Não rolou Salaam Aleikum

Bons petiscos árabes, almoço nem tanto.

Panela Velha
Panela Velha

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Era um dia nublado no final de fevereiro e tudo parecia ainda mais depressivo e conflituoso, afinal, estávamos próximos do Carnaval e aquele clima cinza prometia ficar até depois da quarta-feira. A certeza era de que o ano já começava e a aparência não podia ser pior. Lá estávamos nós cinco sentando no bar às margens do Cachorro-Quente do Landi, a ponta-de-picolé da 206 Sul, o eterno Libanus.

Já à mesa, tivemos uma discussão pontual sobre o fator mercenário do mercado de trabalho e principalmente do publicitário, das escolhas ruins dos millenials e como as empresas tem ficado de pernas abertas pra esses caras. Afinal, a roda não pode parar de girar. Como o mood só piorava, era melhor escolher logo os pratos.

Que cara triste, mano.

O Libanus faz com muito esmero o papel de bar da quadra com opções de petiscos caprichados a qualquer hora do dia. A família Marinho leva a 25 anos algumas iguarias da tradição árabe para o lugar e não deixa a desejar em nada o sabor medioriental. A conexão entre o Libanus e o Beirute não é mera coincidência, os bares são primos. Os donos daqui já foram sócios de lá, muito tempo atrás, mas preferiram tomar rumos distintos. A clientela é menos politizada que a do primo da 109 Sul, mas está sempre pronto para um happy-hour em uma boa localização no centro da Asa Sul. Não era o nosso caso, mas para os apreciadores, dizem que este é o bar com maior faturamento de cerveja Antarctica do Brasil. Não conhecemos a veracidade da informação, mas já o padrão de qualidade do bar é indiscutível.

Os garçons eram de certo sagazes, assim como é de se esperar em qualquer instituição de prestígio. Na hora dos pedidos lembramos de uma história que aconteceu alguns anos antes a um conhecido. Esse camarada chamou um garçom mais velho do Libanus de tio e recebeu de volta um: “você não é meu sobrinho.”

Bar não é restaurante.

Muito amor pra um dia de pouca alegria.

Mesmo com o sorriso da lembrança, começamos desequilibrados. Alguns já chamando os pratos principais e outros ainda nas entradas. Foi o caso do Gizo que pediu o Kibe Libanus, clássico da casa em formato de coração, com muito queijo e molho tártaro. A ideia era ter uma pequena amostra da boa cozinha que viria a seguir, mas ficamos só na promessa.

Muita gente fala da Parmegiana de lá, mas parmegiana, todo lugar tem uma boa porque esse é o prato infalível de qualquer restaurante. Então a gente foi atrás de outras coisas. Uma parte da turma ficou no Kibe com Fritas que é um executivo honesto mas sem balela e, enquanto isso, passava por nós um prato de frango à passarinho do tamanho de uma cabeça humana (e assim deu pra entender o tamanho das porções no lugar). Os executivos não tem perdão, as pratadas são grandes o suficiente para uma pessoa e meia.

Depois do Kibe Libanus, o Gizo pulou para um prato executivo árabe que tem arroz com lentilha, tabule, 2 charutos e 1 mini kafta. Era tanta carne que ele poderia ter ficado sem a entrada pois o prato já estava de bom tamanho.

Kaftas nunca tem uma boa aparência.

A cozinha árabe sempre anima com seus temperos e o uso de sementes (seja o grão-de-bico do homus, o trigo no kibe ou a lentilha no arroz). No caso do executivo árabe não parecia ter nada de errado, mas não pareceu muito animador o resultado nos outros pontos da mesa.

Do outro lado, o Thiago estava com alguma restrição alimentar e pediu a sequência mais complicada que já vimos um garçom anotar: o picadinho deveria vir sem arroz, sem farofa e sem banana. O espaço que sobrasse no prato seria para caprichar na carne e no ovo frito. Não é que o prato veio como pedido? Apesar de tudo, não foi bom almoçar ali e pensamos se não seria melhor ter pedido outra coisa. A casa serve ao lado uma pizza por um preço bem honesto.

A depressão desse almoço chegava ao momento da conta. O restaurante é aberto então, de onde estiver, num dia frio como esse você vai pegar corrente. Convenhamos, o Libanus sempre estará cheio nos finais de semana, então não tem porque se preocupar: os garçons estarão circulando o tempo o todo e essa movimentação não deixará o ambiente tão frio.

A 206 Sul é uma quadra cheia de lojas de madame, muita roupa e acessórios. Lá em cima no começo da quadra tem o Camarão da 206 e, do outro lado da rua, a confeitaria Praliné onde o Stevie Wonder deu dinheiro pro João Filho, saxofonista de rua, depois de fazer um dueto com ele.

E de barriga cheia partimos para um cafezinho na própria Praliné. Completando a bad vibe do dia, que estava cada vez mais cinza, o café de lá estava bem basicão e o garçom estava com cara de “quero morrer” durante todo o atendimento. O lugar fica meio apagado durante a semana, ainda mais porque essa cultura de brunch que eles vendem ainda não colou por essas bandas, aí o buffet fica às moscas…

O Libanus não pareceu a melhor escolha. Como era perto do Carnaval, não sabemos bem o motivo, mas escolhemos o lugar pois parecia uma boa opção no caminho dos blocos. Foi apenas um relance de esperança pra ver se animava a gente mas o bad hair day imperou. As chances de voltar lá pro almoço são menores do que a gente ir pra academia. Tem “bares que são bares” e “bares que tentam ser restaurantes também” e no caso do árabe da 206 Sul é melhor continuar só com o bar. A nossa busca pelos pratos clássicos da cidade segue.

Serviço

Libanus Restaurante
CLS 206 Bl. C loja 36
61 3244–9795

Domingo a Quinta: de 11:00h às 00:00h.
Sexta e Sábado: de 11:00h às 02:00h.

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