Mãos Dadas

por Robson Vieira

FALE não se cale
Palavra Ocupada

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Não sejamos objetivos, não sejamos práticos. Isto é para depois. Se existe uma crise no Brasil, e sabemos que existe, ela nasce da maior de todas as nossas carências — a carência de sentido para a nossa existência social. Portanto, é o momento de sermos subjetivos e nos lançarmos às perguntas fundadoras de nosso elo. Daquilo que nos liga e que não pode ser apenas um sentimento que surge de fora para dentro, como o resultado de um determinismo pré-estabelecido qualquer. Enquanto palavras como pátria, país, cidade, comunidade forem apenas uma espécie de nomenclatura — que desde muito cedo nos são apresentadas — e não alcançarem a devida reverberação dentro de nossos eus interiores, estaremos fadados a nos constituirmos muito mais UM AJUNTAMENTO, como bem diz o poeta Affonso Romano, do que outra presença coletiva qualquer, que, porventura, nos pareça ideal.

Duas pessoas, que estejam lado a lado, não significa que estejam necessariamente juntas. E este vazio cartográfico é o que, a meu ver, assume o primeiro plano na nossa condição de brasileiros, mineiros, belo-horizontinos e que sedimenta a grande angústia atual. Pertencer é uma condição que todo ser humano almeja, porém, que não se satisfaz exclusivamente por definição externa, mas por um sentimento real de acolhimento, confiança e compartilhamento.

Tenho de ser justo ao dizer que recentemente fui a uma das ocupações de estudantes contra a PEC 241. Minha expectativa era a de encontrar um ambiente forte, sustentado por um elo claro entre seus participantes… Mas não foi o que presenciei… há muita dispersão por trás de uma bandeira justa… ou seja, a meu ver a ação é corajosa, legítima, desgastante para quem a executa (pois não é um acampamento de férias, como muitos tendem a pensar, ainda que não falem)… só que, infelizmente, não se sustenta em sua subjetividade.

O invisível é mais poderoso do que o visível… sempre foi. E para quem almeja enfrentar uma vertente política poderosa, que impregna com seus vícios os 3 poderes, com representatividade ilegítima, claramente sem escrúpulos e ameaçada na perspectiva de reprodução do status que possui (o que a torna mais perigosa e visivelmente disposta a tudo) é imprescindível estar mais unificado por um sentido que transborda a bandeira do momento. Onde estavam os outros estudantes de letras da ocupação que visitei… (os que ali estavam não somavam 20 por cento do total). Onde estão os estudantes deste movimento que NASCE DE ESTUDANTES e se efetiva na busca de defender um futuro menos obscuro para todos os estudantes e outros agentes que interagem na área educacional… Onde estão professores e administradores da educação que até pouco tempo atrás gritavam por uma realidade mais justa de suas condições… Onde estão os belo-horizontinos — muitos deles pais e mães que lutam cotidianamente por uma perspectiva melhor para seus filhos, e que, aliás, também são mineiros e brasileiros… Não deveriam estar nesta ocupação… Digo onde estão os que não estavam ali. Estão enraizados nas suas questões pessoais e continuam se aprofundando neste árido lugar suas raízes em busca de uma substancia que já intuem não vão encontrar. Por que não se sentem suficientemente pertencentes a uma causa que os motive a lutar e a se unir, pergunto sem perguntar … O que falta, se já sabemos o tanto que não temos — de que fomos desprovidos, para que esta ocupação assuma um lugar central na vida de todos nós e nos faça, momentaneamente, abrirmos mão de tantas outras ocupações e preocupações em prol de um destino menos trágico que já antevemos (pergunto sem perguntar). E respondo a pergunta que não fiz… Falta saber acolher o outro, trabalhar o instante de encontro com o outro, para que o outro se sinta verdadeiramente imprescindível nesta batalha. Enquanto se esperar que o outro seja somente aquilo que desejamos que ele seja e não o que ele é, não estamos preparados para vê-lo, ouvi-lo, senti-lo, abraçá-lo ou para convocá-lo a nossa luta. E estaremos fadados a continuar lutando sozinhos e de modo insuficiente… Lado a lado, talvez, mas não juntos… Com o mesmo sonho de justiça, certamente belo, porém, condenado a não concretude, regido ainda por individualismos e carência poética.

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