As crianças que estão sendo deixadas pra trás

Pamela Greco
Pais e Filhos
Published in
3 min readDec 8, 2014

--

Olá queridos. Lembram que eu prometi no post “A história do Alan, o preguiçoso” que ia contar a história de mais dois alunos meus? Vamos lá então pra história da Nicolly.

A Nicolly — e claro esse nome é fictício — estava no 4º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Campinas, com mais outros 34 amigos de sala. Sua professora tinha um ótimo relacionamento com a turma, mas como qualquer ser humano comum, ela batalhava pra dar conta de ensinar tantos alunos em estágios completamente diferentes: um não sabia nem ler, o outro tinha defasagem do conteúdo de matemática de tal maneira que o impossibilitava entender o novo conteúdo, a outra não consegui interpretar textos, o outro tinha agressividade excessiva e por aí vaí.

Pois bem, a professora-polvo-malabarista estava lá com suas mil tarefas preparas para todas aquelas crianças e distribuiu algumas. Todos começaram a fazer, inclusive a Nicolly. Depois de cerca de trina minutos observando a Nicolly, percebi que ela não tinha feito nem a metade da tarefa. Com o tempo contado para cada atividade — por conta da exigência da escola de cumprir com o planejamento do dia — a professora perguntou de todos haviam terminado e, depois de todo mundo responder que sim, pediu pra que mudassem pra atividade dois.

A Nicolly simplesmente colocou sua folha de tarefa inacabada debaixo da carteira e trocou pela nova lição. Que bobagem eu prestar atenção nisso, não é? Gente, nada disso. Depois que eu fui até ela perguntar se ela havia terminado a tarefa anterior, ela disse que sim! E eu pedi pra corrigirmos juntas. Ao fazer isso, ela pegou a folha e me mostrou. E o diálogo que seguiu foi assim:

- Nicolly, você não terminou essa tarefa ainda. Vamos continuar juntas? Você teve alguma dificuldade?

E ela respondeu:

- Tive, mas não tem problema. Eu não termino as lições mesmo, prô, sou meio lerda.

E eu disse:

- Todos nós temos dificuldades, e isso não faz nenhum de nós lerdos. Vamos ver o que você não soube fazer pra aprendermos?

E de repente ela puxou uma pasta — UMA PASTA — de atividades inacabadas. Nenhuma daquelas atividades ela tinha entendido, nada daqueles conteúdos tinham ficado claro pra ela. Mas ela continuava a passar de tarefa pra tarefa, de nota baixa pra nota baixa, tentando se encaixar no ritmo de outras crianças.

O que significa a escola pras Nicollys por aí, senão uma frustração imensa e a sensação de impotência? Imagine que ela tem em torno de 09 ou 10 anos, e está se desenvolvendo com essa situação. Só eu me desespero de pensar nisso?

Propus um trabalho com a Nicolly, paralelo ao da turma, mas ao mesmo tempo integrando-a com todos os colegas. Seu progresso foi evidente, porque seu tempo e forma de aprendizagem estavam sendo respeitados. Ela precisava só de um pouco mais de investimento de educação. É claro que ela não chegou ao ‘nível” dos colegas de classe, mas que progresso não é uma criança que não sabia nem ler direito e interpretar textos, criar sua estória pela primeira vez?

E quantas crianças estão vivendo esse nosso Plano de Educação meio falido bagunçado? Quem já viveu isso com um filho? Com um aluno? Compartilha com a gente como foi e o que foi possível fazer.

Este é um dos textos do blog Pais que Educam, destinado a todos os papais e mamães que querem aprimorar sua participação no desenvolvimento de seus filhos. Para acompanhar todas as dicas e tirar suas dúvidas, acesse o site e nos acompanhe no Twitter e Facebook

--

--

Pamela Greco
Pais e Filhos

Educadora, Pedagoga formada pela Unicamp e mestranda em Psicologia do Desenvolvimento e Educação no Canada.