Nunca imaginei que um dia viveria em uma ocupação
por Tica
Nós sempre pensamos que as revoluções acontecem em outro bairro, outra cidade, outro país. Essa incrível mudança bateu na porta dia 27/10/2016 na assembléia da FALE, na votação pra um possível indicativo de ocupação, que se transformou em cadeiraço, que alojou mais de 30 alunos em seu primeiro dia com sede de uma educação para todos e um Brasil melhor.
A energia maravilhosa que surgiu naquele momento em que todos os alunos, em uníssono, começaram a gritar “OCUPA TUDO” é indescritível, eu mesma comecei a chorar na hora. Bati palma, abracei colegas. Não acreditava que a minha faculdade estava tentando mudar o rumo do país. Minha cabeça fervilhava de pensamentos. Claro que uma das primeiras atitudes foi ligar pra minha mãe, avisá-la e pedir que ela trouxesse uma muda de roupas e algo pra galera comer. Duas horas depois do cadeiraço, sentamos em roda dentro da ocupação e por meio de votação deliberativa começamos a dar os primeiros passos. De repente chegaram pessoas das outras ocupas e trouxeram comida, papel higiênico e aquela garra de “estamos juntos”.
Nunca vou me esquecer daquela primeira noite, a galera com fome, ninguém dormiu, eu não conseguia dormir de tanta eletricidade.
Fui logo me encaixando na alimentação, era um grupo de pessoas muito legais e acolhedoras, que foi se modificando durante o tempo e agora já se transformou numa grande família.
Na minha parte da comissão de alimentação, recebemos as doações de comida, separamos os perecíveis dos não-perecíveis. Depois contamos cada pacote de alimento para colocar no inventário (que nos dá maior segurança de quanto precisamos todos os dias para comer). E por último estocamos a comida até que o pessoal que faz a comida pegue os alimentos pro almoço ou jantar do dia. Enquanto isso preparamos no dia anterior o café da manhã e o lanche da tarde, além de fazer café o dia inteiro pra manter a galera acordada. É um trabalho árduo e cansativo, raramente podemos nos sentar durante o dia. Quando deito pra dormir as articulações doem, o sono pesa a cabeça, mas o sentimento de realização não sai do peito. Cada um faz sua pequena parte e em um plano maior conseguimos visualizar todo o movimento tomando forma.
Estamos lutando pelas nossas causas, estamos lutando porque somos jovens e seremos prejudicados por um governo ilegítimo, extremamente conservador e elitista. Somos educadores, estamos nos formando para tal e,
quando alguém me diz “vamos congelar as verbas da educação por 20 anos”, eu só consigo pensar no meu aluno periférico que trabalha, estuda e luta todos os dias para estar na escola.
O que vai acontecer com ele? Ele vai conseguir se manter estudando? Ou ele vai abandonar os estudos pra sustentar a família NOVAMENTE? As ocupações são uma forma de protesto legítimo que nós, discentes, iniciamos para tentar que essa PEC55 e a MP do Ensino Médio não passem!
Com a educação na mão, nossa nação pode tudo; sem ela seremos meros fantoches de um governo que não nos representa.
