99u Conference | Dia 3: O futuro é humano

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11 min readMay 13, 2019

No terceiro e último dia, foi a vez de relembrar que mais do que focado em tecnologia, a essência do nosso trabalho é resolver problemas de pessoas reais, com necessidades reais, sendo empáticos ao olhar o outro e ousados em resolver problemas de pessoas (mais do que problemas de empresas) — afinal isso é o que nos torna humanos: nossa capacidade de viver em sociedade.

Masterclass — Reclaiming Innovation: How Big Business Diluted the Practice (and How We Can Take it Back)

Alain Sylvain começou questionando o modismo da inovação, do quanto há no mercado empresas e pessoas “performando” inovação, ou seja, reproduzindo jargões, padrões visuais de apresentação de conceitos, dizendo aplicar metodologias, mas não entregando de fato inovação no mercado.

O “modismo” se reflete até na moda…

Conceitos lindos são apresentados e até novos produtos vão para o mercado com a promessa de ser algo inovador, mas o quanto resolve problemas e muda de fato a vida das pessoas? Para ilustrar inovações de impacto e mudança social, ele vai citando exemplos que passam por soluções como jeans, avião, penicilina, indo até o Hip Hop, para mostrar que:

“Inovação de verdade é defender novas ideias e dar voz para necessidades que nunca foram dadas antes”

E como alcançar esse tipo de inovação? Ele sugere três abordagens principais na visão dele:

  • Verdade implacável: entender qual é a verdade das pessoas e suas necessidades, que nem sempre são bonitas de se ver, mas que trazem dores que são pontos de virada para inovações que são abraçadas pelo grande público. Exemplo: jeans.
  • Possibilidades não imaginadas: sair apenas do que já conhecemos não trará inovações, precisamos nos permitir pensar em soluções novas, mesmo que pareçam estranhas no começo. Exemplo: o avião.
  • Impacto Visceral: Pensar em soluções fortes, grandes, excitantes. Isso vale tanto para a parte de comunicação, quanto para a questão de soluções. Exemplo: Hip Hop que nasceu para responder à forte necessidade de um grupo que queria ser ouvido.

Dadas essas dicas e os cases apresentados, Alain encerrou dando espaço para perguntas do grupo presente. Das respostas que ele deu, se destacaram três pontos sobre inovação em empresas:

  • Criar uma empresa inovadora não é sobre criar um departamento, é fazer com que todos da empresa pensem em inovação, em todos os times, sem exceção.
  • Se não tiver o buy-in do C-level, as ideias morrem. Por isso, ficam animados quando recebem clientes cujos demandantes são C-level, porque nesses casos, os projetos tomam continuidade, quando C-levels não são incluídos ou não compram o projeto, dificilmente o projeto chega ao mercado.
  • A visão do projeto precisa ser compartilhada com todos. Nos seus projetos, Alain insiste em mostrar as ideias para engenheiros, atendimento e outras áreas, porque ele quer que eles acreditem na ideia e deem continuidade. Como ele comenta:

“Quero que quem faz acontecer esteja tão excitado pela ideia como eu estou!”

Masterclass — Inclusive Design: From One to Everyone

A masterclass começou com a seguinte provocação: como designers fomos ensinados a não levar as coisas para o lado pessoal, mas e se nós levássemos? E se ao invés de desenharmos para personas, projetássemos para pessoas reais? Isso é design inclusivo, incluir as pessoas no processo.

Para ilustrar o conceito “design for one”, Stephanie Young, diretora de design e John Anderson, diretor de tecnologia da Smart Design, trouxeram dois cases:

Project Susan

John apresentou o projeto, feito para Susan, uma senhora de 66 anos, que vive com esclerose múltipla progressiva há mais de 20 anos. Claramente a tecnologia deixou Susan para traz. Sem nunca ter usado um smartphone e com dificuldade em usar tablets e dispositivos touch screen, a Smart Design foi desafiada a criar uma solução de tecnologia assistencial que ajudasse Susan a viver de forma mais auto-suficiente em casa.

Depois de diversos experimentos, protótipos e estudos, a aposta é que Susan poderia navegar pela tecnologia de voz para atender às suas necessidades.

Em 4 semanas, o time conseguiu fornecer uma solução de tecnologia de voz personalizada para melhorar seu dia-a-dia, ajudando Susan a concluir as tarefas cotidianas, como ouvir música, ligar para a família e mudar o canal de TV sozinha.

Project Junior

O projeto Junior veio de uma experiência pessoal da Stephanie, quando decidiu ter um filho aos 40 anos, sendo solteira, por inseminação artificial. Ela foi bastante corajosa ao expor os detalhes de uma experiência tão intima, mas como resultado, a apresentação foi emocionante.

A experiência de Stephanie foi tão frustrante que ela documentou toda a jornada e elaborou uma solução para que todo o processo artificial parecesse mais natural. Preencher inúmeros formulários, escolher o “pai”, seguro e implicações financeiras, passar por mais de 20 médicos e especialistas porque o fluxo é todo fragmentado, e até mesmo explicar as pessoas por que fez essa escolha foram algumas das dores citadas na jornada.

Durante todo o processo, ela citou que achou muito estressante se manter sempre positiva quando também deveria se preparar para o pior. O apoio de uma rede de amigos foi essencial para conseguir superar as dificuldades.

Passando por essa experiência e conhecendo outras mulheres na mesma situação, a pergunta que não saiu da cabeça de Stephanie foi: Como podemos imaginar o futuro da fertilidade para ser mais inclusivo?

A resposta para esse desafio foi oferecer um serviço simplificado e guiado que une todos os pontos e pecinhas para que a usuária possa se concentrar no que é mais importante no momento, através de um App, Junior.

Para finalizar, John e Stephanie concluíram a aula nos questionando sobre o nosso emocional diante das falhas: falhar num desafio X falhar como pessoa. Como lidamos qdo o projeto falha e estamos desapontando o nosso usuário? É importante lembrarmos que em algum momento da nossa vida nós quisemos fazer algo pra mudar a vida das pessoas para melhor.

Workshop — Presenting Bold Ideas

Irene Pereyra, Co-Founder, Anton & Irene, abriu o workshop com a seguinte informação: o medo da maioria das pessoas é falar em público. O segundo maior medo é a morte.

Tendo isso em mente e umas 80 pessoas na sala, ela propôs alguns exercícios de warm-up, yoga e relaxamento para que todos ficassem mais à vontade.

Em 1h30 de workshop, Irene trouxe várias dicas para uma boa apresentação:

  • Se prepare bem. Ensaie, estude sua apresentação, peça feedback dos colegas
  • As pessoas se lembram muito mais da sua entonação e da sua linguagem corporal do que do conteúdo em si.
  • Evite fazer apresentações com mais de 40 min, 30 min é o ideal.
  • Evite jargões e “hmm, ah, tipo, então” — isso faz parecer que não temos domínio do assunto
  • Quanto mais informação tem no slide, menos as pessoas prestam atenção em você, menos é mais.
  • Esteja no comando, sorria e aprenda a ser o centro das atenções.

Muitos desses pontos não são exatamente uma novidade, mas o reforço é válido. Diariamente estamos focando nossas energias em projetos inspiradores, criativos e impactantes, e precisamos saber apresentá-los de forma eficaz às pessoas interessadas: stakeholders, clientes, equipes etc.

Workshop — Demystifying Machine Learning: Why It’s Valuable, and How It’s Vulnerable

Nesse workshop, a proposta da dupla da Decode era trazer e explicar vários conceitos ligados a tecnologia que estão em alta, de maneira bem didática para uma audiência que não é ligada a tecnologia. Fazendo um mix de apresentação e atividades lúdicas, eles exploraram o funcionamento de vários conceitos, como:

  • Inteligência Artificial
  • Machine Learning x Machine Telling
  • Big Data
  • Construção e teste de modelos
  • Dados estruturados X Dados não estruturados
  • Redes Neurais e Deep Learning
  • Aprendizado de Máquina Supervisionado, Não Supervisionado e por Reforço
  • Detecção de Viés/Preconceito

Após apresentar todos esses conceitos, eles concluíram reforçando a importância de entendermos como essas tecnologias funcionam para que a gente possa projetar de maneira crítica para elas, entendendo que estamos entrando em uma fase de Inteligência Aumentada, ou seja, onde a tecnologia vem se unir às nossas habilidades como ser humanos para tirarmos mais proveito para o nosso dia-a-dia.

Performance de Merrill Garbus

Voltamos do almoço com uma performance da Merril Garbus, musica da Tune-Yards. Descalça no palco, com uma voz incrível ela cantou três músicas para nos preparar para as palestras da tarde.

Palestra de Giorgia Lupi

Giorgia, que é Partner & Design Director na Accurat, veio falar sobre Human Data.

Questionando todo o movimento frenético do mercado sobre o uso de dados, ela começa quebrando esse “mantra” afirmando que dados não existem.

Os dados que consumimos e analisamos são simplesmente uma representação que criamos para simplificar e explicar nosso mundo.

Por isso ela defende que dados são humanos, pois são uma representação de nós como pessoas e sociedade.

Para falar sobre a expressão por dados, cita o seu projeto que virou livro, o Dear Data, que foi uma troca de cartas por 1 ano com outra designer onde usavam imagens de dados dos seus dias para se comunicarem ao invés de escritas como em cartas tradicionais.

Em seguida, provoca falando sobre o que temos recebido das empresas pelos dados que já temos todos entregado para as empresas criarem produtos mais rentáveis.

Assim, cabe a nós como designers pensar como podemos deixar os dados de mais fácil compreensão e utilizá-los para valorizar pessoas, suas necessidades de entendimento, expressão e até como ferramenta de criar empatia.

Palestra de Anna Pickard

Anna, Head of Brand Communications no Slack, começou sua palestra com bom-humor, fazendo piada com o layout da apresentação e se justificando: “I do words”.

Durante muito tempo vivemos num mundo em que a conversa era unilateral, em filmes, na TV… mas agora as pessoas esperam que tudo seja conversacional, que as marcas presentes nas redes sociais, nos aplicativos e serviços soem como pessoas e não robôs. E basicamente foi isso que Anna fez: deu tom e voz ao Slack.

Construir a personalidade da marca e conseguir se conectar com a sua audiência com certeza é um grande desafio, mas tem mais um ponto de atenção:

“As pessoas querem que soe autenticamente humano, mas é difícil ser humano, os humanos são cheios de falhas, então porque querer ser mais humano?”

A resposta é simples: precisamos escolher o momento certo. Saber quando falar e quando não falar. Como por exemplo, demonstrar empatia numa situação frustrante faz com que o usuário se sinta numa relação de humano com humano, mais conectado. Claramente saber dosar esses detalhes para entregar uma tecnologia e comunicação mais humanizada será um grande diferencial para sua marca e identificação dos seus clientes com você, como o Slack tem feito com primazia.

Palestra de Michael Ventura

Michael, que é Founder & CEO da agência Sub Rosa, trouxe um assunto que tem sido muito discutido, que é a empatia, mas com o enfoque em projeto e inovação.

Ele questiona porque o mercado e as empresas têm falado tanto sobre empatia? E já traz a resposta: empatia não é sobre ser bonzinho, porque quando aplicamos conceitos de empatia em projetos, podemos resolver problemas e gerar resultados.

Precisamos antes de tudo entender que empatia é um questão de prática, que começa pela nossa capacidade de ser empáticos conosco para então sermos capazes de ser empáticos com o outro, seja o outro seu time, seja o outro seu cliente/usuário.

Então ele comenta sobre os arquétipos da empatia:

E fala como aplicou alguns desses arquétipos em um projeto da GE para melhorar a experiência de mamografia. No desafio que eles tinham, não havia espaço para realizar mudanças na máquina, mas ao aplicar os arquétipos descobriram vários pontos sobre a experiência que até então ninguém havia observado porque o paciente nunca foi considerado no processo de concepção do produto e instruções de uso. Aplicadas as propostas, houve uma melhoria significativa da experiência do usuário sem alterar absolutamente nada na máquina, mostrando o valor de inovação e de negócio que aplicar empatia em projetos pode oferecer.

Palestra de Ashley C. Ford

Ashley, que é Writer, Editor, Speaker e Host, fechou as palestras do evento com muito carisma e presença de palco, sem nenhum slide, mas muita atenção da platéia.

Com uma declaração forte, Ashley fez todo mundo refletir por um momento:

“Racismo não é sobre ódio, é sobre falta de imaginação”

É sobre você não conseguir imaginar que uma outra pessoa é capaz de fazer e até onde ela pode ir.

Ashley contou duas experiências pessoais sobre como a imaginação mudou sua vida. A primeira foi quando viajou pra uma cidade no interior dos EUA para ajudar pessoas e não se limitou no que estava vendo, mas sim quis entender a situação de cada um. E ali aprendeu muito sobre empatia. A segunda experiência foi de quando era criança, que sempre dormia nas aulas e ficava além do horário na escola. Um professor, que via isso acontecendo todos os dias, um dia se deixou ir além e perguntou o porque. Ele poderia simplesmente ter ignorado, mas ao imaginar que a realidade poderia ser diferente do que estava vendo, pode ajudá-la, e isso mudou sua vida.

A lição que fica é que quando nos permitimos conhecer e entender o outro, podemos ir muito além. Podemos criar novos futuros e possibilidades.

Festa no MoMA

Para fechar o evento, a festa de encerramento rolou na área de entrada do MoMa, com música, bebida e muito networking. Vimos os palestrantes se divertindo junto com os demais participantes, conversando, dançando… Embora fosse já um momento de fechamento e descontração, foi muito interessante ver referências na área — que trouxeram mensagens tão fortes sobre a indústria e o futuro — mostrando sem querer que o que importa no final, além de criar para pessoas e com um foco mais humano, é nos permitir esse espaço de sermos também humanos: leves, alegres, que comem, bebem, dançam e são felizes. :)

Enfim, o futuro é criado por e para pessoas…

Depois de três dias imersas nas atividades do evento, que foram desde momentos de descontração a workshops com atividades práticas, a mensagem que ficou para nós é de uma quebra de paradigma muito interessante:

Quando falamos de futuro, o comum é pensar em máquinas e tecnologias, mas o 99u nos desafiou a falar de futuro da perspectiva de pessoas.

Essa perspectiva atinge vários ângulos:

Seja pela inspiração, poder criativo e de empatia que só humanos possuem e que entendemos que a tecnologia vem para se juntar a nós e não nos substituir.

Seja pelo projeto centrado em pessoas, inclusivo, com o intuito de entender suas reais e mais profundas necessidades, que garante que questões de acessibilidade, suporte emocional e necessidades de dia-a-dia são atendidos.

Seja pelo projeto feito por pessoas, onde independente de cargo ou skill técnico, nos unimos como time ou empresa ao redor de um único objetivo. Para conseguirmos entregar soluções que impactam o mercado, é necessário antes de tudo ser capaz de ouvir quem está projetando e construindo a solução junto com você.

Enfim, construir o futuro passa pela nossa capacidade de ouvir as pessoas, sejam elas o cliente, o usuário, o time técnico, você mesmo e fica a pergunta: como é o futuro que você quer criar?

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