A comunicação e seus dilemas

Na era digital, o imediatismo e e busca por relevância prejudicam a qualidade da informação jornalística

Raphael Freitas
Paradoxos
3 min readOct 13, 2020

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Por Abner de Oliveira, Gabriel Croquer e Raphael Freitas

Ao iniciar na faculdade de comunicação, e até mesmo antes, a maioria dos aspirantes ou “focas” sonham em produzir grandes histórias, contar o novo, ou o velho de uma maneira diferente e inovadora. Fazer a diferença. Novos projetos, ideias de pautas, entrevistas com conteúdo, dar voz aos que pouco têm, objetivos que fazem valer a pena a profissão.

Com o advento da internet e redes sociais, o poder de ecoar a informação deixou de ser restrito, ou seja, apenas aos detentores de microfones, satélites e telespectadores. O público-alvo se tornou voz ativa, a informação se dissipou na liquidez dos tempos.

Crédito: Nijwam Swargiary (Fonte: Unsplash)

A ânsia pela produção instantânea de conteúdo concorrendo diretamente com redes sociais, smartphones e os novos “repórteres” acarreta uma perda de essência daquilo que se demandava mais tempo para ser produzido: grandes reportagens, histórias, investigação, apuração; muita coisa se perdeu.

Pela necessidade de se manter como empresa, ganhar audiência e atrair os anunciantes, os veículos jornalísticos acabam, por vezes, apelando para conteúdos simples, fáceis de serem produzidos e que chamem a atenção das massas. Falar sobre a vida de artistas, acompanhar por dias o desdobramentos de tragédias e sensacionalismo apelativo se tornaram comum no jornalismo da era digital.

Não existe competição justa com os bilhões de produtores de conteúdos, empoderados com plataformas predatórias, que dominam grande parte do mercado de publicidade. Redações enxutas, assessorias de imprensa cheias. Quantas histórias não deixaram de ser contadas por meio daquele modelo de comunicação centralizado do jornalismo? Teremos um vácuo eterno das notícias “profissionais” que nunca foram contadas e não serão.

Uma análise histórica mais ampla, porém, dá certo alívio ao mostrar que o jornalismo simplesmente voltou ao seu “antigo normal”. Nunca foi fácil ganhar dinheiro contando histórias, com exceção do período bizarro do século XX, com a industrialização da produção e o surgimento das tecnologias que criaram linhas unidirecionais de informação.

Hoje, mesmo tendo mais leitores do que nunca, voltamos a falar de uma crise no jornalismo. Talvez, do velho jornalismo. O novo, que vivemos agora, mostra um simples fato, difícil de engolir e que não é consequência de uma crise: não são todos que poderão viver de contar histórias e nem todos terão suas histórias contadas naquele velho modelo de negócios do século passado.

O vazio de histórias e visões, então, continuará a fazer parte dos grandes veículos do jornalismo, naquela instituição antiga e representada por grandes veículos e monopólios. O vazio de jornalistas, de seus cargos e de suas longas reportagens planejadas será engolido pelas plataformas, sempre em buscas de novas histórias para ouvir.

É isso que caberá àqueles que vão contar novas histórias: ouvir muito e estar pronto para tratar essa informação nova, seja para a publicar na Folha de S.Paulo ou em um portal independente de notícias. Ouvindo mais, entenderemos, de uma vez por todas, que a comunicação parte do outro e não necessariamente de nós.

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