A Rosa E O Príncipe

Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade
6 min readJan 23, 2018
“the little prince”, no deviantart da Niken Anindita

A Luz Que Ofusca O Sol

Longe de seu povo,
Se encontrava o Príncipe só
Procurando nada de novo
Apenas olhava ao sol.

Ao horizonte, em busca de lembranças
Como estaria seu reino?
Recordava seus dias de liderança,
Mas não queria se desesperar.

Então um eclipse aconteceu
A luz do sol veio ao breu
Havia algo maior e mais brilhante:
Uma mistura de cores ofuscante

[Príncipe:]
Não há estrela; não há lua
Não há cometa,
Nem planeta:
Não há luz que ofusque o Sol como a tua

Na tua presença, vejo tudo claro,
Um sentimento raro.
Há muito tempo já não sentia isso
Diante de um sorriso.

O laço estava dado
E nada ia desamarrá-lo.
E quando o Príncipe o assumiu,
Mais uma vez a Rosa sorriu.

05/02/07;

O Valor Da Mais Bela Das Mentiras

[Príncipe]:
Viva, hoje é dia de alegria!
O dia que a mais bela das rosas nasceu!
Nunca haverá e nem poderia,
Flor mais linda que já floresceu!

[Rosa]:
Não diga assim que me encabulo
Todo dia me faz tão feliz!
Seria muito triste se você fosse mudo
Eu sempre gosto muito do que me diz

Então a Rosa se surpreendeu
Do braço escondido do Príncipe surgira um buquê
Mas não se contentara, não sabia o porquê
E foi assim que o fracasso se sucedeu:

[Rosa]:
Sinto muito, mas não posso lhe corresponder
Suas palavras são sinceras, e disso eu sei
Mas nada além da sua amizade devo merecer

E o buquê murchou, seco como capim
Ele nunca imaginara que seria assim!
Estava triste e chorava!
Para ele, não restava mais nada!

[Príncipe]:
Ó dona Sinceridade!
Quantas verdades, vale
A mais bela das mentiras?

“Nenhuma”, ela dizia.

06/09/07;

Às Lágrimas Entre Seus Espinhos Que Fazem Sangrar

[Rosa:]
Por que me abandonou?
Nunca mais me procurara…
Não me rega mais!

[Príncipe:]
Não a abandonei, sua tola
Ainda estou aqui
Mas desde o dia em que não me quis
Ando assim, meio infeliz

[Rosa:]
Nada posso fazer!

[Príncipe:]
E eu sei que não.

[Rosa:]
O que quer, então?
Quer me ver chorar? Pois conseguiu!
Veja estas lágrimas entre meus espinhos
Quem vai enxugá-las?

E o Príncipe, delicadamente, passou seus dedos
A Rosa sentiu seus espinhos o perfurarem
Os dedos começaram a sangrar, manchando vermelho
E o Príncipe sorriu, não lhe importava que sangrassem.

[Príncipe:]
Com certeza, ainda é minha eleita,
Não importa com quem eu esteja.
Sempre vou voltar para lhe regar
Até o dia em que a estrela que é o seu sorriso
Se apagar.

Então não se preocupe, que eu me vou,
Mas não para sempre.
Então espere, conte o tempo que passou
Que ainda volto para lhe fazer contente.

As palavras acalmaram a Rosa,
Mas não diminuíram seu temor.
Então, o Príncipe se foi,
Precisava se descobrir a partir de agora.

A Rosa até resmungou: “Como quiser”,
Porém não derramou mais uma lágrima sequer.

29/02/08;

Como Dois Sóis

[Rosa]:
Viva, hoje é dia de alegria!
O dia que o mais fiel dos príncipes voltou!
Nunca haverá e nem poderia,
Ser mais leal que sempre me podou!

[Príncipe]:
Não diga assim que me envergonho
Há tanto tempo não lhe podo!
De tão longe, sempre a via em sonho.
Fico tão feliz que lhe podar agora posso!

Então o Príncipe se surpreendeu
De repente, a Rosa declarou como queria vê-lo
O Príncipe sorriu, e respondeu de igual, sem apelo
E foi assim que a reconciliação se sucedeu:

[Rosa]:
Você fez tanta falta por aqui!
As lagartas me comiam, e às vezes faltava água.
Senti falta do seu dom de me fazer rir
Minha vida era um rio que ao mar salgava.

E o Príncipe sorriu ainda mais
Ele nunca imaginara que seria assim!
Estava feliz e gargalhava!
Para ele, não restava mais nada!

[Príncipe:]
Ó dona Amizade,
Qual a cura para tanta ausência?

“Presença”, ela dizia.

[Rosa]:
Presença não significa simplesmente estar ao lado,
Muito além disso, é estar ao lado e o tempo não passar,
Só para logo depois reparar que o tempo já acabou.

E, mais uma vez, o Príncipe sorriu
E assim como Rosa havia feito à primeira vez,
O Sol foi ofuscado.

E os dois brilhando,
Continuaram orbitando entre si
Como dois sóis.
A sós.

10/12/08;

O Dia Em Que Tocou Minhas Pétalas

[Rosa:]
Garanto que, ao tocar minhas pétalas, pude sentir seus
Lábios, e todo o sentimento que carregava neles.
Apesar disso, estou confusa. Nunca imaginei que
Um dia isso viria a acontecer.
Como foi bom, e disso eu nunca vou me esquecer:
O dia em que tocou minhas pétalas.

11/04/09;

A Materialização De Todo O Romantismo

Seu sorriso, junto ao dele, iluminava o mundo.
Ao verdadeiro sol, lhe foi dado o ostracismo.
Havia algo mais incandescente, mais profundo.
A materialização de todo o Romantismo.

[Rosa]:
Quero para mim aquela sensação
Do dia em que me tocou.
Com você, eu sinto, não há ilusão.
Tal apaixonado foi como me beijou.

[Príncipe]:
Ó Rosa, pois então que fiquemos assim,
Não há porque você se afastar de mim!
Sou eu afortunado e feliz,
Que de você, isso sempre quis.

[Rosa]:
Que pretensioso você é!
Parece sempre conseguir tudo o que quer!

[Príncipe]:
Eis a verdade o que se vê.
Pois tudo o que sempre quis foi você.

19/04/09;

Um Solo A Dividir

Eis que então chegou o dia do matrimônio,
E veio o padre, em todo o seu sacerdócio.
Assim como o Aviador, a Raposa
E todas as figuras de todos os asteróides.

[Sacerdote]:
Tu, Príncipe, aceitas podar e regar
A tua esposa
Todos os dias de tua vida?

[Príncipe]:
Sim.

[Sacerdote]:
Tu, Rosa, aceitas admirar e coroar
A teu esposo
Todos os dias de tua vida?

[Rosa]:
Sim.

[Sacerdote]:
Uma vez que é vosso propósito contrair o santo Matrimônio,
Uni as mãos direitas
E manifestai o vosso consentimento na presença de Deus
E da sua Igreja.

[Príncipe]:
Eu, Príncipe, recebo-te por minha esposa
A ti, Rosa, e prometo ser-te fiel,
Amar-te e respeitar-te,
Na alegria e na tristeza,
Na saúde e na doença,
Todos os dias da nossa vida.

[Rosa]:
Eu, Rosa, recebo-te por meu esposo
A ti, Príncipe, e prometo ser-te fiel,
Amar-te e respeitar-te,
Na alegria e na tristeza,
Na saúde e na doença,
Todos os dias da nossa vida.

[Sacerdote]:
Pode beijar sua esposa.

O caule dela se juntou ao corpo dele.
Suas raízes perfuraram o chão junto aos pés dele.
Tinham agora um solo a dividir.
E mais uma vez, ele tocou suas pétalas.

01/05/09;

Uma Rosa Para Nunca Mais

Não havia se passado muito tempo desde o matrimônio.
O Príncipe não entendia o que estava havendo.
A luz não era mais como antes,
Era fosca, morta, quase apagada.

[Rosa]:
Parece que ocorreu um grande equívoco
Não sei bem explicar, armadilha do destino.
Toda chama que acende, um dia tomba à escuridão.
Acredito ser o nosso caso e o de nossa união.

[Príncipe]:
Por que diz isso, minha Rosa?
Foi algo que eu fiz?
Que eu deixei de fazer?

Não esperava um fim assim.
Tão cruel, tão repentino, tão arrebatador.

[Rosa]:
Então, Príncipe, me esqueça.
Será o melhor para nós dois
Não espero sua decisão, qualquer que seja.
Já decidi por nós para evitar a dor.

E o Príncipe, que da solidão veio,
Para a solidão voltou.
Num último gesto para consigo mesmo,
Recitou um soneto.

[Príncipe]:
Agora que estou só novamente,
Reavalio idéias em minha mente.
Um turbilhão de pensamentos,
Sinto-os todos pesados e densos.

A solidão não me conforta.
A tristeza não me conforma.
Não há nada que me dê forma
De esquecer a minha amada Rosa.

E sentado aqui, à beira de meu planeta,
Torço para que passe um cometa
Que me leve para nunca mais.

E sentado aqui, à beira de meu planeta,
Vejo passar um lindo cometa
Que me lembra uma Rosa para nunca mais.

22/05/09;

Epílogo

[Príncipe:]
Insistentemente, permaneceste em minha memória.
Sabes bem disso, mesmo que não nos vejamos mais.
A saudade apertava quando lembrava de ti, Rosa.
Beleza não faltava, e bondade tamanha que vi jamais.
E agora, depois de todo esse tempo apenas, digo que passou.
Lamento que tenha sido assim, para mim e para ti.
Lamento por toda a má história que nos marcou.
Agora, peço só para ser esquecido, assim como te esqueci.

Texto escrito originalmente por volta de 2009.

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Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade

Autor, assistente editorial na Jambô Editora, redator da Dragão Brasil. Ele.