Qual a diferença entre parêntese e travessão?
Conversávamos no café da redação quando o experiente repórter – mais anos de profissão do que eu tinha de existência, e dono de um dos melhores textos da imprensa brasileira – fez a queixa: editores, dizia ele, nem sempre conhecem o trabalho que fazem.
– Certa vez tive um que trocava meus parênteses por travessões – afirmou, com a autoridade da vasta cabeleira branca a um metro e noventa de altura.
Fiquei intrigado. Para mim, parênteses e travessões tinham a mesma função: destacar trechos ou expressões dentro de orações intercaladas.
Voltei à minha mesa e fui à gramática. E lá dizia que travessões poderiam ser usados para substituir parênteses e vice-versa. Enchi-me de coragem e fui pedir explicações. O repórter sorriu, havia conquistado a audiência.
– Gramaticalmente não está errado – ele admitiu. – O problema é que a substituição pode mudar a intenção da autor.
E me deu o exemplo que nunca mais esqueci:
No primeiro caso, segundo ele, os parênteses atenuam a força da observação, como se o autor sussurrasse pelo canto da boca a descrença quanto à promessa do governador.
– O travessão na segunda frase, ao contrário, amplifica a descrença – explicou o repórter. – É como se eu estivesse gritando aos leitores, no meio da promessa do governador, que não se deve confiar nela.
Foi uma dica preciosa. Aprendi que, na prática, a norma culta também está sujeita a sutis interpretações. E que é importante pensar na intenção que se tem ao escrever antes de decidir pelo uso de parênteses ou de travessões.
No seu próximo texto, lembre-se:
Texto originalmente publicado no site do EditorExpress.