Paralelepípedo

Alessandro Padin
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2 min readJul 28, 2022

Paralelepípedo

Meu palavrão da infância

Inocência

Para lá o tempo da Memória

Paralelepípedo

Da bola que bate em seco nos gols caixote sem proteção

Primeiro contato com o mundo

Do tampão do dedo que abre em pus, sangue

Que tão cedo expôs os limites do corpo

Paralelepípedo

Que imune ao tempo

É quente, ao mesmo tempo seco

Úmido, impermeável

É taco, taco, taco…bola de tênis no alto

Lá andou Isolina, Carmem e Odila

Lá anda quem não sabe o que teu passado inspira

Lá andou também Toninho

Cortando a rua da calçada esquerda para a direita, atravessando o paralelepípedo

Saco de pão quentinho da mão

O beijo no rosto, o roçar da barba, o gibi dobrado no bolso

Uma música caipira sempre ecoando entre um intervalo e outro do Jornal Nacional.

Guarda entre os teus flancos

Paralelepípedo

A memória do homem, passando, presente, futuro

Gratidão

Paralelepípedeo

De hoje para sempre Emerson

Que por lá andou de boné na cabeça, exigência do pai

Cuidado com o sereno, correndo sempre atrás do Dunga, o vira-lata branco e preto

Depois, homem feito, o sorriso fraterno, a pureza única

destroçada por uma doença corea dentro do cérebro

Mas, paralelepípedo, também guarda o teu sono eterno

Como um sorriso pra lá de sincero

Aqui no lado do esquerdo, no meu coração.

Paralelepípedo

Ninguém nunca te fez uma ode, um soneto, um versículo

Mas ,pensa bem,

Você guarda o que há de melhor em mim

Enquanto

Sobe muro, corta árvore, passa ladrão

Os caminhões do grande mercado racham as paredes do velho caminho que não conduz a lugar nenhum.

Só você guarda o segredo do inverso e do progresso.

Só você, paralelepípedo, guarda o eco do violino que vinha do fundo da rua

Só você guarda a foto do que foi o velho menino.

Poema publicado na Antologia Lembranças — Poemas, da Universidade Federal de Alfenas — UNIFAL — MG (Org. Katia Aparecida da Silva Oliveira)

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Alessandro Padin
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Escritor, jornalista e professor universitário