Aplicativos de mobilidade fortalecem segurança viária

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Para onde vamos?
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6 min readMay 15, 2018

Incentivos a prudência aos motoristas e análise de corridas das madrugadas podem ser aliados na luta por menos mortes no trânsito

O número de mortes relacionadas a acidentes de trânsito voltou a crescer no Brasil depois de cinco anos de queda. Em 2017, 41.151 pessoas morreram no Brasil vítimas de acidentes envolvendo veículos automotores, segundos dados do DPVAT (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres). Em 2016, esse número tinha sido de 33.547 vítimas.

Sinalização de trânsito em estrada (Foto: Shutterstock)

Os números mostram que, em média, mais de 40 mil brasileiros morrem anualmente por causa de acidentes de trânsito. E 400 mil ficam com algum tipo de sequela. No mundo, as mortes no trânsito chegam a 1,25 milhão de pessoas — e é a principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. Enfim, a segurança viária, definitivamente, é uma questão de saúde pública.

Não à toa, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, elaborados em 2015 pelos Estados membros da ONU (Organização das Nações Unidas), estabeleceram que o número de mortos e feridos no trânsito em todo o mundo deveria ser reduzido à metade até 2020.

Na esteira dessa diretriz, foi divulgada há seis dias a versão em Português da publicação “Salvar Vidas: pacote de medidas técnicas para a segurança no trânsito”.

O manual possui como eixos fundamentais a gestão da velocidade, a liderança na segurança no trânsito, o projeto e a melhoria da infraestrutura, as normas de segurança veicular, o cumprimento das leis de trânsito e inclusive a sobrevivência pós-acidente.

A publicação entende que esses componentes podem ajudar os países a reduzirem o número de mortes e lesões no trânsito; garantir a qualidade do ambiente para pedestres e ciclistas; fortalecer a estrutura institucional e legislativa para a política de segurança nas vias; e enfrentar questões sociais e de governança que afetam a política de segurança no trânsito.

99 fortalece a Segurança Viária

Diante disso, é importante ressaltar que os aplicativos de mobilidade urbana são grandes aliados na luta por menos acidentes e mortes no trânsito.

A 99 revigora a Segurança Viária, essencialmente, por dois fatores.

A plataforma ajuda a tornar o trânsito mais seguro, ao incentivar — via avaliação dos passageiros — os motoristas a serem mais prudentes que o motorista médio. Além disso, a análise de informações das viagens da plataforma (anônimas e agregadas) pode ser valioso insumo à administração pública na gestão de tráfego das cidades.

Portanto, nada mais natural a 99 adotar uma série de iniciativas nesse mês para reforçar os ideias do Maio Amarelo — campanha internacional de segurança no trânsito.

Inteligência de dados em benefício da vida

A empresa está oferecendo a oito municípios brasileiros — dentre eles, seis capitais — para compartilhar análises de dados agregados e anônimos das corridas da plataforma durante as madrugadas de finais de semana de fevereiro, março e abril de 2018.

Homem dirige segurando garrafa de cerveja (Foto: Shutterstock)

O entendimento é de que essas informações podem auxiliar na implementação ou na avaliação de políticas públicas de fiscalização ou conscientização sobre bebida e direção. A ideia é fornecer aos gestores públicos subsídios para a tomada de decisão.

Dentre todos os pontos de origens de corridas, a empresa separou as viagens que foram feitas durante as madrugadas (0h-5h) dos finais de semana (quintas, sextas e sábados), dias e horários durante os quais a maior parte das pessoas que está se deslocando o faz para algum fim de entretenimento — que, usualmente, envolve bebida alcoólica.

A análise, a partir desse ponto, toma a seguinte premissa: se em um lugar há pessoas que são conscientes e, após beber, solicitam corridas pela 99, também nesse local deve haver pessoas que bebem e dirigem seus próprios carros.

A partir de então, a 99 realizou uma análise que busca encontrar padrões de concentração estatisticamente significantes de pontos de início de corridas. Isso é realizado tanto na dimensão espacial (ou seja, quais são os lugares), quanto na espacial (ou seja, com que frequência ou padrão ele se repetem ou destacam). Essa análise tem algum poder preditivo: são nesses lugares que deve ocorrer o comportamento descrito acima.

Identificando hot spots

Encontrar esses locais em um mapa vai além de simplesmente identificar um ponto de concentração de chamadas; busca-se algum padrão espacial ou temporal que se traduza, estatisticamente, em previsibilidade de ocorrências futuras. Ou seja, interessa saber qual a probabilidade de que as corridas de uma dada noite futura se concentrem em um dado lugar.

A 99 lançou mão da busca por hotspots: locais que apresentam uma concentração não-aleatória estatisticamente significativa de viagens. Isto é, locais onde há algo acontecendo — e há tantas ocorrências desse acontecimento que, agregadas, elas se destacam do todo de maneira estatisticamente significativa.

Essas áreas apresentam uma concentração de viagens que é considerada não-aleatória e, portanto, permitem que se conclua que tal concentração é causada por alguma interferência do meio urbano.

A forma mais tradicional de se encontrar hotspots é a seguinte: primeiro, agrupam-se os pontos de ocorrências (no caso deste estudo, pontos de embarque de corridas da 99) de acordo com unidades geográficas (por exemplo, limites entre municípios ou subdivisões intramunicipais, como bairros, distritos ou subprefeituras).

Para os relatórios entregues aos municípios, as ocorrências foram agrupadas em um grid hexagonal. Isso resulta em uma cidade dividida em células. Cada uma delas apresenta um valor calculado já de início: o número de corridas lá originadas (em outras palavras, o número de pontos de embarque que se localizam no hexágono correspondente àquela célula.

A partir disso, para cada célula é calculada uma estatística de teste que busca dizer se aquela área é ou não um hotspot.

Padrões espaço-temporais

Além disso, para separar a influência de eventos diferentes e refinar a busca por áreas de concentração, a 99 realizou uma divisão temporal dos dados, além da espacial. Isso funciona como se houvesse um grid para cada intervalo de tempo e eles pudessem ser sobrepostos a fim de se encontrarem agrupamentos espaciais e temporais.

Por exemplo, um local pode não ser um hotspot espacial significativo. No entanto, ele pode se repetir a todo intervalo de tempo, de forma que se torna um local onde, certamente, haverá uma concentração de corridas. Analogamente, um local pode ser um hotspot em apenas um intervalo de tempo, o que indica uma baixa chance de sua repetição.

Na imagem abaixo, vê-se as células das corridas realizadas em Porto Alegre, durante as madrugadas de finais de semana (0h-5h de quintas, sextas e sábados), agregadas semana a semana.

E é possível identificar os seguintes padrões:

● Consecutive hotspot: uma localização que foi classificada como hotspot durante uma série ininterrupta de tempo que, obrigatoriamente, se dá no final do período analisado. Provavelmente, nesses locais há acontecimentos que se repetem rotineiramente nos últimos finais de semana, porém sem apresentar um padrão crescente de viagens (por exemplo, uma casa de shows que faz um evento por final de semana, tendo um público estável).

● Sporadic hotspot: uma localização que, esporadicamente, é um hotspot. Esse local foi um hotspot em menos de 90% dos intervalos de tempo e nunca foi um coldspot. Provavelmente, nesses locais houve acontecimentos completamente esporádicos e sem um padrão identificado de repetição (por exemplo, uma casa que é locada para festas).

Em outros municípios analisados, a 99 encontrou ainda um terceiro padrão:

● Intensifying hotspot: uma localização que foi um hotspot estatisticamente significante em 90% dos intervalos de tempo, incluindo o último. Além disso, os valores de viagens vêm crescendo e diferem da média de maneira estatisticamente significante. Provavelmente, nesses locais há acontecimentos que se repetem rotineiramente, com público crescente (por exemplo, uma área na cidade que sempre foi bastante frequentada, porém seu movimento é crescente devido a algum modismo ou eventualidade).

Portanto, tem-se uma análise detalhada dos padrões das corridas durante as madrugadas dos finais de semana que, sem dúvida, pode ajudar a aumentar a eficiência das ações de conscientização e fiscalização relacionadas ao problema de bebida e direção.

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