Porque não sigo os conselhos que dou?

Uma mão cura a outra, mas a mesma não pode colocar o band-aid em si.

Victor Campos Aziago
Parábola

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Quando precisamos de ajuda, o que geralmente fazemos? Procuramos ajuda, certo? Mas de onde? De um médico? De um psicólogo? Não! Buscamos o ombro quente de amigos e familiares, para molharmos com nossas lágrimas. Para deixar quente a orelhas deles com nossas reclamações.

No consultório dos suplicantes se tira o divã, e da lugar a uma mesa de bar. Em meio a balburdia boemia, você toma uma taça de vinho e tenta transmitir tudo que sente ao emissor à sua frente. Um amigo, que gostaria de estar com aquelas outras pessoas, festejando sua vida bebendo, mas está ali atento a suas palavras. Não se sinta mal, ele está bebendo sim. As vezes mais do que você, mas te dá toda atenção que precisa.

Eu já me acostumei a ser conselheiro de vida alheia. Já ouvi muitas suplicas e reclamações de amigos. Sei todo o roteiro. A pessoa vem até mim desanimada, desacreditada. Ela vê em mim um amigo para confiar seus problemas. E eu, como um bom amigo que adora falar, eu falo. Não que eu seja uma pessoa equilibrada, mas quando estamos fora do contexto é mais fácil de ver soluções. As vezes sou uma luz para aquela pessoa, as vezes ela sai mais confusa e chateada que antes. Faço o que posso.

Porém, as vezes me pego pensando no que digo. Não que eu não preste atenção no que digo. Sempre busco dizer algo verdadeiro, e não um texto saído de um livro de auto-ajuda. Eu paro e analiso o que disse, e percebo que aquilo poderia se encaixar em algum problema que eu passo. Sim gente, conselheiros também tem problemas, assim como médicos também tem doenças.

Eu percebo que muitos dos problemas que as pessoas se queixam eu também tenho. E porque, oras bolas, eu não sigo o que eu digo? Como eu disse antes, é fácil avaliar de fora e achar uma solução.

Parece que quando somos o analista da rodada, estamos num patamar alheio a tudo. Somos pessoas intocáveis ou que superamos todos os dilemas da vida. Queridos, quem nunca fez merda na vida? Mas sei lá, parece que nada daquilo que eu digo eu sigo, mas na hora parece muito bom de dizer. Se eu gravasse os meus conselhos, e depois ouvisse, talvez não teria me metido em tanto buraco.

“Ai miga ele não presta”. “Serio?, mas e você?”

Quando estamos até o pescoço presos na lama movediça nosso único pensando é sentar e chorar. Bom sentar não, ficar na horizontal e se mexer o menos possível. Quero dizer, não conseguimos achar uma solução, pois estamos estagnados. O medo, ou a falta de fé, nos deixa cegos. Podia ter um galho na minha frente, com um pisca-pisca luminoso amarrado nele, mas eu só quero saber de chorar e pensar em tudo que não comi, vivi ou vi. Poderia até ter um cara gritando meu nome, e dizendo que na verdade eu nem estava preso, mas eu estou perdendo muito tempo gritando o nome da minha mãe e dizendo o quanto a amo.

Somos assim quando sofremos. Tendemos a aumentar e piorar nossos problemas. Muito poderia ser resolvido se parássemos para respirar. É claro que existem todos os tamanhos de conflitos. Para muitos não é um problema George R. R. Martin ainda não ter lançado o próximo livro, de sua épica saga. Mas eu juro, que se visse aquele papai noel na rua eu lhe daria um tapa, feito Tyrion Lannister. Assim como para mim, não é tão grave assim a crise no país, que os jornais gostam de enfatizar em suas páginas finas.

Cada um sabe de suas dores. Eu tento ajudar as pessoas, mas sei que no fim cada um é a solução pra si mesmo. Até porque metade dos nossos problemas surge dentro de nós. Nos enfiamos em furações gerados por nossas inseguranças. “Será que ele me ama?”, “Será que vou conseguir aquele emprego?”, “Será que terei dinheiro para viajar”? Provavelmente todas as respostas são sim, mas isso não é o fim

Um conselho que sempre dou e que agora passo a usar para mim: Nada é tão ruim que não se possa resolver. Vamos dar uma de Pollyana agora — apesar de eu odiar essa garota — olhe para seus problemas. Eles realmente são tão sérios assim? Se o cara não te ama, procure alguém que te ame. Se não conseguiu o emprego que sonha, continue tentando em outros lugares. Sobre a viagem, venda alguma coisa que não usa mais, ou procure um destino mais barato.

Perdemos tanto tempo no ato dramático que esquecemos que podemos sair dele. Queremos tanto chorar de baixo da chuva ouvindo Don’t Speak, que esquecemos que podemos entrar dentro de casa, comer com os amigos e rir sobre a vida.

A partir de hoje serei meu próprio amigo. Darei conselhos a mim que eu dou a qualquer outro. E quando estiver ajudando alguém fingirei estar ao lado da pessoa como ouvinte, seguindo os passos que meu eu maduro dita. Bem geminiano isso, eu sei.

Essa dica que eu deixo a quem leu isso tudo sem fechar a página. Se ajude antes que de querer dar péssimos conselhos e ferrar a vida da sua amiga, a fazendo voltar com o namorado idiota, ou fazendo aquele seu “brother” fazer uma grande merda. Não leve a vida tão duramente.

A vida é um conjunto de parábolas. Cada curva é uma surpresa.

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