99u Conference | Dia 2: O futuro é criativo

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11 min readMay 10, 2019

No segundo dia de evento fomos recebidos no Lincoln Center para assistir palestras inspiradoras de Vivienne Ming, Zach Lieberman, Kyle T. Webster, Tim Brown, Kat Holmes e Joel Beckerman. Eles subiram ao palco para falar de temas como futuro, propósito, criatividade, design inclusivo e sound design.

Depois do almoço foi a vez de colocarmos a mão na massa e participarmos do Workshop Data, Ethics, AI, Oh My! ministrado pela Ovetta Sampson — Design researcher e a Jess Freaner — Data Scientist, ambas da IDEO. Depois nos dividimos e participamos das masterclasses Future Design: Creating an Equitable Tomorrow e Gathering and Presenting Design Research.

Palestra de Vivienne Ming

Vivienne, Co-Founder & Executive Chair da Socos Labs, abriu o segundo dia do evento falando sobre o futuro, que temos visto como o tema central do evento.

Comentou sobre as várias visões de futuro e como temos diferentes relações com elas: algumas são muito otimistas, algumas são muito pessimistas, mas todas elas trazem em comum a incerteza do que será o futuro.

Quando falamos de futuro, há grandes expectativas em cima das soluções de inteligência artificial. Mas é um grande erro acreditar que a inteligência artificial vai resolver nossos problemas, porque a máquina não pode ser criativa, só nós podemos.

E dado que nós é que somos os criativos, como temos lidado com esse poder para criar não apenas objetos ou soluções, mas também criar visões de futuro? Precisamos delas para guiar nossas tomadas de decisão no dia-a-dia. Precisamos de visão de futuro para guiar nossos times no dia-a-dia. Nós precisamos ter coragem de compartilhar a nossa visão com o mundo. Visão de futuro gera propósito.

E na visão dela, propósito é um grande diferencial na vida pessoal e profissional. Propósito é mais importante que conhecimentos técnicos. Ela comenta que quando vai contratar alguém, não se apega se a pessoa sabe uma tecnologia ou outra, porque a tecnologia passa e muda, mas a capacidade da pessoa de se adaptar, e aprender coisas novas e criar novas soluções com propósito, isso permanece.

“Criativity is futureproof”

(algo como “A criatividade é o que nos protege do futuro” )

Palestra de Zach Lieberman

Zach, Co-founder da School for Poetic Computation, passou por várias experimentações com tecnologia que fez ao longo da sua carreira. Mostrou cases de criação de imagens e poesias com algoritmo, realidade aumentada com registro de momentos cotidianos, projeção no rosto respondendo a expressões faciais, programação de inteligência para veículos automotores.

Essas experimentações se deram na School for Poetic Computation (Escola de Computação Poética), onde ele deu aula e recebeu muitos alunos com o mais distintos perfis.

Ao falar sobre a carreira dele ele comentou de três pontos:

  • Do quanto ele teve que ir aprendendo sobre novas tecnologias, porque novas tecnologias emergem numa velocidade muito rápida e cabe a nós, criativos, nos apropriar delas e explorar quais funções elas podem ter
  • Do quanto as pessoas davam aos seus projetos usos nem um pouco esperado por ele e pelo time que desenvolvia o software, e o quanto isso era fonte de conhecimento para eles, do valor que aquela tecnologia trazia
  • E o quanto ele aprendia no campus, ouvindo os alunos, ouvindo outros professores, e o quanto trocas livres de projetos — no caso, no uso da plataforma OfficeHours — dava espaço para ele ouvir o novo e inesperado.

E finalizou amarrando esses três pontos em uma frase:

“A chave para a criatividade é estarmos disponíveis para ouvir o mundo, sem deixar de lado a habilidade de ouvir nós mesmos.”

Palestra de Kyle T. Webster

Logo no início da palestra, Kyle, que é Design Evangelist na Adobe, mostrou que tem senso de humor e deitou no centro do palco, num momento pra refletir, com o slide “Oh, beautiful boredom” projetado. Um claro questionamento sobre a nossa (in?)capacidade de aceitar fazer nada.

Relembrando a sua infância, ressaltou que os pais (embora trabalhassem e tivessem 2 filhos) tinham muito tempo livre. Na época tinha poucos canais de TV e a diversão vinha de festas temáticas no meio da semana com amigos e fazer fantasias pra familia toda. Como ter tempo pra tudo isso?

Hoje passamos em média 11h por dia interagindo com telas e estamos ficando muito ruins em não fazer nada. E a provocação de Kyle é exatamente essa: a criatividade está no tédio.

É no tédio que a nossa imaginação acorda.

No momento em que relaxamos conseguimos ter ideias e pensar em coisas que normalmente não passam pela nossa mente. Tendo ciência disso, o recado que fica é: precisamos criar momentos de “fazer nada”, dar espaço para a criatividade surgir.

O tédio é uma folha em branco para novas ideias.

Entrevista com Tim Brown

Tim Brown, que dispensa apresentações (mas que é CEO & President da IDEO) ao invés de dar uma palestra, foi entrevistado pela Courtney E. Martin, Co-founder da Solutions Journalism Network.

Dentre vários assuntos que eles conversaram, destacamos abaixo alguns pontos:

Popularização do Design Thinking

Ele acredita que, como tudo que se populariza, há seus pontos bons e ruins. Um ponto que o preocupa é quando a prática é adotada por pessoas que não entendem muito bem os propósitos do uso de técnicas de design para solução de problemas. Entretanto, ele acredita que não existem designers suficientes no mundo para resolver todos os problemas, por isso é necessário que a prática de design thinking seja popularizada não apenas para designers, mas para outros perfis profissionais.

Como identificar profissionais com maestria em design?

Profissionais dignos de serem referência são aqueles que têm confiança de como resolver problemas. Mesmo que não saibam que resultado virá, mas são confiantes para definir quais caminhos e ações devem ser tomadas, sem precisar que alguém os diga o que fazer. E isso vem com prática e observando o que já foi feito antes por outros profissionais, demandando muitos anos para conseguir ser multifacetado e bom em resolver problemas profundos.

Fazendo um paralelo com produtos, no mundo físico você finaliza um produto, mas no software não, é algo que vai sempre evoluir e nunca se dá como “pronto”. Precisa sempre ser revisitado e analisar o que pode ser melhorado. Assim é ser uma referência em design, um processo contínuo que nunca acaba.

“Design is politics and politics is design”

Dentro de grandes organizações, as questões políticas têm um peso muito grande no resultado final do que os designers entregam. As relações que o designer desenvolve com as pessoas, com os mais distintos perfis, vão influenciar nas entregas de design. Um designer de sucesso entende isso. Conseguir projetar intervenções e ações na empresa para uma idéia se tornar realidade é mais poderoso do que o potencial da idéia em si para que ela tenha êxito.

E as idéias inovadoras têm mais espaço para ter êxito quando a empresa tem um propósito maior do que só ganhar dinheiro.

Visão otimista no design, mas e o ‘dark side’?

Quando projetamos coisas, temos sempre visões muito otimistas, porque sempre achamos que vai ajudar as pessoas e às vezes outros comportamentos emergem sem prevermos. É natural trabalharmos desse jeito, por ter esse desejo genuíno dos ganhos que nosso trabalho está oferecendo para a sociedade, mas precisamos aprender a prever também os usos errados do que projetamos, é uma questão de ética.

Após todos esses pontos e questionamentos, apesar da complexidade e responsabilidade que trazem consigo, Brown terminou com uma afirmação muita animadora:

“This is the best time to be alive as designer”

Palestra de Kat Holmes

Kat, que é Director UX Design na Google & Founder na Mismatch.design, começou a palestra com uma provocação: o que inclusão significa para nós designers?

Muitas vezes ao querer atender a maioria dos usuários, desenhamos soluções para uma “pessoa comum”, e qualquer coisa fora do “comum” tratamos como exceção, sendo esse um grande engano. Um estudo recente concluiu que analisando os dados de uma amostra chegamos a um padrão que não corresponde de fato a uma pessoa que existe. Podemos ter a intenção de desenhar para todos, mas é bastante comum estarmos excluindo pessoas das nossas soluções. Como designers, precisamos questionar:

Para quem estamos desenhando? Quem estamos excluindo do nosso projeto?

O design acessível deve incluir visões distintas no projeto, dando espaço para pessoas com necessidades especiais compartilharem sua vivência.

Uma vez que estamos propondo soluções inclusivas, não podemos pensar que estamos apenas colocando “mais pessoas na equação”, mas sim abrindo espaço para novas soluções que serão úteis para outras pessoas, nos mais diversos contextos, gerando inovação. Por exemplo, as legendas no YouTube atendem pessoas surdas mas também um usuário que está sem fone de ouvido.

Kat concluiu deixando a lição de que não podemos continuar criando barreiras para as pessoas acessarem nossos sites e aplicativos. Precisamos criar um design mais diverso, inclusivo e, como foi mostrado, por consequência inovador.

Palestra de Joel Beckerman

Com um teclado a tiracolo Joel, que é Founder, Composer & Producer na Man Made Music, subiu ao palco do 99u para falar sobre como o som é uma peça importante no design centrado no usuário e como ele pode nos ajudar a resolver problemas de design.

Nós confiamos mais nos nossos ouvidos do que nos nossos olhos.

Se estivermos com medo durante um filme de terror, fechar os olhos não resolve, mas tampar os ouvidos sim.

O som e a música estão tão presentes no nosso dia-a-dia que muitas vezes não entendemos o seu valor até não termos mais. Como por exemplo os carros elétricos, inicialmente silenciosos, aumentaram o risco de acidente com pedestres e precisaram passar por uma regulamentação de ruído mínimo.

O som se comunica com as pessoas, nós identificamos e respondemos o som mais rápido que outros sentidos, inclusive nós identificamos de onde vem o som num piscar de olhos.

Entender a semiótica do som e da música é a chave para se comunicar com o usuário. A música cria expectativas do que vai acontecer em seguida, ajuda o usuário a entender se o problema vai ser resolvido ou não.

Finalizou reforçando que sound design first = human centred design.

Workshop IDEO

O Workshop ‘Data, Ethics, AI, Oh, my!’ da IDEO começou com uma dinâmica para entendermos de forma lúdica como funcionam os algoritmos.

A partir desse ponto, recebemos uma apresentação mais teórica e questionadora sobre o uso de Data Science, que deve começar muito antes de “colocar a mão no código”, deveria começar com uma série de questionamentos:

O que queremos com os dados?

Qual o objetivo da análise ou do uso?

Os dados que temos “dentro de casa” como empresa já não são enviesados?

Como as pessoas se sentiriam sabendo que estou analisando essas informações delas?

Com o uso desses dados eu estaria prejudicando algum grupo?

Algumas respostas a essas perguntas passam por pensar em um MVD (Minimum Viable Data, ou seja, qual o dado mínimo para que eu faça a análise que preciso), entender a jornada da informação para avaliar como o dado pode ter sido alterado nesse processo e fazer pesquisas de comportamento para analisar a confiabilidade do dataset que temos como empresa.

O foco dessas ações é — entendendo que a tecnologia não é agnóstica — trabalhar para minimizar os impactos negativos que o uso da tecnologia pode gerar. Não que seja possível com isso eliminar qualquer viés/preconceito que temos como sociedade, porque isso já existe e faz parte de nós. A questão é tomar consciência de que esse viés existe e lançar mão de ferramentas que possam nos ajudar a diminuir o impacto social gerado.

Masterclass — Future Design: Creating an Equitable Tomorrow

Forest Young, Head of Design and Global Principal, Wolff Olins

Young começou sua masterclass trazendo uma provocação sobre a nossa ansiedade em relação ao futuro, novidade e inovação: nós temos a impressão de que o futuro vai ser melhor do que o presente, teremos novas tecnologias, acesso a dados e tudo mais. Mas o que está nos incomodando no agora?

Quando falamos de projetar para o futuro, precisamos ter em mente quatro diretrizes: provável, preferível, plausível e possível.

“Todos os designers são futuristas — com a distinção de horizontes de tempo variados e a escala do impacto”.

Ele apresentou alguns cases em que a Wolff Olins atuou nos últimos anos e dentre os vários tópicos abordados, alguns merecem destaque:

  • A importância de comunicar coisas complexas de forma simples, independente do público.
  • Ter uma visão holística do projeto e não só no pedacinho em que estamos atuando.
  • É nossa responsabilidade pensar num futuro acessível a todos. Para ilustrar esse último, ele trouxe uma imagem bastante conhecida que vocês já devem ter visto por ai.

Mas para Forest, a grande questão não é sobre quem deve estar em cima de cada caixinha, mas sim focarmos nossas energias em tirar a barreira para que qualquer um possa enxergar do outro lado do muro.

O ensinamento mais importante que Forest trouxe na masterclass foi como podemos pensar e planejar as mudanças no ambiente que a nossa nova tecnologia ou produto podem gerar. Quais as consequências? Estamos prevendo isso de forma responsável?

Masterclass — Gathering and Presenting Design Research

Paige Bennett trouxe alguns exemplos de métodos que ela tem empregado no seu dia-a-dia na Dropbox e ela separou esses métodos para dois contextos: (1) como compartilhar as descobertas das pesquisas realizadas e (2) como compartilhar o status das suas pesquisas enquanto elas estão em andamento.

A importância do compartilhamento das descobertas de pesquisa são mais óbvios, mas vale lembrar: de que adianta termos novas informações super interessante e relevantes do nosso público e não fazê-la chegar aos responsáveis por mudar e melhorar o produto?

Por isso, sobre o compartilhamento de descobertas, ela comenta sobre o fato dos reports tradicionais serem “unidimensionais”, o que não cria tanta interação e aprofundamento. Por isso ela propõe apresentar os resultados em workshop com o time envolvido, exposições em espaços físicos compartilhados da empresa para envolver pessoas de outras áreas, gerar sticker dos principais findings para o time “levar” os findings onde for e até conversas informais no almoço ou cafés (na cultura americana, o almoço faz sentido, mas na nossa realidade brasileira seria algo como “Na sala 3, às 15h, vamos ter bolinho e contar o que descobrimos no último teste de usabilidade da nossa app! Traga seu café e vamos conversar!”).

Quanto à importância de compartilhar o status da pesquisa, é mais para alinhamento interno com os envolvidos no projeto. Ela comenta de 4 momentos chave:

Esses momentos evoluem o tipo de informação e o propósito. A primeira fase, foca no alinhamento entre as partes envolvidas. Quando a pesquisa está sendo aplicada, ela propõe fazer um report do que foi visto no dia, bem sucinto, para manter o interesse dos demandantes na pesquisa. Com a pesquisa encerrada, ela propõe uma dinâmica onde os envolvidos organizam e categorizam os findings de maneira lúdica, para facilitar a organização, mas também para fazer com que os envolvidos se sintam mais donos da pesquisa. Por último, ela sugere criar um mini-relatório em vídeo que pode ser enviado e consumido rapidamente antes de gerar uma documentação mais completa. Além de manter o time demandante envolvidos no processo, essas ações mantém o interesse no que será entregue.

O segundo dia foi intenso de informações sobre o impacto da criatividade para construirmos o futuro: como usá-la e como construir esse futuro que queremos. E na sexta-feira, dia 10, o tema será que o Futuro é Humano. O que será que vamos trazer? Aguarde! ;)

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