Ghost Stories: Conheça a “quase-antologia” de horror britânica

Michael Rios
IP de Ideias
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4 min readAug 15, 2018
Divulgação/Ghost Stories

Nunca conheça seus ídolos. Esse é o principal plot* de Ghost Stories (2017), filme britânico escrito e dirigido por Andy Nyman e Jeremy Dyson, adaptação de uma peça de teatro homônima. A trama acompanha o trabalho de Phillip Goodman (Andy Nyman), investigador paranormal que após traumas de infância — ele alega que as crenças do pai destruíram a sua família — desvenda médiuns fraudulentos através do programa de TV “Fraudes Psíquicas”.

Assim, Philip segue os passos do famoso Charles Cameron (Leonard Byrne), um investigador de fenômenos sobrenaturais dos anos 70 que ele idolatrava na infância. Após Charles contatá-lo, Philip é desafiado a investigar três casos sobrenaturais, algo que pode fazê-lo reavaliar o que acredita.

A ANTOLOGIA

Divulgação/Ghost Stories

Ghost Stories passeia entre gêneros enquanto apresenta suas três histórias paranormais que, apesar de não trazerem inovações, conseguem entregar doses de jump scares* bem utilizados — a própria abertura pode fazer o expectador desavisado pular da poltrona nos minutos iniciais do filme.

O primeiro caso nos entrega a experiência paranormal do vigia noturno Tony Matthews (Paul Whitehouse) em seu último dia (um pouco clichê, mas vamos lá) transitando pelos corredores de um hospício. Até este momento o clima do filme ainda se fixa no suspense e traz elementos nostálgicos conhecidos do horror. É instigante ver a forma como o vigia lida com os eventos ao seu redor, levando em conta que não pode simplesmente correr para longe deles pelo seu trabalho ser justamente lidar com possíveis invasores. Além disso, compartilhamos o medo do personagem, cuja única companhia é um colega que entra em contato via rádio.

É na segunda parte que começamos a encontrar uma narrativa oposta ao que vimos até então, que traz um tom mais humorístico e trash* ao enredo. Simon Rifkind (Alex Lawther), no papel de um jovem com nítidos problemas paternos, consegue criar um personagem cômico e, ao mesmo tempo, assustador — mais do que as criaturas bizarras com que ele se depara após um acidente de carro.

Divulgação/Ghost Stories

Por fim, o terceiro e último caso nos traz um poltergeist* com o depoimento de Mike (Martin Freeman), milionário que passa momentos apavorantes em casa enquanto aguarda a mulher que passou por complicações durante o parto e está internada. A linguagem do filme volta a mudar, com cenas belíssimas, longos minutos esperando algo acontecer e um final não tão empolgante levando em conta a construção que foi feita. É apenas o fim dessa história que traz um dos momentos mais inesperados do longa.

DESFECHOS CORTADOS

O principal problema de Ghost Stories é de fato a mudança brusca de linguagem. O filme transita entre falso documentário, suspense, comédia e trash e, no fim, alcança uma narrativa fantástica que pode fazer o expectador acreditar que “encostou no controle remoto sem querer” e se transportou para um outro filme. Porém, o que de fato incomoda são os elementos jogados em tela e perguntas que ficam sem respostas e são simplesmente descaradas com a reviravolta.

A parte mais interessante do passado do protagonista — a história do pai dele, por exemplo — é deixada de lado e somos levados para um flashback desinteressante, que prolonga a narrativa mais que o necessário.

O final não chega a mostrar maior criatividade que as histórias apresentadas. O fato de todos os relatos serem cortadas no exato momento da aparição fantasmagórica parece uma alternativa preguiçosa, que se torna cansativa e previsível.

Porém, Ghost Stories tem bons momentos e consegue agradar. A câmera traz belos elementos visuais, a trilha sonora é bem utilizada e bons sustos são garantidos — o que de fato é o mais importante em um filme de horror.

*Glossário:

  • Plot — o mesmo que tema/enredo do filme.
  • Jump scares — técnica com o objetivo de assustar o público, surpreendendo-o com uma mudança abrupta de imagem, som ou evento.
  • Trash — filme de baixo orçamento, geralmente associado ao terror, que acabava gerando risos ao invés de assustar.
  • Poltergeist — um tipo de evento paranormal, que se manifesta em um ambiente no qual existem ocorrências físicas.

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