A maldição

A maldição era clara: qualquer um que movesse seu sarcófago cairia em desgraça. Porém, muito mais era dito na história oculta da antiga sacerdotisa do que em sua herança maldita.

Vinda do deserto misterioso em uma noite de tempestade de areia, a sacerdotisa sem memórias de seu passado ganhou a admiração e confiança do faraó, que havia perdido sua esposa para uma infecção violenta. Com o tempo, ela ganhou também seu coração. Porém, mesmo relutante, a sacerdotisa acabou apaixonando-se por uma das cortesãs do faraó, e elas iniciaram um romance secreto.

Um dos sacerdotes invejosos do templo descobriu a traição da sacerdotisa e, para provar seu valor perante o faraó, esperou que elas se encontrassem em uma noite às escondidas, e as surpreendeu com soldados armados que tentaram prendê-las.

Em seu desespero, a cortesã manifestou poderes mágicos, e os soldados caíram mortos com a mesma infecção da mulher do faraó. A sacerdotisa descobriu que a cortesã era uma feiticeira e havia armado uma conspiração para tomar o lugar da mulher do governante. Porém, a chegada da sacerdotisa havia transformado o coração da feiticeira, que desistiu de seu plano.

A sacerdotisa não suportou os esquemas obscuros de sua amante e, desgostosa, findou sua própria vida.

Pesaroso e sem nunca ter descoberto a verdade, o faraó mandou construir para a sacerdotisa o maior e mais belo dos sarcófagos, e a feiticeira o revestiu em segredo com a maldição contra todos aqueles que tentassem violar o descanso de sua amada.

Ilustração: Akemy Hayashi
Conto: Rodolfo de Salles