Experiência de usuário aplicada na construção de um relatório de pesquisa
Como aprendi a escrever e estruturar relatórios de testes de usabilidade mais úteis e objetivos para o bem dos designers
Comecei a trabalhar como UX Researcher no finalzinho de 2018. Eu era responsável por planejar pesquisas, escrever roteiros, entrevistar usuários em testes de usabilidade e construir apresentações sobre os resultados dos testes.
PROBLEMA
Durante esses meses escrevendo relatórios de testes de usabilidade, observei muitos problemas na forma como os achados dos testes eram apresentados. Alguns problemas:
- As apresentações exigiam muito esforço e tempo;
- Número muito grande de páginas;
- Textos longos e cansativos;
- As descobertas principais dos testes se perdiam em meio a uma série de conteúdos secundários;
- Comentários de usuários eram os conteúdos mais importantes para quem recebia os relatórios;
Ainda assim os nossos clientes pediam relatórios com várias páginas, textos cansativos e com pouca objetividade.
VISÃO GERAL
Quando comecei a trabalhar como UX Researcher aqui no PagSeguro eu acompanhei alguns designers em suas pesquisas com usuários, desde a concepção do roteiro para teste de usabilidade até a construção do relatório para apresentação dos resultados.
Depois de participar ativamente de algumas pesquisas, percebi que eu precisava escrever relatórios mais eficientes, guiados por princípios claros, caso quisesse ajudar os designers a argumentarem sobre suas decisões dentro de seus times em prol dos usuários.
SOLUÇÃO
- Report com poucas páginas: Decidi diminuir drasticamente o número de páginas dos relatórios. Eu costumava escrever relatórios com aproximadamente 30 páginas de conteúdo e consegui reduzir esse número para 5 páginas apenas.
- Aplicar conceitos de Atomic Research: Assisti uma palestra do Daniel Pidcock, idealizador do conceito, e decidi aplicar algumas ideias dentro do relatório. Encontrei alguns artigos que falavam sobre o assunto e estudei bastante. Depois de entender o conceito de Atomic Research, decidi prática-lo em meu relatório e “quebrar” as descobertas dos testes em três níveis de conteúdo.
“He referred to Maslow’s Hierarchy of Needs. As we talked we realised we can break an item of knowledge in to 3 or 4 parts. This idea of ‘lots of small signals leading to larger discoveries’ made me think of Atomic Design.” Daniel Pidcock
EXPECTATIVAS
Eu esperava que esses relatórios pudessem influenciar na tomada de decisão de algum designer. Observei que o tempo destinado a pesquisas com usuários no planejamento de cada time, na maioria dos casos, não facilitava para que o designer levasse dados de pesquisa bem embasados para fundamentar suas decisões. Eu queria ajudá-los de alguma forma nesse processo.
ESTRUTURA DO RELATÓRIO
Organizei as páginas e conteúdos dos reports da seguinte maneira:
- Capa: contendo o nome do teste, data da pesquisa e um resumo sobre o que foi pesquisado;
- Método e Participantes: página reservada para apresentar o método utilizado, quantidade de participantes, perfil dos entrevistados, local do teste e links diretos para roteiros e planos de pesquisa;
- Descobertas: páginas com conteúdo sobre os achados dos testes de usabilidade. Eu hierarquizei essa página como uma pirâmide invertida, onde os conteúdos da base fundamentam o conteúdo do meio, que fundamentam o achado principal no topo da pirâmide. Eu também deixei um espaço reservado para anexar vídeos ou imagens.
RESULTADO
Observei que o tempo exigido para escrever os relatórios de pesquisa diminuiu consideravelmente, por causa da estrutura pré-definida e do número de páginas. Reduzi o tamanho dos textos dentro de cada bloco de conteúdo e consegui fundamentar melhor as análises. Além disso, as descobertas principais ficaram em evidência no topo de cada página e os comentários dos usuários ganharam maior destaque.
Fiquei bastante surpreso e animado pelo resultado. O designer que solicitou o relatório conseguiu utiliza-lo nas reuniões com seu PO e não precisou ler 30 páginas de conteúdo.
Outra designer que era responsável por um fluxo específico no aplicativo que testamos em laboratório também utilizou outro relatório que escrevi para fundamentar suas decisões. Nesse caso, eu exportei apenas a página que tinha conteúdo sobre aquele fluxo específico.
APRENDIZADOS
Relatórios complexos, com muitas páginas e sem objetividade não são muito bons dentro de empresas grandes e times que não priorizam pesquisas.
Precisamos gerar resultados de pesquisas que surtam efeitos reais no dia a dia do designer. Atualmente eu não trabalho mais como UX Researcher, mas essa foi uma das principais lições que tive com esse experimento.
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