Sinto que tô murchando, como uma flor. Já não sinto prazer nas coisas, já não aprecio o sol entrando pela janela e enchendo o quarto de luz, porque ele não me ilumina mais por dentro, já não enxergo a beleza do vento nessas tardes incrivelmente quentes de inverno, porque a temperatura não faz mais diferença, já não consigo mais entender porque todo mundo ama os dias claros com céu azul, porque não faz diferença já que meus olhos só sabem perceber a escuridão, mas lembro que há pouquíssimo tempo era eu quem amava dias claros de céu azul. Lembro que há pouco tempo eu conseguia ser luz, conseguia amar o sol, conseguia ser um pouco como ele, lembro que há pouco tempo eu conseguia ser pureza, conseguia vê-la em tudo, percebê-la em tudo, lembro que há pouco tempo eu não era assim: mergulhada nessa névoa que cobre tudo e me envolve tanto que não me deixa ver nada direito.
Essa recaída da depressão tá me tirando tudo, mas o que mais dói é essa impossibilidade de ver amor nas pequenas coisas, como antes, como eu sempre vi.