Ocupações ontem e hoje
por Roberta Veiga
Esta foto não será como outras fotos de palestra, será como um souvenir de um dia marcante nesses meus 20 anos de professora universitária. Ela foi tirada ontem por um estudante da UFMG, o Marco, no momento em que eu falava na Ocupa FALE do peso histórico e político do corpo velho e cansado de Carlos Henrique Escobar (o pai no filme de Maria Clara, Os dias com ele), homem que dedicou sua vida à militância política, foi muitas vezes preso e torturado durante a ditadura… Esse corpo cansado da política poderia parecer em tudo oposto aos corpos jovens que estavam lá ocupando a FALE, a FAFICH, a Belas… mas não era, era motivação, porque apesar do peso, dos olhos que parecem se fechar, do arrastar dos passos, da surdez, ele ainda busca entender suas crenças, explicar atos e relações políticas, teima em prosseguir resistindo ainda que no pensamento… Foi assim que gerações se encontraram ontem no Ocupa Letras, ele e nós. E eu, que, quando entrei na cantina da Letras, senti um cheiro vindo do passado mas também do futuro, vi as barricadas e as barracas, os colchões com os meninxs a dormirem. Voltei 25 anos, quando ainda estudante ocupei a reitoria da PUC… eles a me oferecerem café, a acordarem ainda sonolentos já empenhados na vontade e na responsabilidade de levar mais um dia de luta, de organização do movimento, de manutenção daquela sociedade deles sobre a qual legislam todo tempo com uma maturidade gigante. Sim! É preciso reconstruir a esquerda no nosso país e isso não é mais (ou somente) tarefa de homens como Escobar, ou de professores, como eu, mas — como nos ensina o momento — , dos que tomam a frente e encampam a luta, expondo seus corpos, bem mais deles, dos estudantes que ocupam, que resistem, que lutam! #ocupatudoufmg
