Pandemia design e reinvenção.

Gabriel Fagundes
Pandemia design e reinvenção.
6 min readSep 7, 2020

No início do ano de 2020, fomos acometidos por uma devastadora pandemia que nos obrigou a repensar nossas formas de vida, sistemas mercadológicos, políticos e informacionais. É realmente complicado pensar alguma área que não tenha sido diretamente afetada pela pandemia negativa ou positivamente. Foram milhões de mortes por todo o globo, desemprego, e uma sensação generalizada de pânico em meio a uma situação a qual não tínhamos controle, a cura e muito menos os procedimentos de como lidar com tal crise. As diversas medidas que foram implantadas ou encontradas como possíveis remediadoras infelizmente se resumiam a tratamentos e não cura de fato. Diversos países entraram em estado de calamidade, obrigando-os a fazer algo que em tempos normais não seria imaginável, parar.

Ações governamentais foram tomadas para remediar a situação e tentar de alguma maneira evitar um dos piores resultados da alta circulação do vírus, a crise na capacidade hospitalar disponível. O Covid-19 não é um vírus de alta mortalidade, mas sim, de alta hospitalização. A taxa com a qual pessoas chegavam aos hospitais dobrava a cada semana, e no caso da frança, a cada 3 dias. Então nos vemos em uma situação que estudos anteriores já mostravam ser uma realidade possível, mas que, não foi pensada uma possível solução de controle quando a hora chegasse, até porque, eram muitos fatores envolvidos para que uma possibilidade nos fizesse mudar todos os hábitos de muitas vezes uma cultura.

Dentro de tal cenário pudemos ver diversas profissões e produtos recebendo demandas altíssimas, muitas delas envolvendo profissionais autônomos e/ou voluntários que trabalharam de forma corajosa para ajudar a todos. Universidades voltaram suas produções e pesquisas ao caso para auxiliar na descoberta de modos de lidar com a situação da melhor forma. Álcool gel, máscaras e luvas foram alguns dos produtos que tiveram alta demanda e ganharam destaque durante a pandemia.

Projetos de design para possíveis métodos preventivos foram criados nesse meio tempo, tecnologias que antes não cogitamos foram introduzidas em aparelhos do dia-a-dia, nas nossas casas e nos nossos hábitos. Como por exemplo projetos que visam a distribuição de máscaras, como o Mascara para todos, que, vendo a escassez e necessidade da distribuição de máscaras, luvas e álcool gel, criou um mapa comunitário onde pessoas se cadastram e registram onde está acontecendo a venda e/ou distribuição desses itens, muito útil principalmente no início da pandemia, onde a demanda foi tão grande que a produção ainda não adaptada para tal não suportou, passamos dias , alguns lugares semanas sem o fornecimento de tais itens que hoje em meio a pandemia são essenciais inclusive para andarmos seguros nas ruas.

Também abrimos espaço para novos meios de se pensar o atendimento de outras áreas, como psicologia, onde alguns consultórios iniciaram o atendimento online para que seus pacientes não ficassem desamparados nesse momento que agrava fortemente os problemas psicológicos já existentes, e estimula o aparecimento naqueles que se consideravam saudáveis mentalmente. Percebendo a crescente demanda por apoio psicológico, o site do projeto citado também tem uma área dedicada especificamente para a procura de psicólogos com preços justos, sendo assim um site que lhe auxilia em grande parte das principais necessidades para combater esse momento. Como o foco inicial dele não era a demanda por profissionais da saúde e sim utensílios, podemos falar de mais outros projetos de sites que se adaptaram para que sua busca fosse por médicos, psicólogos e psiquiatras que fizessem o atendimento todo ou parcial de forma online, sendo o design, principalmente o ux muito importante para a adaptação e a criação dos projetos.

Repensamos nossa forma de produção num geral em todas as áreas, o home office ganhou mais um momento de foco, onde agora estava ligado ao repensar a obrigatoriedade de estar fisicamente em escritórios, ou lojas. Com a quarentena, escolas, cursos e faculdades foram fechados, precisando também rever a sua forma de ensino, parte deles adotando a metodologia EAD como uma das principais solucionadoras para a impossibilidade de aulas presenciais.

Dito isso, podemos perceber que essas mudanças afetaram diretamente nossas rotinas, para os que conseguiram manter seus empregos, ou já trabalhavam com algum dos focos ditos acima, foi uma época de ganhos, e transformação. Aprender a trabalhar de casa, manter o foco sem dispersar por assuntos cotidianos, e ser produtivo são assuntos que veem a tona quando falamos de alterar o modo de trabalho. Além das regulamentações que controlam o processo, equipamentos e cargas horárias.

Também tínhamos as incertezas de um futuro, de que toda a nossa vida, rotina e afazeres voltassem a seu devido lugar, pois, ser obrigado a ficar em casa por algo que absolutamente ninguém tem controle ou alguma solução, é algo que traz certo temor. Além disso nossos amigos também estão expostos, familiares, e colegas. O medo generalizado trouxe a morbidez ao sair de casa, e a preocupação nos dias que se passavam. Sem informações que nos fizessem entender tal momento seria ainda mais difícil passar por este momento.

Então o design informacional apareceu como atuante na tradução de informações em infográficos dos meios científicos para plataformas que atinjam toda a população. Diversos estudos foram lançados buscando entender as formas mais efetivas de contingência do vírus, e tais estudos precisam ser passados de forma mais popular para ser difundida a todos, vendo essa necessidade, criamos diversos infográficos, imagens, e animações que tentavam de maneira sucinta e prática transmitir tudo o que tínhamos a respeito do coronavírus para a população, projetos como esses encheram nossas timelines das redes sociais explicando como o isolamento social era importante para o achatamento da curva, como o vírus funcionava e também tentando confortar a população, trazendo mensagens que estimulam o engajamento as ações tomadas, e acalmando por muitos momentos, criando em nós a ideia de um novo normal que está por vir.

Também vimos empresas utilizarem do que se tem de mais avançado na tecnologia a fim de criar utensílios que nos ajudassem nesse momento, criando gedgets que foram pensados e adaptados para o nosso mais novo dia-a-dia. Visto que estudos comprovam a transmissão do vírus por meio de superfícies de contato como consta no site do ministério da saúde, empresas de celular adaptaram plataformas que desinfecte e carregue o celular em pouco tempo, ou até mesmo aparelhos que quando acoplados no smartphone, gerando uma luz UV que pode ser usada para esterilizar itens. Como é o caso do smartphone OUKITEL WP7. Claro, esse tipo de projeto por enquanto é menos comum no dia-a-dia, porém, foram boas estratégias que usam dos recursos e tecnologias que temos em mãos para assim ajudar de forma efetiva nesse momento.

Vimos um momento de protagonista do design, onde ele recebe seu papel não só na elaboração de projetos voltados a contingência e prevenção do coronavírus, como também, trabalhando diretamente com outros profissionais a fim de proporcionar momentos de lazer e calma mesmo mediante a tal cenário, como por exemplo trabalhos em conjunto de streamers, músicos, e artistas.

Serviços de video chamadas, com projetos que ligavam as pessoas que estavam isoladas no hospital a seus familiares, streams que ganharam destaque durante a quarentena, jogos que se mostraram com mercado aquecido são alguns dos serviços procurados durante este período e que tem a ação do designer como organizados das informações, ou até mesmo idealizador das plataformas, trazendo a tona que a arte, o entretenimento e a relação pessoal não são áreas descartáveis, e sim, necessárias.

O design se mostrou de forma mais palpável uma profissão necessária, elaborando projetos, traduzindo informações e as repassando, criando peças que comunicassem a comunidade como um todo,e até mesmo, pensando a distribuição e entrega dos utensílios que usamos no dia a dia, foi um momento de suma importância para que a comunidade como um todo mostrasse sua capacidade, principalmente lidando com um país o qual não o tem como regulamentada.

Um dos pontos perceptíveis através da análise de como o design se comportou mediante os diferentes momentos da pandemia nos mostra uma volta aos pensamentos essenciais do design. Como pensamos inicialmente as necessidades de projeto, modificando-as e adaptando-as a cada informação nova que se tinha, até o momento atual onde já colocamos personalidade nos projetos que já viraram até vestimentas diárias no caso das máscaras. Como passamos daquele modelo simples, cirúrgico, braço que muitas vezes era descartável para máscaras laváveis e com expressões próprias de cada indivíduo já que se adaptam em cores, estampas e formatos. Criando não somente um projeto que protegia como também uma vestimenta que comunicava. Ser o projetista que pensa as necessidades que o momento nos pede, estudado mais fortemente na época bauhausiana e ver nesse momento se tornar um dos pilares que nos tornam tão efetivos no cotidiano. É interessante pensar as diversas adaptações e criações que foram percebidas e criadas em meio a uma crise tão drástica, das mais acessíveis as mais Hi-Tec, inserimos novos modos de se pensar projetualmente um artefato, não esquecendo de sua função e das necessidades que o projeto acarreta, visando e tornando mais clara a nossa necessidade dentro da sociedade moderna.

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