Aqueles olhos

Rodolfo Salles
Paradoxo3
Published in
2 min readFeb 22, 2017

Téllara Serval esperou treze anos para executar sua vingança. Naquela tarde peculiarmente pálida, a última sobrevivente da tribo dos leões brancos do norte pintou seu corpo com tinta vermelha. Em sua mente, apenas um objetivo rodopiava insistente: invadir o acampamento dos leões rubros da tribo do sul, assassinos de sua família. Ela aguardou o cair da noite para executar seu plano.

Seus olhos faiscaram de ansiedade enquanto ela caminhou para dentro dos portões rochosos da comunidade, cujas construções eram em sua maioria de pedras pontudas e lonas de peles que serviam como tendas. Ela sentiu o cheiro nauseabundo de carne queimada no ar, imaginando que aquele fosse outro território invadido por seus inimigos. Estacou no centro da praça principal, puxou o ar no âmago de seus pulmões e libertou seu rugido gutural, marca registrada dos leões brancos.

Quando terminou o massacre, os olhos de Tellária passearam pelos cantos chamuscados, e ela farejou vida no ar. Espreitou-se silenciosa como uma pena, e puxou uma das peles entre duas rochas. Encontrou uma filhote da tribo dos leões vermelhos lamuriando-se baixinho, como quem busca esperança sem acreditar nela. Tellária perdeu a respiração, como se visse a si mesma há treze anos. A jovem fitou-a tal como ela fitara os assassinos de seu povo, e naquele instante ela soube que um dia a pequena leoa buscaria sua vingança.

Ilustração: Akemy Hayashi
Conto: Rodolfo de Salles

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Rodolfo Salles
Paradoxo3

Um imaginador de mundos, um construtor de universos e um escravo da criatividade… ou vai ver fui programado pra acreditar nisso tudo XD