Encontrado no tumblr Live and Let Die.

Decifra-me

Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade

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Contam muitas histórias sobre mim.
Confissões e segredos estão por trás de meus olhos de vidro.

Já andei nessa terra como um deus.
E também como um diabo.

Quando o homem pôs a primeira pedra sobre a outra,
Quando vagou pelo deserto desnorteado,
Quando alimentou seus filhos com esperança, mas também ódio,

Eu estava lá.

Em todas as vezes que já fui injustamente arremessado ao rio para morrer,
E nas vezes que reconheceram minha majestade com enormes maravilhas,

Eu estava lá.

O homem acredita com sinceridade que esse mundo lhes serve,
Que estão aqui para conquistar o dia e a noite.
Pior! Que esse é um direito concedido a eles por deuses.

Eu não me recordo.
E eu estava lá.

Quando o sol se põe, e as ruas ficam escuras e amedrontadas,
Quando a beleza do mundo desvanece e só resta brutalidade,
Quando o homem se recolhe ao seu refúgio medíocre de conforto e solidão,

Eu estou lá,
Posto que sou o andarilho da noite.
O vigilante que espreita.
O guardião dos caminhos.
O farol na escuridão.
O último verso de todos os poemas.
A resposta perdida de toda a filosofia.

A maior testemunha da generosidade e da atrocidade deste mundo.

O gato.

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Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade

Autor, assistente editorial na Jambô Editora, redator da Dragão Brasil. Ele.