Natal Branco

Neste Natal, está tudo meio confuso. A tradição milenar dos mesmos típicos personagens, como o tio do pavê, a tia das namoradinhas, o primo crente que puxa a oração na hora da ceia e a irmã revoltada que não interage com ninguém, está renovada com figuras nunca antes vistas.

Agora temos o tio discutindo economia com toda a sua expertise de qualquer outra coisa que não seja economia. Ele menciona o Foro de São Paulo, a Venezuela e todas as coisas ruins que o socialismo trouxe para o Brasil. Sobre o pavê, nem uma palavra sequer.

Já a tia está preocupada com a ideologia de gênero e os órgãos genitais das crianças e dos adultos. Ela não sabe o que está acontecendo com o mundo e por que todo mundo está virando viado. Ela também não sabe explicar por que ser viado é necessariamente ruim; ela só tem certeza que é. Mais do que namoradinhas, ela se preocupa se você não está tendo namoradinhos por aí. Vice-versa dependendo do seu gênero.

O primo crente está radiante. Feliz pelas pessoas estarem se reaproximando de Deus (qual deles?), aproveita a oportunidade em muito tempo para iluminar as almas dos parentes afastados da doutrina, enquanto acusa o Marxismo Cultural pelos males da humanidade. A empolgação foi tanta que ele quase esqueceu de puxar a oração na hora da ceia. Falar do diabo e do comunismo tem aproximado mais as pessoas de Deus do que falar diretamente com Ele. Como ninguém havia pensado nisso antes?

Só que já haviam.

De todos esses, a única figura que não mudou é a irmã revoltada que não fala com ninguém. Certa está ela. Para os outros parentes, segue a certeza de que o Natal nunca será vermelho, e nem o Brasil. Para a irmã, segue a certeza de que o Natal continua sendo branco.

Assim como o Brasil.