2020: a ano perdido

Como 365 dias pareceram mil e significaram zero

Gustavo Iglesias
Paradoxos
3 min readOct 13, 2020

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Por Gabriel Sabatini, Gustavo Iglesias e Matheus Paes

A pandemia de coronavírus tirou a liberdade dos seres humanos e nos colocou em jaulas. Os estudos e trabalhos ajudam a nos manter ocupados em meio à monotonia, porém os dias não se resumem a isso. Fomos obrigados a encontrar atividades para driblar o tédio, como tarefas domésticas, jogar videogame, ler livros e assistir a séries e filmes.

Crédito: Banco de Imagens Google

No entanto, apesar do revezamento das atividades, chega um momento em que elas se tornam repetitivas e sentimos a falta de um objetivo na vida. Nada que possamos fazer mudará a situação, apenas aguardar e cumprir a quarentena. Dentre os diversos filmes assistidos durante a quarentena, “12 anos de escravidão” demonstra muitas relações com nosso atual período. Ele conta a história de Solomon Northup, um negro livre que foi sequestrado e vendido como escravo. Não havia como dar a volta por cima por conta própria, o deixando com uma sensação de impotência. Tomadas as devidas proporções, é isso que estamos atravessando agora. Nossa liberdade foi roubada e não existe solução, ao nosso alcance, para o problema. Viramos escravos e o nosso senhor do engenho é um vírus.

Praias barradas e fronteiras fechadas. Restaurante? Só delivery. Sem atividades de lazer disponíveis, focamos apenas nas obrigações. Aliás, quantas obrigações: tarefas, provas, TCC, estágio, tudo durante uma pandemia que não permite refúgio para a mente. Afinal, ao sairmos da sala de aula ou do escritório, deixamos (ou tentamos deixar) lá os problemas. Mas, o que fazer quando o escritório e a sala de aula viram sua própria residência?

Preocupação + preocupação – lazer. A conta não fecha e o resultado da equação é ansiedade e depressão. E por falar em depressão, quantos pacientes com a doença do século voltaram à estaca zero do tratamento em 2020? A simples ausência de companhia, toque real e calor humano, que muitas vezes sentimos quando estamos entre amigos, é capaz de derrubar qualquer um que subia a dolorosa escada do tratamento da depressão.

Crédito: Banco de Imagens Google

A proximidade que temos com qualquer pessoa durante a pandemia reside no mundo virtual, ou melhor, nos mundos virtuais. Estes universos se tornaram reais. Não são apenas jogos recreativos, mas sim nossa única maneira de manter contato com os amigos, o lugar onde podemos voltar a ter sentimentos reais.

Passamos a colocar nossos corações em uma montanha de dados porque o virtual se tornou diferente, e melhor, do que temos offline. Estes mundos se tornaram nossos portos seguros, o lugar onde temos a certeza de que vamos encontrar o necessário para seguir a vida ao estilo 2020. Mas se esses universos são apenas joguinhos bobos ou conversas sem sentido… no final de contas o que é real?

Essa é uma saída para salvar todo o progresso de um quadro depressivo durante um ano de solidão. É a única maneira viável de proteger os laços criados com outras pessoas e entender que é um momento passageiro. Quando acabar, nossos amigos estarão lá e será possível seguir a vida de uma maneira diferente, melhor, mais divertida e com significado.

Se existe algum ensinamento deste ano, é valorizar as pequenas coisas da vida. Quem diria que uma reunião semanal entre amigos seria aguardada por meses? O simples fato de andar na rua com o rosto livre virou sensação de prazer. Tocar em outra pessoa, seja um aperto de mão ou abraço, já traz um sentimento bem diferente. Logo nós, brasileiros, conhecidos como um povo caloroso. Muitas vezes dizemos apenas “bom dia” ou “boa noite” para nossos familiares, e agora estamos o dia inteiro juntos.

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