Quantos cartões amarelos para o cartão vermelho?

Pablo Heinrich
Palavra Ocupada
Published in
3 min readNov 11, 2016
FORÇA NA OCUPAÇÃO

Como é estar em menor número em uma reunião, que na verdade é uma assembleia, que é docente, mas na verdade é geral? Esta pergunta confusa, sobre essa situação confusa está diretamente ligada ao último encontro entre professores, técnicos administrativos e estudantes. Talvez a resposta será apresentada ao longo deste texto com o cunho narrativo de uma crônica, que na verdade é um pouco dissertativo, possui uma lista, inclui alguns ensejos futebolísticos, mas na verdade é uma grandessíssima querela entre torcedores de futebol.

“Chovia muito” poderiam ser as primeiras palavras do relato, tendo em vista que, de fato, chovia muito. No entanto, mudemos o foco para as personagens principais escaladas para o dia: cerca de setenta pessoas. Dentre elas, professoras e professores eram a grande maioria, acompanhada do corpo de técnicas e técnicos administrativos. No meio, bem no meio, estávamos nós: a aluna e os dois alunos intrusos e questionados, antes mesmo de a bola rolar, se tinham realmente o direito de estar naquela dita “assembleia geral”.

Estávamos todos os três de chinelos e ninguém perguntou para nós se tínhamos ingressos. Ainda assim, foi levantada, por uma Professora Doutora, a questão sobre a legalidade da nossa presença e apenas mediante instrumentos jurídicos legais, apresentados por outros Professores Doutores, alguns dos e das exaltadas se acalmaram. Esse foi o primeiro indício da confusão que se armava.

Em resumo, a partir desse momento, listo o que aconteceu naquela assembleia:

  • Interrupções nas falas de discentes;
  • Vaias direcionadas a discentes;
  • Dedos apontados para o corpo discente;
  • Tentativas de deslegitimar a ocupação dos discentes;
  • Tentativas de votar pautas e assuntos que dizem respeito aos discentes.

Como aluno, percebam a minha parcialidade, mas por favor entendam a situação que nos foi posta. A manada intelectual se organizou para massacrar três estudantes que se disponibilizaram para participar da assembleia, fazer alguns repasses e propor soluções. Concluí que durante todo o período em que estive na Faculdade de Letras, nunca fui tão hostilizado e nunca havia me sentido tão desrespeitado.

Outro episódio que merece destaque aconteceu logo após uma fala minha, na qual convidei os professores e professoras ali presentes para participarem de nossas assembleias, que são abertas aos interessados. Ressaltei que nós, que já aprendemos muito com elas e eles, poderíamos ensinar um pouco, já que nossas assembleias eram e são muito mais organizadas e muito mais respeitosas que a assembleia que eles haviam organizado. Neste momento, um Professor Doutor juntou suas coisas, levantou-se e simplesmente partiu. Não o encontrei no vestiário depois.

Quando alguém da torcida se levanta e vai embora do estádio antes do fim do jogo, o time não para de jogar e ainda assim, como torcedor que já viu seu time ganhar e perder, entendo a posição do torcedor. Contudo, quando um jogador escolhe sair de campo, sendo que ao meu ver nosso time está ganhando, o desrespeito não atinge só a mim, mas a todos e a todas presentes. Querendo ou não, essa atitude força o time a parar de jogar. Assim, divide-se o elenco. Assim, o diálogo é interrompido.

Reitero, nosso time está ganhando! As ocupações estão ganhando! Discentes e docentes estão no mesmo time, mas alguns professores e algumas professoras, preferem agir como torcedores fanáticos e apontar rojões e sinalizadores ideológicos, cheios de ameaças veladas, sorrisos falsos, vaias e gritos, tanto uns para os outros, quanto para as alunas e alunos. Imagino que se for para fazer o papel da torcida, que tragam apoio, que sejam engajados e dispostos a lutar pelos propósitos que estamos levantando. A causa não é apenas estudantil. Ninguém nunca questiona o corpo docente, por que é tão difícil parar de questionar o corpo discente?

Acho que me propus a responder algo, com a possibilidade de não responder. Então, prefiro mudar o esquema tático e manter apenas as perguntas por ora. Por que é tão difícil levar as alunas e os alunos a sério? Por que é tão difícil aceitar que não são times diferentes, torcidas diferentes, objetivos diferentes? Professoras e professores, como é estar em menor número em uma assembleia e serem tratados com respeito? Como é? Eu gostaria de saber. Passar bem.

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