Meu Pink Floyd

Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade
2 min readNov 5, 2018

Este é o último texto que escrevo sobre essas eleições.

Quando eu era criança, eu tinha uma guitarra de brinquedo e adorava fingir tocar Pink Floyd nela. Meu pai e minha mãe, extasiados com o bom gosto musical que conseguiram passar pra mim, sempre pediam:

“Toca pra mim, meu Pink Floyd!”

E eu dedilhava de forma aleatória por cima do braço da guitarra de plástico, sempre orgulhoso da admiração deles.

Ontem, um candidato neofascista se tornou presidente do Brasil. Não é a primeira vez que um líder autoritário vai mandar no país. Torço para que seja a última. O importante, nesse momento, é que, através de todas as tiranias que o Brasil já viveu, os “outros” nunca foram expurgados ou eliminados, porque são fortes. E é essa esperança que devemos cultivar agora.

Eu cresci na escola lendo sobre algumas dessas pessoas fortes, vendo filmes e ouvindo relatos sobre elas. Nunca imaginei que a história cobraria da minha geração que nos tornássemos fortes assim também.

Eu sou do tipo que guarda um pessimismo otimista, e isso permeia tudo o que eu escrevo e digo. Pessimista porque frequentemente espero o pior das situações, mas otimista porque igualmente espero que todos possam aprender com elas para que nunca se repitam novamente. Existe aprendizado no sofrimento e nas decisões erradas; só com isso podemos melhorar.

Este é o último texto que escrevo sobre essas eleições, mas não é o último que faço sobre o meu país e sobre o líder tirano que caíram na ilusão de escolher. E a razão para isso é muito simples: não sei se meus pais ainda gostam de Pink Floyd depois dos shows do Roger Waters, mas eu gosto.

Seguirei tocando para eles, por eles, mesmo que isso não lhes cause mais tanto orgulho quanto antigamente, mesmo que eles me implorem para parar.

Seguirei sendo o Pink Floyd pelo qual sempre pediram.

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Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade

Autor, assistente editorial na Jambô Editora, redator da Dragão Brasil. Ele.