Você não precisa sair do Armário.

Pelo menos, não pelos motivos errados.

Victor Campos Aziago
Parábola

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Neste estranho mundo, estamos o tempo todo tentando colocar ordem nele. Calculamos o período de luz do sol em um aparelho, classificamos animais e plantas, mapeamos regiões. Até mesmo tentamos classificar coisas abstratas, como sentimentos e gostos.

Parece que você precisa o tempo todo se encaixar numa forma, num molde pré moldado. Faz parte do pacote: Precisamos ser humanos; Sermos femininos ou masculinos; Identificarmos em uma raça ou cor de pele; Pertencer a uma nação e religião; Membros de um grupo social; Possuir instrução ou profissão; e por ai vai, infinitamente.

Se uma pessoa não se identifica através destes rótulos é como se ela não existisse. Como se sua presença não tivesse uma origem ou justificativa. Como se cada “tag” indicasse quem você é, e o que pretende. Mas somos mais que classificações.

Uma grande cobrança agora é que devemos identificar nossa sexualidade. Um ato tão intimo, que agora precisa ser exposto. Não, não estou dizendo que você deve esconder seus desejos e oprimir eles, mas pra que minhas tias precisam saber com quem me deito, por exemplo?

Após o estouro da liberdade sexual as pessoas estão cada vez mais livres para expressar sua sexualidade. Cada vez a comunidade LGBTQ+ tem conseguido respeito e posição na sociedade. Mesmo debaixo de pedras e “lampadadas”, as pessoas tem se tornado mais conscientes, de que o ódio não é resposta para pessoas que só querem se amar.

Com essa liberdade, porém, se criou uma ideia errada, de que todos os LGBTQ+ devem se assumir e expressar seus desejos abertamente. Estar no armário não significa que a pessoa está confusa, que tem preconceitos contra os outros, ou porque possui medo. Sim, muitas pessoas se escondem com medo de rejeição da família e de serem atacados. Essa é uma realidade ainda muito marcante, mas existem aqueles que simplesmente não querem expor sua particularidade.

Se assumir é um belo ato corajoso de botar seu rosto no sol. Ser abertamente homossexual ou bi é um ato social. É dizer ao mundo o quanto você se ama. Ser assumido é ser exemplo, mas entendam, nem todos tem essa força. Muitos hoje estão no armário para não perderam seus empregos ou não serem expulsos da família. É triste não poder ser quem é.

Estar no armário não significa mentir. Existem pessoas que dividem com os amigos ou pessoas próximas suas experiencias sexuais, mas preferem privar os familiares de tais detalhes. Acreditam que é mais conveniente não contar, até porque alguns pais podem ser muito conservadores. Assim como tem gente que faz isso para se proteger do preconceito.

A questão que quero discutir é: “Qual a necessidade que as pessoas tem em me classificar?”. A menos que alguém esteja sexualmente atraído por mim, porque ela precisa saber se sou gay ou não? Esse é o problema com os rótulos. O preconceito que vem agregado a eles. Ser LGBTQ+ não é uma doença, nem um defeito. O problema é que existem pessoas que te diminuem dependendo de sua sexualidade. Inclusive dentro da comunidade. Devemos ter orgulho de quem somos, sim. Nossa sexualidade é apenas um dos pontos que formam quem somos.

Se eu saísse amanhã de casa, segurando um balão dizendo “Sou gay”, o que me aconteceria? Nada, isso mesmo. Tirando certos olhares de desprezo, minha vida continuaria a mesma. O que quero dizer, a sexualidade não deveria ser um tópico usado para definir o caráter. Se você acabou de me conhecer me pergunte sobre meus sonhos, planos e coisas que gosto de fazer. Minha sexualidade só irá lhe dizer com quem sinto prazer, e não se sou uma boa pessoa.

O ato de se assumir deve partir da pessoa. Ela deve sair e mostrar seu rosto. Se assumir é uma transição que deve ser feita com orgulho, mas também com muita reflexão. Deve-se pensar no motivo de você estar fazendo isso. Se o motivo for de enaltecer seu amor próprio, então arrebente as portas.

Aprenda a ver homossexualidade e bissexualidade como algo natural e daqui a uns anos nem precisaremos esconder nossa sexualidade.

Acho engraçado que héteros não tem essa pressão. Eles não tem que chegar nos pais e dizer: “Olha eu amo vocês, mas preciso tirar isso do peito. Eu sou hétero”. Porque ser gay ou bi são algo que precisa ser assumido? Fica parecendo que é um defeito ou uma doença que precisa ser exposta. Ser gay precisa ser visto como algo natural. A necessidade de esconder e depois assumir se deve ao fato de as pessoas serem reprimidas

Se não houvesse o ódio em cima da comunidade LGBTQ+ os jovens poderiam explorar livremente sua sexualidade, sem precisar se rotular ou esconder o que gostam.

As pessoas dizem “Mas você precisa ser sincero com as pessoas, com seus pais. Você está vivendo uma mentira”. Mais uma coisa que precisa ser esclarecida. Ser encubado é diferente de não ser assumido. Uma pessoa que está no armário ela tem total consciência de sua sexualidade, e inclusive, pode ter uma vida sexual ativa. Eles apenas querem manter isso para eles. Acreditem gente. Meus pais se preocupam mais com meu futuro, do que se dou a bunda por aí.

Se você tem um amigo com problemas de se assumir, dai a conduta é diferente. Existem aqueles que mentem para si mesmos. Aqueles que tem tesão pelo mesmo sexo, mas preferem a farsa. Neste caso cabe a pessoa refletir sobre seus desejos e procurar ajuda.

Muitas pessoas já me perguntaram sobre minha sexualidade e na maioria das vezes eu fui super sincero, mas agora percebo o quanto este questionamento é desnecessário. Se eu tenho intimidade contigo, em uma conversa informal esse assunto pode até surgir. Sexo é uma necessidade básica do ser humano e todo mundo faz (menos os assexuais). Não é algo que se deve ter vergonha, eu mesmo adoro conversar com amigos sobre isso. Porém, como um amigo me diz “o minimo que as pessoas precisam ter é bom senso”. Se eu não te dei liberdade para discutir isso, não toque no assunto.

Não saiam por aí querendo arrancar as portas de todos os armários da cidade. Cada pessoa lida com suas particularidades de forma diferente. Cada um sabe como lidar com sua própria evolução. Eu tenho vivencias diferentes dos meus amigos e não posso forçar eles a viverem suas vidas como eu vivi, e vice-versa.

Se você está preocupado com seus amigos, sente e converse, mas não os puxe pra fora como se isso fosse tóxico a eles. Se ponha no lugar das pessoas antes de querer cobrar atitudes delas. Viver no armário não é um ofensa a quem teve coragem de se assumir. Estar no armário é proteger a si mesmo e a liberdade de se descobrir particularmente. Ninguém vive dentro dele pra sempre, mas só quem está dentro dele sabe quando sair.

Ao invés de tirar ele de lá, porque não entra com ele e conversam um pouco? Uma conversa fica bem mais interessante num ambiente aconchegante e reservado.

A vida é um conjunto de parábolas. Cada curva é uma surpresa.

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