Confissões não tão secretas

Hermes Augusto
Palavras de Hermes

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Um feriado de carnaval, um tornozelo machucado, muitas horas para pensar e muitos pensamentos inundando minha cabeça ao ponto de que se eu não colocasse essas palavras em uma ordem que fizesse sentido, eu seria afogado pela maré de situações em que me encontro pensando.

É fato que o tempo é remédio, é amigo, é mestre e guardião. O tempo também pode ser muitas coisas ruins, mas a grande verdade é que o tempo é apenas o tempo, e podemos chamá-lo daquilo que sentimos em relação a ele. Eu prefiro sentir apenas coisas boas, principalmente a gratidão.

Sou grato pelo tempo de paz, reflexão e recuperação onde me encontro. Também sou grato às músicas do Armandinho que me fazem companhia no meio da madrugada em que coloco essas palavras nessa sequência formando este texto.

A real é que esse texto é sobre confissões, mas apesar de eu ser aparentemente forte e corajoso, eu morro de medo de colocar meu coração a mostra sem minha armadura de cara durão. Confesso que apesar de eu parecer durão e dificilmente demonstrar meus sentimentos mais inocentes, doces e sinceros, eles estão sempre presentes comigo.

Então nesse momento eu confesso que não tenho sido o mais invulnerável dos homens, e não digo isso em tom de preocupação. Admito que gosto, confesso estar feliz e me divertindo com a sensação de estar vulnerável, mas também de estar me sentindo vivo, exposto e sabendo que apesar do risco da vulnerabilidade, existe também a vontade de viver, de sentir, da deixar a intensidade tomar conta desse meu coração por vezes medroso e covarde, escondido dentro de uma armadura de homem fisicamente forte, mas em muitos momentos apavorado quando o assunto é sentir.

Tenho sentido, e isso tem feito sentido. Não falo necessariamente de algo específico, falo de sentir. Sinto a vida, sinto alegria, sinto amor e sinto que sentir é o que me faz perceber que viver é muito melhor do que apenas me esconder atrás de muralhas que eu levanto para me proteger daquilo que talvez nem venha para me fazer mal.

Eu sei que talvez você que está lendo isso agora esteja em um momento diferente, e que talvez você pense “ou ele está muito emocionado, ou ele está tão vulnerável que pode se machucar”. Eu não tiro a sua razão, eu estou emocionado em sentir as emoções das quais tanto me privei, e se eu posso me machucar? Com certeza! — A real é que eu passei tanto tempo evitando sentir que nem sei mais como é me machucar, então caso aconteça eu posso sentir dor, mas o que posso te confessar é que se você se priva da dor, você se priva também da cura.

Depois de mais de 30 anos o que eu sei é que a vida as vezes pode machucar, mas o tempo nos ensina como minimizar os danos, e até a rir deles depois dizendo “machucou, mas ensinou”. Ok, tem horas que não queremos o aprendizado, posso dizer que em alguns momentos eu poderia ter ficado burro, mas são minhas cicatrizes que mostram o quanto eu sou capaz de me levantar depois de cada queda.

Novamente confesso que durante todo esse tempo sobrevivendo, eu gosto muito de estar vivendo, e vendo como a vida é muito melhor quando é vivida.

Finalizo aqui citando meu querido Armandinho: “As vezes outra vida não é outra encarnação, é você viver a sua vida de outra forma, com maturidade e aprendizado.” Viva a vida, essa e as outras, mas sempre as vividas.

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Hermes Augusto
Palavras de Hermes

Meus textos não são secretos porém não mostro para ninguém.