Mulheres na Tecnologia

A luta feminina na computação

O desafio diário para “sobreviver” em um universo dominado por homens

Vitória Fagundes dos Santos
Palavras Cruzadas

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Laura acredita que a computação é um espaço de luta/ Foto: Vitória Fagundes

Margareth Hamilton foi a profissional que desenvolveu, em 1960, o software usado para levar o homem até à Lua. Katie Bouman foi a cientista responsável, em 2019, pela reprodução da primeira imagem de um Buraco Negro. Ambas têm algo em comum: o seu amor e sua dedicação pela computação.

Apesar disso, o número de mulheres na área ainda é baixo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, as mulheres representam apenas 20% de profissionais na área da tecnologia da informação. Nas Universidades, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), as mulheres representam 15% de matriculados nos cursos de informática.

Dificuldades das mulheres na área da computação

Uma ação virtual denunciou, em 2015, casos de preconceito contra mulheres da área da computação. O projeto “Delete seu Preconceito” incentivou estudantes da informática a tirarem fotos com frases constrangedoras que já ouviram no trabalho ou nas salas de aula.

Quatro anos após a campanha, o preconceito segue presente na área da TI. As manifestações partem tanto de familiares que não aceitam a escolha do curso quanto de professores que subestimam a capacidade de alunas e colegas mulheres, questionando-as com piadas e ofensas. A professora Taisy Weber, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sentiu na pele o preconceito quando era aluna de Engenharia Eletrônica. Formada pela UFRGS em 1976, Taisy começou a trabalhar como programadora três anos antes. Estagiária em programação na Varig, foi avisada que não seria contratada pela empresa, pois mulheres não eram efetivadas na época.

A estudante de Engenharia da Computação da UFRGS Maria Flávia Barrajo Tondo já foi ignorada por colegas em trabalhos e era a única menina do grupo. “Teve um trabalho que fiz, eu falava e ninguém me escutava. Eu dava ideia e ninguém me dava bola ao que eu dizia. Parei, então, de falar e deixei eles fazendo o trabalho. Era uma atividade fácil, então não ia mudar em nada de conhecimento”, relata.

Laura Grippa conta que após sair do curso de Arquitetura e Urbanismo foi muito questionada do porquê de estar na área da computação. “Várias pessoas me perguntavam ‘ah, mas tu não sabes nem uma linguagem de programação, o que tu tá fazendo aqui?’. Eu respondia: ‘Oras, eu vim para aprender’, ou coisas que os outros me falavam como ‘ah, mas tu não gosta de anime. Não gosta de videogame, o que tu faz aqui?’”, expõe a estudante de Ciência da Computação da UFRGS.

Estudante de Ciência da Computação Laura Grippa/ Foto: Vitória Fagundes

As gurias e seus projetos

Devido à inserção baixa de mulheres na área da computação, foram criados projetos incentivando meninas a entrar na área da informática e unir as que já estavam no meio. A professora do Instituto de Informática da UFRGS, Renata Galante, diretora da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), acompanha o Projeto “Meninas Digitais”, que busca apresentar a área da informática às meninas estudantes de Ensino Médio e dos anos finais do Ensino Fundamental.

Maria Flávia e Laura são integrantes do Projeto de Extensão da UFRGS “Programa.da Mulheres da Computação”. Formado em 2016 por alunas de Ciência e Engenharia da Computação, tem como objetivo estimular um ambiente mais acolhedor às mulheres da tecnologia. “As meninas estão nas empresas. Estamos crescendo e entrando em uma fase que é preciso continuar. Não queremos ficar dentro da Universidade, queremos fazer algo fora dela. É uma forma de dar à sociedade aquilo que ela nos dá. Devolvemos com eventos para crianças e adolescentes”, conta Laura sobre o Programa.da.

Maria Cecília Corrêa, estudante de Ciência da Computação da UFRGS, por sua vez, participa do Programa de Educação Tutorial da Computação da UFRGS. O PET Computação é uma iniciativa do Ministério da Educação que apoia ações por maior diversidade na área da TI em conjunto com projetos de pesquisa e desenvolvimento de Softwares e aplicações.

O que a computação representa para elas

Apesar do machismo na área da Informática, Maria Cecília, Maria Flávia e Laura têm um grande carinho pelos cursos e acreditam que a computação tem boas perspectivas de futuro para as mulheres. Em um espaço dominado por homens, as mulheres buscam mostrar que a computação é um lugar para todos.

Laura acredita que a Ciência da Computação representa a luta pelo espaço, por ela e por suas colegas. Vê como ferramenta de trabalho, mas que não há uma representação feminina forte no meio.

Maria Flávia destaca que a Engenharia da Computação é uma mistura de amor e ódio. Gosta de pensar que no futuro ela será uma engenheira. “O curso para mim é uma aventura que já me desafiei. Entrei aqui, saí do interior, estou conhecendo pessoas novas e rompendo barreiras.”

Para Maria Cecília, a Ciência da Computação representa futuro no mercado de trabalho e para a vida.

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Vitória Fagundes dos Santos
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