Uma redatora explorando o misterioso universo do branding

Flávia Carvalho
PALAVRÃO
Published in
5 min readDec 10, 2018

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O que fazer quando você não tem a menor ideia do que tá fazendo.

O ano era 2011 e eu tinha acabado de entrar na faculdade de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda. Não tinha a menor ideia do que tava fazendo, ainda trabalhava como embaladora de supermercado e meus talentos consistiam em fazer caricaturas na maldade de pessoas que eu não gostava.

Como tinha habilidade pra desenho, acabei indo pros lados da criação. E realmente trabalhei como diretora de arte por algum tempo, apenas para descobrir que na verdade eu não era muito boa com isso. E que fechar arquivos pra adesivar caminhão é difícil pra c*r#lho.

Aconteceu que um dia uma das minhas professoras da faculdade disse que adorava os meus posts do Facebook. E decidiu que eu seria perfeita pra implementar um novo setor na agência em que ela trabalhava. Algumas semanas e um processo seletivo longo pra caramba depois, eu era a única social media de uma agência grandinha, com clientes importantes e sendo responsável por um trabalho que eu nunca tinha feito antes.

Resumindo: eu não tinha a menor ideia do que tava fazendo.

Acabou que eu descobri que era uma social media boa até. Mas em poucos meses, eu também descobri que odiava esse trabalho. Odiar talvez seja uma palavra forte, mas era realmente esse o sentimento. Sentia que o que eu fazia era como secar gelo, ninguém se importava ou via valor naquilo.

Pra falar a verdade, meu trabalho era resumido em “valor” mesmo. Vários e vários clientes perguntando “valor???” naquele post que eu tinha feito com tanto amor e carinho.

Mas mesmo com certo desânimo, eu aprendi muito. Aprendi como as pessoas funcionam, como interpretar textos (mesmo aqueles sem coerência nenhuma) e como dar personalidade e voz para uma marca de uma forma que as pessoas passassem a se importar com o que ela diz.

E quando acabei na teken, não foi muito diferente da experiência anterior: agora eu era REDATORA, outro cargo, outras responsabilidades e, de novo, eu não tinha a menor ideia do que tava fazendo.

Basicamente, as coisas mais divertidas da minha vida se resumem em eu não ter a menor ideia do que tô fazendo.

Pra não transparecer minhas inseguranças e entregar um trabalho que fizesse sentido, eu decidi ler muito. Isso porque, na minha vida, eu tenho a seguinte regra: qualquer coisa é possível, desde que você tenha organização, verba e um grande volume de informações.

Isso significava que eu poderia escrever sobre qualquer coisa, desde que soubesse fazer uma boa pesquisa. E não escrevia nada sem ter certeza do que tava falando. Precisava entender o negócio do cliente, quem era o público dele e, principalmente, o que precisava ser dito. Por incrível que pareça, a coisa funcionou. Meus chefes me aprovaram, os clientes também e tudo tava fluindo lindamente.

O que eu não sabia é que, depois de ter vagado sem rumo por tantas áreas diferentes, eu acabei virando uma redatora megazord. Eu sabia como era difícil diagramar um texto se o título fosse muito longo, por exemplo, por isso tentava pensar em alguma coisa que facilitasse a vida do DA mais tarde.

Sabia, também, que publicar vários posts por dia sem patrocínio não te leva a lugar nenhum, que qualidade é diferente de quantidade. Sabia que os usuários não leem números por extenso e que, se você não colocar GRATUITO em caixa alta, eles vão perguntar o valor de seja lá o que for que você tá divulgando na sua página.

E quando a teken mudou de posicionamento, foi a hora de eu juntar tudo isso, cada parte desse robozão, e se aventurar em algo novo. Que, pra variar, eu não tinha a menor ideia do que tava fazendo.

Mas se você sabe fazer uma boa pesquisa, você sabe fazer o resto.

Juntando informações aqui e ali, inventando coisas e aprendendo muito todos os dias, a gente conseguiu estabelecer a nossa própria metodologia, que batizamos carinhosamente de DAMA.

No DAMA, eu tive a oportunidade de explorar um terreno que muitos redatores não conseguem: o branding. E, se você me permitir ser um pouco lúdica, isso foi o mais perto que eu cheguei de realizar meu sonho de infância e virar escritora de verdade.

Isso porque, no DAMA, eu consigo criar um personagem em cima daquilo que a marca já é, o que ela quer ser ou uma mistura de tudo isso. Buscar a verdade por trás de uma empresa e construir uma personalidade é mais do que desafiador, é divertido pra caramba.

Mas não é só sobre criar uma persona, é sobre dar voz a ela também. O que eu já fazia nos meus tempos de social media, quando criava uma linha editorial e um estilo de conversa, se tornou muito mais detalhado e importante. Eu tinha a oportunidade de estabelecer regras, o que pode ou não ser dito e quais pilares de conteúdo serão abordados futuramente, com base em tudo aquilo que a marca quer se tornar.

E quando chegava na hora de criar posicionamento e slogan, a coisa era consideravelmente mais fácil. Houve tempos em que eu levava dias inteiros pra conseguir criar um slogan e ainda assim não ficava satisfeita com o resultado. Com o DAMA, o caminho das pedras ficou muito mais claro, provando que não basta ser criativo, é preciso ter uma boa metodologia.

A melhor parte é que o bonde não para. Quando surge um cliente novo, eu tenho a oportunidade de aprender muita coisa e criar algo diferente e inusitado. Como naquela semana que eu passei vários dias lendo sobre usinagem e depois aprendi tudo sobre a culinária portuguesa: uma verdadeira viagem da Zona Industrial até Lisboa.

Não sei o que a vida me reserva daqui pra frente, mas uma coisa eu aprendi até aqui: se você souber buscar informação e não tiver medo de se adaptar a novas realidades, você consegue fazer qualquer coisa.

Mesmo que não tenha a menor ideia do que tá fazendo.

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