O mundo é bom

“Não precisa ter medo, Alice, lembre-se sempre que o mundo é bom. A noite sempre foi um pouco assustadora, sabe, desde que eu me entendo por gente. Basta esperar com paciência que tudo passa e logo amanhece. Só se lembre de nunca sair a noite, pois eles estão lá fora. Sempre se esconda deles, e quando escutar seus sons — que podem soar um tanto assustadores — basta cobrir os ouvidos e cantar uma canção baixinho. Lembra daquela que eu te ensinei?”

“Sim, Alice, todas as crianças tem um pai, e com você não é diferente. Papai foi na frente, e pediu pra gente ir atrás dele. Com certeza ele já está lá nas terras do sul, preparando uma cama quentinha pra gente. Mas, se eventualmente ele não estiver, ficaremos bem também.”

“Um dia talvez você tenha que proteger alguém também, pois por mais que o mundo seja bom, haverá sempre a noite para que a gente se encha de dúvidas. Quando a noite chegar, não se esqueça da canção, e tudo ficará bem.”

— Mama se foi agora. Ela sempre me disse que o mundo era bom, mas eu não tenho mais tanta certeza. Ela disse que papa estaria no sul, nos esperando, mas só tenho dúvidas. O mundo não é bom, mama. A noite é escura e feia, e ela te levou de mim. Estou tão sozinha…

— Eu conheci um rapaz, mama… queria que você estivesse aqui para conhecê-lo também…

— Você sabe por que você se chama Sarah? Foi o nome de minha mãe, sua avó. Ela me ensinou tudo sobre esse mundo. Estamos viajando para o sul, pois lá encontraremos o que procuramos. Sua avó sempre me ensinou que o mundo é bom, Sarah, e levou uma vida toda de medos pra que eu entendesse. Mas eu quero que você saiba que, embora a noite seja escura, o mundo é bom, e será bom mesmo quando eu não estiver por perto. E para quando a noite vier e eles vierem, filha, vou te ensinar uma canção…

Ilustração: Akemy Hayashi
Conto: Rodolfo de Salles