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7 dicas que podem te ajudar a evitar um burnout durante a pandemia

Maryanne Cury
pagsegurodesign
Published in
6 min readJul 20, 2020

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Na edição do 99u desse ano, totalmente remoto, Anne Helen Peterson, escritora sênior de cultura no BuzzFeed, fez uma palestra poderosa. Observando a realidade de muitos de nós, ao trabalhar totalmente remoto devido ao Covid-19, ela afirma que todos estamos experimentando algum nível de “Burnout da Pandemia”. E a maioria de nós não consegue distinguir esses sintomas de uma depressão, medo ou ansiedade “padrão”.

O termo burnout é usado desde a década de 1980 para se referir a casos em que o indivíduo tem suas energias físicas e mentais completamente exauridas. Para a Organização Mundial de Saúde é “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.

Num artigo recente da Harvard Business Review, a professora de psicologia social Vanessa Bohns explora um pouco do tema no cenário que estamos enfrentando:

“O burnout pode ser causado, entre outras coisas, pela sensação de estar sempre ativo, pela pressão para ser o trabalhador ideal e pela dificuldade que muitos de nós temos em manter o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, mesmo nos melhores momentos”.

No início de março, a OMS anunciou que o Covid-19 havia se tornado oficialmente uma pandemia. Desde essa data, diversas empresas de tecnologia no Brasil e fora iniciaram a migração do trabalho presencial para o remoto. Em menos de uma semana, boa parte das equipes já trabalhava 100% em home office. E essa mudança súbita trouxe muitos desafios: num dia estávamos no escritório, com reuniões e eventos presenciais agendados, e no dia seguinte estávamos todos em casa, tentando nos adaptar rapidamente a essa nova realidade.

Segundo o estudo de Bohns, alguns meses depois do isolamento ter começado, muitas pessoas têm enfrentado a dificuldade em entender que essa busca constante pela produtividade “ideal/normal” tem nos desgastado ainda mais, e quando nos sentimos improdutivos, também nos sentimos fracassados.

Anne Helen Peterson afirma que “Há um sentimento constante de que estamos fazendo algo errado ou não bom o suficiente. Estamos tentando fazer o nosso melhor, mas o sentimento é que estamos correndo uma maratona sem linha de chegada. A pandemia não traz apenas a preocupação se as nossas famílias vão ficar bem e quando vamos poder voltar ao normal. As preocupações são bem mais profundas, como: será que vou ver minha mãe de novo? Quando tudo isso acabar, nosso país ainda será uma democracia? Se eu perder meu emprego, quanto tempo eu vou levar para me recolocar no mercado? Esse mercado ainda vai existir? Eu ainda vou ter uma carreira? ‘Se tirarem o meu trabalho, o que resta?’ para millennials(pessoas entre 18 e 35 anos), principalmente, a carreira está profundamente conectada com sua identidade como indivíduo. Passamos tanto tempo investindo na carreira, que correr o risco de perder o emprego pode causar uma crise existencial.”

Para piorar, meses de confinamento em casa com responsabilidades domésticas adicionais e limites cada vez mais fluidos da vida profissional, esse estresse e exaustão são potencializados.

Definir limites entre a vida profissional e pessoal tem sido uma grande dificuldade para muitos de nós e, encontrar esse equilíbrio pode ser crucial para evitar que os sintomas de um burnout se agravem.

Abaixo listo algumas dicas que podem ajudar a criar estratégias para definir esses limites, mas pode ser que nem todas sejam eficazes para você. Cada caso é um caso e talvez você precise buscar ajuda especializada. Minha intenção nesse artigo é compartilhar algumas ideias e perspectivas que podem ser úteis para gerar novas ideias ;)

Converse com o seu líder

Líderes precisam entender o cenário de cada funcionário, entender que os padrões de produtividade mudaram, e que sua cobrança provavelmente também precisa mudar. Tente explicar para a(o) sua(seu) líder como você está se sentindo e o que sugere para melhorar a situação. Clareza e transparência são muito importantes nesse momento, só assim ela(ele) será capaz de entender o que você está passando e te ajudar.

Defina seu horário de trabalho

Planejem seu dia de trabalho contemplando as 8h combinadas. Se seu plano é trabalhar das 10h às 19h, considerando um intervalo de 1h para o almoço, coloque alarmes no seu celular para não deixar passar. Também é normal fazermos pequenas pausas durante o dia, quando nos sentimos presos e improdutivos.

Se você é o tipo de pessoa que se arruma e troca de roupa quando seu dia se inicia, tente trocar de roupa também quando seu dia de trabalho se encerra. Pode te ajudar a se desligar.

Mantenha os compromissos de trabalho no horário de trabalho

Mesmo que a gente sinta que os dias estão se misturando uns com os outros, devemos ficar atentos para não tratar todos os dias como dias de trabalho. E não estou falando apenas de sentar no computador no final de semana e “adiantar” alguma tarefa dos próximos dias, mas ler emails e mandar mensagens sobre assuntos relacionados ao trabalho também conta como trabalho.

“Eu, por exemplo, sinto-me esgotada pelas constantes reuniões da Zoom o dia todo, portanto, ter sábado e domingo sem elas parece uma verdadeira pausa para mim.” — Vanessa Bohns

A pressão de estar sempre disponível

Estar online não significa que você e seus colegas estão sempre disponíveis para tirar dúvidas ou bater papo. Podemos estar em reunião ou focados numa entrega importante com o deadline batendo na porta. Em uma pesquisa feita em maio de 2020 nos EUA, 45% dos trabalhadores remotos afirmaram que se sentem drenados após um dia de trabalho, e estar sempre disponível é um dos principais fatores.

De maneira geral, estamos em estado de alerta em relação aos nossos empregos, e uma reação comum é nos pressionar mais para demonstrar o nosso valor para a empresa e provar que somos capazes. Não podemos esquecer de buscar sempre o equilíbrio.

Caso você não se sinta disposto no momento em que um colega vem conversar contigo, avalie a urgência do assunto. Se a conversa puder ficar para depois, combine e planeje com ele, alinhando as expectativas de ambos.

Cuide de si mesmo

Procure dormir bem, beba água, faça algum tipo de exercício, medite e mantenha contato com pessoas, mesmo que por WhatsApp. Busque fazer coisas que você gosta mas não se cobre se nem tudo sair com o planejado. Tem dias que não estamos com cabeça para ler um livro ou ver um filme que nos faça refletir. Não se sinta culpado por passar horas jogando videogame ou maratonar o Netflix. Tire um tempo para você todos os dias para fazer coisas simplesmente por prazer, pelo menos 1 horinha.

Um dia diferente do outro

Mesmo gostando de manter uma rotina, às vezes sentimos que todos os dias são iguais e isso nos torna um pouco apáticos. Pequenas mudanças no seu dia podem ajudar a reduzir essa sensação. Você pode tentar alguns truques: se permitir fazer um pedido ousado no delivery, tomar um chá ao invés de café ou experimentar um snack diferente no seu lanche da tarde. Incluir sabores diferentes do que está habituado pode ser energizante. Também explore filmes, vídeos e livros diferentes do que você costuma assistir/ler. A variedade de assuntos pode definir marcos nos seus dias.

Evite se comparar com outras pessoas

“Muitos de nós simplesmente não estão acostumados a essa quantidade de estresse psicológico. Há muito o que pensar em nosso novo estilo de vida. Há muita pressão no momento para usar esse tempo de maneira eficaz, para fazer tudo você pretendia fazer”

— Ann Heathcote, psicoterapeuta e conselheira do The Worsley Center

Pode ser que seus coworkers, amigos ou influencers nas redes sociais ajam como se tivessem tudo sob controle, fazendo cursos online, aprendendo a fazer pão e outras receitas. Mas tente evitar a preocupação com a forma como as outras pessoas vivem suas vidas, especialmente se vistas através das lentes incompletas das mídias sociais — e foque no que é factível para você e sob seu controle.

Nesse momento, o mundo é um lugar assustador, estressante e estamos cheios de incertezas. Mas, mesmo no meio de todas essas preocupações e ansiedades, podemos refletir sobre o que podemos fazer para reduzir esse impacto no nosso cotidiano.

Vale lembrar: não é pra sempre. Ainda não sabemos quando, mas vai melhorar. Quando a pandemia acabar, teremos desenvolvido novas capacidades como auto-gerenciamento, resiliência e flexibilidade. Estamos passando por um momento muito desafiador, e quando voltarmos ao nosso dia-a-dia, seja ele qual for, pode ser que a gente encare diversas situações antes desafiadoras, como “fáceis” ;).

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