Interaction 19 — Uma coletânea de pensamentos não necessariamente lógicos

Alice Lucena
pagsegurodesign
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6 min readFeb 10, 2019

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Confesso que fui para o Interaction 19 sem muitas expectativas. Acho que o fato de saber que iria pegar 30h de voo estava tomando todas as energias do meu corpo e minha mente. Já viajei algumas vezes para Cupertino e sabia que não era uma viagem tranquila. E realmente não foi. Mas, passada a viagem de avião, cheguei em Seattle na terça feira, dia 5, às 22h da noite. O evento era no outro dia, às 9h da manhã #jetlag Quando cheguei no hotel, com fome e cansada, realizei que no outro dia estaria junto dos melhores designers do Mundo. Daí fiquei um pouco ansiosa sim #medo

Destruída após infinitas horas de viagem

O palco principal do evento estava localizado no Amazon Meeting Center. Além disso, tivemos palestras acontecendo em mais dois outros lugares: num outro prédio da Amazon e no Cinerama — um cinema muito fofo, com direito a pipoca, cadeira reclinável e um teto que lembrava o céu. Sem dúvida, o melhor lugar para assistir as palestras. E também foi lá que vi as palestras mais inspiradoras do evento.

Isso era muito bom, sério!

Nos 3 dias seguintes tivemos diversas trilhas técnicas que apresentaram frameworks, novas tecnologias, novos conceitos, novos experimentos, novo design e etc. Foi legal? Foi. Mas, não é sobre isso que quero falar agora.

Estamos em um momento na sociedade em que está sendo comum falarmos sobre privilégios, discriminação, responsabilidade social, ética, respeito, e foi muito natural esses temas terem um espaço bem relevante naquele espaço. Ainda bem!

Refletimos, durante 3 dias, o papel do design na sociedade. Somos responsáveis por pensar em novos produtos que irão fazer parte da vida de milhões de pessoas. E estivemos fazendo isso ao longo dos anos sem muita responsabilidade social. Não porque somos "bad guys". E sim porque somos "makers". A gente pensa na melhor experiência para uma pessoa, no melhor cenário, nos benefícios do produto e o colocamos no mercado. Simples assim. Não temos a dimensão da quantidade de pessoas que estamos atingindo. Não nos ensinaram na faculdade a pensar nos efeitos colaterais que nosso trabalho pode ter. E isso, meu amigos, não diminui a nossa parcela de culpa quando as coisas saem do controle.

Não podemos simplesmente nos distanciar dos problemas éticos que nossos produtos causam na vida das pessoas. As pessoas não são número. Cada uma delas representa uma história única que deve ser respeitada. E estamos impactando essas histórias. Se alguém sofre, somos cúmplices desse sofrimento. Precisamos abraçar a responsabilidade pelo nosso trabalho.

Que legado queremos deixar para a sociedade?

Boas intenções também geram consequências negativas. É preciso estar alerta, o tempo todo. Apesar disso, não dedicamos muito tempo para pensar sobre o que pode dar errado. E tem tanta coisa que pode dar errado. A linha que separa engajamento de vício é tênue, minha gente. E estamos brincando com ela.

Diversas palestras falaram sobre esse tema e apresentaram alguns caminhos que podemos percorrer para evitar que uma tragédia aconteça. Fazer um canvas ético, responder algumas perguntas sobre o que aconteceria caso nosso produto fosse usado por toda a população, refletir se estamos excluido algum grupo de pessoas são alguns meios para evitarmos consequências desagradáveis no futuro. O impacto da inserção do nosso produto na vida das pessoas não precisa vir como uma surpresa pra gente. Se preparem. Eu sei que a mente meio que derrete quando pensamos sobre isso. Parece que o peso sobre nossas costas é duplicado. Mas vamos nos ajudar a conhecer esse novo modo de ser maker: maker of social good #terapiaSim

Vou mais ou menos mudar de assunto agora. Para destacar o que pra mim foi a melhor palestra do evento. Engraçado que a melhor palestra do evento foi aquela que não falou de fato sobre design #reflexao. Durou exatos 10 minutos. E foi aquela que mais me emocionou. Como designer, como pessoa, como líder.

E não tem nenhum problema nisso

Amy Johnson está dentro do espectro autista e trouxe para nós a visão dela sobre como é trabalhar inserida dentro de um time de design. E mostrou de uma forma muito sensível e bem humorada todas as vantagens de ter um time neuro-diverso. Que pense de forma diferente. Que imagine de forma diferente. Que tenha processos mentais diferentes. Para que juntos possamos chegar a resultados cada vez melhores para todos. TODOS.

Conversamos sobre a importância de ter espaços compartilhados e também espaços silenciosos dentro da empresa. De como o som do teclado do vizinho pode perturbar uma pessoa. E como devemos prestar atenção nesses detalhes e entregar o melhor ambiente de trabalho para todos. TODOS. Sem julgamentos. Sem rótulos. Apenas deixando o ambiente pronto para proporcionar que cada um entregue o melhor de si.

Essa era a quarta vez que ela se apresentava em público. Esse era um dos objetivos anuais dela. Uma apresentação para o público. E, meu Deus, ela foi maravilhosa! Obrigada, Amy.

Quero finalizar esse texto dando a minha impressão geral do evento. Que sim, começou meio bagunçado, sem muitas indicações de onde ficava cada coisa. Onde pego meu crachá? Badge de segurança, onde? Banheiros? Auditórios? Deixar meu casaco numa sala? Muitos perrengues no inicio do primeiro dia. Alguns problemas com a segurança. A neve não esperada que fez com que tivéssemos que encerrar o terceiro dia mais cedo. Entretanto, isso tudo foram detalhes (que precisam ser revistos, mas ainda assim, detalhes), comparado a todo o resto.

Eu esperava sair de lá achando muito foda todas as novas técnicas de design que iria aprender e todos os experimentos que as pessoas estavam fazendo lá fora, e os produtos revolucionários que, meu Deus, eles me mostrariam em primeira mão! MAS NÃO!!!

Eu não sai de lá uma designer melhor. Eu sai de lá um ser humano melhor.

Que escolheu as trilhas certas, no momento certo da sua vida. Eu vi pessoas questionando o seu próprio trabalho em prol do benefício da sociedade. Eu percebi que o que a gente faz tem um alcance muito maior do que nossos pequenos olhos conseguem enxergar. Eu vi diversidade, eu me emocionei com palestras que contavam histórias reais de gente impactada pelo design: mulheres com câncer, pessoas que passaram por desastres ambientais, seres humanos em situações de estresse extremo, minorias, entre tantas outras.

"The hope is not for a future with better machines, but for a better society"

Por tudo isso, queria agradecer a oportunidade de ter ido a esse evento. Que não trouxe aquilo que eu esperava. Trouxe aquilo que eu precisava. Não me deu nenhuma resposta. Apenas perguntas e questionamentos que eu espero levar para todos aquele que estejam ao meu redor para que juntos encontremos a nossa maneira de impactar a vida das pessoas com responsabilidade e deixar o nosso melhor legado para a sociedade.

"We believe design, technology, and innovation can lead to a better future"

Que vista!
Até a próxima!

Ah, quer saber mais sobre o que rolou no Interaction19? Veja nossa cobertura no PagSeguro Design =)

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