Marceli Gambatto
para cultivar a leveza
3 min readAug 8, 2017

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As coisas estão difíceis. Muito difíceis. Até agora, nesse segundo semestre, foram poucas as aulas que eu realmente gostei. Achei tudo muito difícil, muito diferente, e é estranho eu não ter gostado disso, sempre gostei de coisas difíceis e diferentes. Talvez o problema não seja as coisas, e por mais clichê que dizer isso pareça, talvez seja eu e essa forma acinzentada de enxergar as coisas, talvez seja eu e essa falta de vontade, essa falta de energia, essa falta de força. Mas não sei. Só sei que as coisas estão estranhas de um jeito que nunca haviam ficado antes — até porque, se tivessem, já não me seriam mais tão estranhas.

Parece que tudo ao meu redor está feliz e eu não consigo me encaixar nessa felicidade também. Talvez seja toda a tensão política e social, mas provavelmente seja só a depressão mesmo, me pregando peças pela milésima vez. Já tô me acostumando com isso. Já tô me acostumando com a ideia de que tudo uma hora volta a ficar bem. Mas por enquanto tudo é um peso, tudo dói.

Só que, apesar de tudo, com todas as coisas pesando ao meu redor, há algo diferente, um diferente muito bom. Há a mediunidade sendo trabalhada aos poucos. Há a espiritualidade e a crença em tantas coisas maravilhosas, em energias, espíritos, Orixás, Tarô, ervas, magia.

Isso ameniza os dias.

É tão lindo finalmente conseguir acreditar que há muitas coisas além de nós, além do que eu achava que existia e que se bastava. Hoje entendo: nunca bastou. Sempre havia uma lacuna vazia, algo que faltava, algo que me faltava. E tô preenchendo essas lacunas aos pouquinhos, com calma, juntando todas as coisas que fazem sentido pra mim. Tô criando um pequeno caos aqui dentro, da forma mais bonita e compreensível que consigo. E tá dando certo.

Por mais que uma recaída da depressão esteja se aproximando, é diferente. E isso dá esperança. Vai ser possível lidar. Agora eu tenho várias coisas ao meu lado, comigo, com as pessoas que me querem bem. Tudo está se interligando e isso é tão bonito que dá um calorzinho no peito. Acho que o nome disso é esperança. No fundo eu sei que já tá tudo bem. Difícil, mas bem, porque eu sei que não tô sozinha. Tem um mundo inteiro de muita fé me protegendo. E eu tô segura no meio dele. Tô bem. Está tudo bem.

“Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, eu não ando só

Não misturo, não me dobro
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo
Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que cobre meu corpo
Garante meu sangue, minha garganta
O veneno do mal não acha passagem
E em meu coração, Maria acende sua luz e me aponta o caminho”

(Carta de amor — Maria Bethânia)

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