

O estranho parou à alguns passos da entrada da barraca, e Verqish pôde ver os olhos escuros e redondos naturais dos shadden.

— Não consigo me mexer… — seu feitiço de voz havia se desfeito, e ela estava com dificuldade de respirar.

Sem perder tempo, o shadden pôs a cabeça e os braços dentro da barraca e puxou Verqish para fora pelas axilas, e deixou-a virada para cima. Ele ajoelhou-se perto dela e abaixou a parte da veste que cobria sua boca.

— O que você sente? Cordas prendendo todo seu corpo e te apertando? — perguntou. Pela voz, Verqish intuiu que fosse mulher.

— S-sim… — seus pulmões começavam a doer.

A shadden vasculhou o acampamento com os olhos, viu o balde de água e buscou uma caneca cheia. Tirou as luvas, pegou um instrumento pequeno de vidro de um bolso interno e segurou-o em uma extremidade e apoiou a outra na ponta de um dos dedos peludos da outra mão. Recitou algumas palavras de invocação e o tubinho de vidro encheu-se de um líquido azul-esverdeado opaco. Pingou-o na caneca de água, sentou a piggen e deu-lhe de beber.

— Rápido, sem se importar com o gosto! — disse ela.

Verqish bebeu o mais rápido que pôde, engasgando no final. A tosse doeu-lhe profundamente. Ela lutou para estabelecer a respiração por alguns minutos, pois o aperto em seu corpo não afrouxava. A estranha deitou-a novamente e passou as mãos pelas laterais de seu corpo, massageando.

— Só mais um pouco! Logo o antídoto fará efeito. — tranquilizou a shadden.

A massagem ajudou Verqish a respirar melhor, e os próximos minutos foram menos agonizantes. E então ela sentiu o aperto em volta de seu corpo enfraquecer. Já conseguia soltar seus membros. Ela sentia todo o corpo dolorido.

Ficou uns momentos lá, deitada na grama congelada de olhos fechados, sentindo a liberdade de seus movimentos voltar.

— Obrigada…

— De nada. Sorte sua eu estar passando justamente agora! Não são muitos os que fazem a travessia da passagem, ainda mais nesta época do ano. Qual seu nome?

— Verqish… — respondeu, terminando com uma bufada.

— Verqish… — repetiu a estranha. — A mesma que escreve sobre viagens no jornal da Academia?

— Eu mesma.

— Ora! Eu gosto muito do seu trabalho! — ela aproximou-se, com um sorriso. — Fico feliz de impedir que ninguém mais possa lê-lo novamente.

Verqish se apoiou nos cotovelos, agora restando apenas um cansaço em seu corpo.

— Obrigada, de verdade. — ela sentou-se. — Também é estudante da Academia?

— Hehe… Pode-se dizer que sim. — a shadden abaixou seu capuz, revelando totalmente seu rosto redondo.

Ele era coberto pêlos curtos cinza-escuro, assim como suas mãos, e não se podia deduzir a sua idade em nada — como todos de sua raça. Sua cabeça era ladeada por seu cabelo fibroso, que era negro e lustroso como uma cachoeira de óleo. Verqish sabia quem era sua salvadora misteriosa, pois cada membro do povo cogumelo tem um penteado único por toda a vida. O sangue provavelmente fugiu de seu rosto quando ela percebeu isso, mas o que ela estaria fazendo aqui? — Me chamo Shaijou, muito prazer. Mas pela sua cara posso dizer que já sabe disso.

— Senhora Shaijou, é um prazer enorme estar em sua presença. — disse a piggen, prostrando-se apressadamente diante dela. — Desculpe-me em me apresentar diante de um membro do conselho de forma tão inadequada.

Shaijou riu com o embaraço de Verqish. — Calma, calma! Você acaba de se recuperar de um envenenamento! Aqui fora da Academia, sozinhas no campo gelado, apenas Shaijou está bom.

— Envenenamento!? — a piggen não pôde deixar de mostrar surpresa. — Alguém tentou me envenenar!?

— Não, não! Acredito que seja tudo um acidente infeliz. Posso entrar na sua barraca?

— Claro!

A shadden se levantou, remexendo sua veste à procura de algo, e entrou na barraca. Logo retornou, segurando um jarro pequenino com uma flor de pétalas amarelas muito pálidas.

— Dêmonas amarelas. Exposição ao seu pólen pode causar tonturas, dificuldade de respiração e delírios leves. Mas respirá-lo uma noite inteira lhe dará uma sensação de intenso aprisionamento e aperto gradual, até que se fique impedido de respirar completamente. Você pôs sua mochila sobre ela e nem percebeu.

— Sete infernos! Ninguém me avisou que uma coisa dessas crescia aqui!

— Provavelmente porque você disse que seguiria a trilha do rio. Essas belezinhas só crescem nos sopés da cordilheira ao norte. É estranho encontrar uma dessas tão perto do rio. — Shaijou contemplava o pequeno espécime envidrado. — Por um acaso, estou voltando de uma colheita delas.

— Mas que azar e sorte ao mesmo tempo…

— Então… — a shadden se sentou novamente ao lado dela, abanando uma das mãos como que para dissipar os acontecimentos. — Devo dizer que estou curiosíssima para provar seu reconfortante chá da floresta. Se não for nenhum incomodo, claro.

— Óbvio que não! Realmente, depois de todo esse sofrimento, uma caneca de chá seria maravilhoso.

Verqish se levantou e buscou o chá em sua mochila. — Deixe-me apenas acender um fogo novo.

— Não precisa! Apenas me dê as canecas com água. — acalmou Shaijou.

Ela foi atendida, e segurou os copos em cada mão. Após alguns minutos, a água começou a borbulhar neles e estava fervida.

— Impressionante! — elogiou a piggen. — Duvido que eu algum dia consiga atingir um controle e precisão tão grandes.

— He! É apenas uma magia utilitária. Sempre tento passá-la aos meus alunos venomagos. — ela provou o chá calmamente. — Hmmm… Delicioso. Como você bem escreveu, “é como dar um gole em um bosque virgem.”

— Fico honrada em saber que a maior venomaga de nosso tempo leia minhas humildes aventuras.

— Tsc, eu apenas faço meu trabalho e me chama de “a maior venomaga de nosso tempo”. — disse Shaijou, em tom irônico.

— Acho que desenvolver e descobrir centenas e centenas de poções e ingredientes muito usados hoje em dia fica um pouco acima de “só fazer o seu trabalho”. — respondeu Verqish adicionando um pequeno riso e uma bufada ao final.

— He! Talvez… Mas já estava tudo lá para se descobrir, era apenas uma questão de quem descobriria primeiro.

Elas passaram uma manhã agradável conversando, e Shaijou ajudou-a a levantar acampamento. Iriam em sentidos diferentes, então a shadden se despediu.

— Seguindo a trilha do rio há uma paragem que você achará antes do cair da noite. Lá vive um casal que oferece abrigo e provisões para os que atravessam o vale. Garanto que lá não há nenhuma dêmona te esperando, hahaha!

— Sim, me falaram desse casal em Sobring Oeste. Seria bom dormir numa cama esta noite.

Elas apertaram as mãos, e Shaijou sorriu uma última vez.

— Quando estiver de volta à Academia, me procure. — disse ela. — Uma caneca de chá numa planície gélida é reconfortante, mas da próxima vez prefiro compartilhar uma janta em minha sala.

— Seria um prazer, Senhora Shaijou.

— He! Ainda não estamos na Academia, Verqish!

— Obrigada, Shaijou! — corrigiu-se ela.

Elas se separaram, e com um convite e a amizade de uma pessoa muito importante na Academia, Verqish seguiu sua viagem.

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Rafael Lois

Escritor amador. Criador do mundo de Rhuhilia. Dono da página Contos de Rhuhilia no Facebook http://facebook.com/rhuhilia