A retórica xenofóbica em tempos de pandemia

Preconceito contra asiáticos amarelos se intensificou após surgimento do novo coronavírus e compartilhamento de fake news

Amanda Ayumi Adachi
Paradoxos
2 min readJun 5, 2021

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Reprodução: Anna Rogacheva

Por Amanda Ayumi Adachi

Desde 2019 o mundo vem acompanhado uma calamidade com números cada vez maiores de vítimas e mortes, causadas pelo novo coronavírus. Mas se engana quem pensa que todo esse caos foi resultado de um vírus, sem a contribuição da própria população.

Acontece que a pandemia revelou outras faces do racismo anti-asiático, que já faz parte da história do Brasil e do mundo há séculos, apesar de pouco debatida. Ainda que sofrido de modo bastante diferente do preconceito contra indígenas e negros, pessoas amarelas estão vivenciando constantes ataques nas redes sociais, agressões nos metrôs e ruas, microagressões com imitações de sotaque e provocações, estão sendo proibidos de entrar em certos lugares, e tudo isso por um traço físico.

De fato, os primeiros casos da doença surgiram em Wuhan, na China, e por esse motivo os chineses e os povos do Leste Asiático — japoneses, taiwaneses, coreanos, mongóis — se tornaram alvos. O tamanho da maldade humana chega em seu ápice quando um idoso é atacado e morto, em público, por ser imigrante, como vem acontecendo nos Estados Unidos.

Me reconheci amarela recentemente, mas foi o suficiente para que eu descobrisse o peso de ser parte desse 1% da população nipo-brasileira e de origem oriental. No Brasil, os casos de violência são mais brandos, mas me pego divagando em meus pensamentos. É muito sonhar com que as pessoas vejam a importância de debater o racismo, preconceito e xenofobia contra esta minoria no país ainda em um estágio menos catastrófico, ou precisamos de um massacre igual aconteceu em Atlanta?

Como posso querer que essa pauta venha à tona, sem que a violência que assola os países estrangeiros possa ser um risco para minha avó idosa, que é filha de imigrantes, ou meu pai, que é descendente e já está ficando mais velho? Ouço e leio diversos relatos de pessoas que já sofreram pelos traços característicos da raça nestes tempos de crise sanitária, e é triste que tenhamos de enfrentar isso mesmo depois de tanto ser falado sobre o racismo contra negros.

Assim como o movimento Black Lives Matter, o Stop Asian Hate surgiu com o propósito de abrir os olhos de todo o mundo sobre esses casos, levantando uma bandeira para vozes antes silenciadas. É uma súplica pela bondade humana, a união asiática e uma crítica aos políticos que tanto verbalizaram e aumentaram a retórica xenofóbica e nacionalista sobre o ‘vírus chinês’ em meio à pandemia. Sonhamos em firmar nossa identidade e nossos direitos como cidadãos legais em qualquer parte do mundo, independentemente do lugar. Não somos um vírus.

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