Estamos dando palco para a direita

E eles sabem muito bem disso

Rodrigo Barros
Paiol
2 min readApr 2, 2018

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E lá está mais um absurdo (absurdo esse que se tornou tão diário e automático quanto o ato de escovar os dentes):“Pré-candidato Jair Bolsonaro dispara mais ódio sobre minorias”; “Confira os absurdos do Bolsonaro” etc.

De novo esse cara. Saber como um sujeito desse pode conseguir produzir essa quantidade de excremento diariamente é uma dúvida que te assombra. Você se sente indignado. O dedo de compartilhar treme tanto que você, de fato, compartilha aquilo em tudo quanto é canto: Facebook, Twitter, Whatsapp, elevador do prédio… O mundo precisa saber dos absurdos que essa criatura diz!

E é aí que você se torna um cavalete ambulante do Bolsonaro.

Não, não estou afirmando que você não deve se indignar com o que ele e outros falam por aí, mas o que você acha que está fazendo na verdade tem efeito reverso. Seu intuito talvez seja alertar os ingênuos para que não caiam no canto da sereia, enquanto que ao mesmo tempo tenta mostrar aos defensores dessas ideias o quão nefastas elas são.

Acontece que o “ingênuo” que não tinha recebido a mensagem agora a recebeu, e aquele que apoia a mensagem não está nem aí para o teor absurdo que você acha que revela. Quanto pior melhor! Em outras palavras: dificilmente você conseguirá mostrar para aquele sujeito que ele está defendendo autoritarismo e outras ideias nefastas. Ele sabe disso, mas (em seu cinismo destilado) age como se não soubesse.

“Falem bem ou falem mal, mas falem de mim” é o lema a ser levado em consideração por aqui sem desprezo. Bolsonaro e companhia esperam justamente essa reação negativa, pois os colocam nos holofotes que tanto desejam.

O marketing negativo só rende naquele pequeno grupo que se revolta na internet e que, apesar do barulho, não causa impacto significativo. Já os que concordam com as arbitrariedades tradicionais da nossa sociedade normalmente se sentem constrangidos de expressar o que pensam, mas no dia da eleição eles o fazem. Pode ser o dia da libertação de fazer aquilo que se esperou o ano todo em segredo.

E no dia seguinte a esquerda se perguntará como aquilo foi possível, onde errou, onde não problematizou e lacrou o suficiente. Estamos batendo palma para maluco dançar, pregando para nós mesmos, orgulhosos em nossas bolhas, enquanto a direita, com nosso auxílio, cai nas graças do povo.

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