Frente do Mercadão de Madureira

Abram alas para a popular e culta Madureira!

Carlos Berbert
Rio Paisagem Sonora
5 min readNov 30, 2018

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O distrito é considerado capital cultural da cidade sendo apontado também como um dos berços do samba

O bairro da zona Norte é considerado um dos mais emblemáticos da cidade do Rio de Janeiro e sua história segue sendo produzida. É atribuído a ele denominações como “Capital do Subúrbio”, “Coração da Zona Norte” e “Berço do Samba”.

No século XIX, o Rio de Janeiro recém condecorado como sede do reino unido de Portugal, a região onde hoje é Madureira era chamada de “Sertão Carioca”, porque a área era despovoada. Nessa área, extremamente rural, se encontrava a fazenda do Campinho, localizada na Freguesia do Irajá, que era propriedade do Capitão Francisco Ignácio do Canto, e tinha como inquilino um boiadeiro chamado Lourenço Madureira.

A formação de Madureira é idêntica a de outras localidades que foram incorporadas a áreas urbanas no Brasil. Com o falecimento do Capitão Francisco Ignácio do Canto, em 1851,deu-se início a uma briga na Justiça, da qual Lourenço Madureira ganhou se tornando o dono das terras da viúva Rosa Maria dos Santos.

Em seguida ao fim da briga na Justiça veio o loteamento da fazenda, originando o que seria posteriormente, o bairro de Madureira. Gradativamente, a localidade que era rural, foi sendo urbanizada. Em 1858, os trilhos da Central do Brasil atingiram Cascadura, bairro vizinho, o que contribuiu para a intensificação do processo de urbanização.

A população da localidade é caracterizada por uma diversidade étnica. A presença da cultura negra é bem evidente e influente na região. Muitos imigrantes e descendentes, como portugueses, italianos, japoneses, chineses, bolivianos, sírios e coreanos também residem no bairro. Há uma alta concentração, particularmente de migrantes oriundos da Região Nordeste do Brasil e além disso, trabalhadores que residem em outros bairros e colaboram com sua força de trabalho.

Início do desenvolvimento de Madureira (Foto: Diário do Rio de Janeiro)

Entretanto, a estação ferroviária de Madureira só foi terminada em 1890. A denominação da estação auxiliou, decisivamente, a fortalecer o nome do bairro. Em 1914, nasceu o primeiro clube de futebol da região: o Fidalgo Futebol Clube, o qual adiante daria origem ao Madureira Esporte Clube. Ainda em 1914, foi fundado o mercado de Madureira, que se tornou o atual Mercadão de Madureira, um dos lugares mais populares do bairro.

Sede do Madureira, conhecido como o Tricolor Suburbano
Parte interna do Mercadão de Madureira

Durante o século XX, ocorreram alterações importantes na infraestrutura do bairro. Em 1916, os bondes a tração animal começaram a ser modificados pelos bondes elétricos. Já em 1960, o Viaduto Negrão de Lima foi construído sendo classificado como o maior do município na época

Na década de 1990, embaixo do mesmo viaduto, surgiu um dos principais movimentos culturais do bairro e da cultura negra da cidade: o Baile Charme de Madureira, o maior da categoria no país. Ainda no campo cultural, o samba, com escolas, blocos e artistas históricos, é outra marca registrada de Madureira.

Baile Charme acontece embaixo do Viaduto Negrão de Lima (Foto: Márcio Nunes)

Foi fonte de inspiração em verso e prosa para diversos compositores e intérpretes conhecidos da MPB, tendo ficado conhecido nas vozes de Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho, João Nogueira, Jorge Ben Jor, Jair Rodrigues, Jorge Veiga, Heitor dos Prazeres, Roberto Ribeiro e Copa 7.

O bairro é conhecido como “Capital do Samba”, porque estão localizadas na região duas das maiores escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro: o Império Serrano (9 vezes campeã do carnaval) e a Portela (22 vezes campeã do carnaval) ao todo as duas escolas foram 31 vezes campeãs do Grupo Especial do carnaval carioca, sendo assim Madureira tem mais títulos que qualquer outro bairro ou comunidade do Rio de Janeiro. Ainda sim, há no bairro uma grande concentração de blocos de carnaval tornando-o uma referência do carnaval carioca.

Matriz da Império Serrano
Sede da Escola de samba Portela

No Carnaval 2019, a Portela enaltecerá a brasilidade dos trabalhos de sua madrinha Clara Nunes

O samba enredo da Portela para 2019 é em homenagem a Clara Nunes, cantora que dá nome a rua onde se encontra sua sede. Nascida em Minas, se mudou para o Rio de Janeiro nos anos 1960, depois de fazer sucesso em uma rádio de Belo Horizonte. No Rio, foi trocando os boleros que marcaram seus primeiros trabalhos pelo samba e outros ritmos afro-brasileiros.

Converteu-se à umbanda, atitude que teve grande influência em seu repertório. Ao acrescentar espaço para o samba em seu repertório, Clara passou a frequentar escolas de samba. O seu terreiro era em Madureira, o que facilitou a aproximação com a Portela. A relação ficou tão profunda que a principal cantora da música brasileira nos anos 1970 lançava discos primeiro na quadra da escola. Em seus trabalhos gravou diversos sambas-enredo, de várias escolas, inclusive da Portela como, Ilu Ayê, de 1972. No carnaval de 1975, Clara Nunes foi intérprete oficial da escola na avenida, com o enredo Macunaíma.

Parque Madureira, o presente que se tornou mais um símbolo de entretenimento no bairro

Madureira não deixou de crescer e se modernizar ganhando estações de BRT e o Parque Madureira, aberto em 2012, que é uma das mais novas áreas de lazer e o terceiro maior parque da cidade, além de ser escolhido constantemente para receber eventos musicais. O distrito se evidencia também por uma grande variedade de linhas de ônibus e ramais de trem que levam a diversos bairros do Rio de Janeiro, além de sua pluralidade de estabelecimentos comerciais.

Entrada do Parque Madureira

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Carlos Berbert
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Jornalista formado pela FACHA que atualmente cobre o dia a dia do Vasco da Gama para o projeto Papo na Colina, também atuando como apresentador, comentarista e