Mundos De Isopor

Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade
2 min readJan 28, 2019

Sentado à calçada, um menino se divertia com uma dessas peças de isopor que vem protegendo eletrodomésticos. As protuberâncias eram prédios, os sulcos, as ruas, o isopor, concreto.

Muitos poderiam passar por aquela rua e se perguntar o que aquela criança fazia com seus bonecos e um pedaço de isopor. Foi apenas um outro menino que viu e entendeu na mesma hora.

Há mundos inteiros onde menos se imagina, e aquelas duas crianças sabiam disso.

A partir daí, muitos mundos foram criados e destruídos, porque a força criativa também demanda seus sacrifícios. Grandes e pequenos acontecimentos: a vida comum de um homem simples, a infindável saga de um herói grandioso, a tragédia ingrata e a glória inalcançável de povos inteiros.

Você mesmo pode estar dentro de um dos universos imaginado por esses dois meninos. Talvez essa seja afinal a resposta para o grande mistério da existência: crianças que se conhecem à beira de uma calçada e veem um mundo em um pedaço de isopor, e por terem o visto e não sendo mais possível desvê-lo, são agora responsáveis por algo diferente e especial.

Naquele momento, houve luz, embora ninguém fosse testemunha, já que é assim que nascem os mundos: sem testemunhas.

Alguns podem não entender. Há o elo romântico, o elo de sangue e até mesmo o custoso elo do rancor e do ódio, mas poucos entendem o elo que une duas mentes pela criatividade. Afinal, existem mundos na poeira atrás da estante, nas páginas de um livro, nas galáxias distantes e no vazio de nossas almas, mas poucas vezes há mundos entre duas mentes.

Mas o que importa é a luz que segue acesa. Uma vez quase apagada, que ela possa emanar e tocar mais gente, porque um mundo nasce solitário, mas só cresce mesmo se houver testemunhas das suas maiores maravilhas.

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Glauco Lessa
Para O Bem Da Verdade

Autor, assistente editorial na Jambô Editora, redator da Dragão Brasil. Ele.