Por que para Robert Kegan e Lisa Lahey cultura organizacional é estratégia

Rogério Silva
PACTO organizações regenerativas
3 min readJul 23, 2018

“Numa organização tradicional, a maior parte das pessoas possui um “segundo emprego” para o qual ninguém as remunera (…) elas gastam tempo e energia escondendo as suas fraquezas, manejando as impressões que outras pessoas possuem delas, mostrando seus lados mais promissores, fazendo politicagem e escondendo suas inadequações, incertezas e limitações. (…) Há algo mais valioso para uma iniciativa do que o modo como as pessoas usam sua energia?”

Lançado em 2016 pela Editora da Escola de Negócios de Harvard, “Uma cultura de todos: tornando-se uma organização deliberadamente desenvolvedora”, em livre tradução, é um potente livro a abordar o tema da cultura organizacional. Construído a partir de uma combinação de elementos teóricos e casos práticos, o livro traz análises e recomendações úteis aos que querem fazer de suas organizações campos férteis para o desenvolvimento humano, simultaneamente tornando-as mais relevantes social e economicamente.

Robert e Lisa partem de uma premissa central. Para eles “pesquisas mostram que a maior causa de stress profissional (burnout) não é a sobrecarga de trabalho, mas o fato de trabalhar por longos períodos sem experimentar qualquer desenvolvimento pessoal”. Apoiados por teorias que demonstram que a capacidade de aprendizagem dos adultos é elástica e por isso mesmo, incessante, os autores demonstram a importância do desenvolvimento pessoal para o sucesso de uma iniciativa, grande ou pequena, pública ou privada. “Em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA), as organizações precisam esperar mais, e não menos, de si mesmas e daqueles que para elas trabalham”.

Quais são, então, as formas mais potentes para desenvolver as capacidades das pessoas no trabalho? Narrando detalhes intrigantes de três organizações tomadas como estudos de caso (Next Jump, Decurion e Bridgewater), sempre em diálogo com a teoria, os autores apresentam três dimensões nas quais as organizações deliberadamente desenvolvedoras se ancoram, como mostra a figura a seguir.

Figura 1. Dimensões de uma organização deliberadamente desenvolvedora. Adaptado de Kegan, Robert & Lahey, Lisa. An everyone culture. Becoming a deliberately developmental organization. Massachusetts: Harvard Business Review Publishing; 2016.

Avançando em relação às escolas de desenvolvimento profissional centradas em desenvolvimento individual (coaching, MBA, liderança regenerativa, etc.), os autores demonstram que nada é mais eficaz do que forjar comunidades organizacionais nas quais cada indivíduo é impulsionado, apoiado e exigido a se desenvolver. Daí emerge a atenção do livro a práticas coletivas de retroalimentação (feedback) assentadas em culturas que valorizam o erro, a vulnerabilidade e a transparência como vias de acesso a novos estágios de desenvolvimento.

Daí emerge também a ideia de que cultura organizacional é estratégia. Para os autores, está na cultura de uma organização (e na comunidade que a produz) os valores que sustentam seu cotidiano e seu posicionamento externo. Está também na cultura sua capacidade de entregar produtos e serviços desejados pela sociedade e de rigorosa qualidade. Estão na cultura as forças de inovação, eficiência e prosperidade, bem como a capacidade de responder, com inteligência, às constantes mudanças na realidade.

No que toca diretamente ao trabalho da Pacto, o livro de Robert e Lisa nos inspira a ativar ambientes organizacionais nos quais se conversa com qualidade: frequência, transparência, autenticidade, acolhimento, celebração, rituais e desafios são alguns dos aspectos capazes de produzir organizações prósperas à medida que se produz organizações nas quais cada pessoa possa continuamente se tornar a melhor versão de si mesma. Nas palavras dos autores “eu melhor + você melhor = melhor nós”.

Ainda sem tradução no Brasil, o livro está disponível nas versões impressa e eletrônica nos sites de comércio eletrônico tradicionais. É leitura que recomendamos a quem está em busca de reinventar as organizações.

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Rogério Silva
PACTO organizações regenerativas

Sócio da Pacto, é doutor em saúde pública pela USP, psicanalista pelo CEP e consultor em avaliação, estratégia e cultura organizacional