As bicicletas da rua Augusta

Uma breve reflexão sobre o mundo em pandemia

Caio Borges
Paradoxos
2 min readJun 5, 2021

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Por Caio Borges

Reprodução/Pixabay/Banco de Imagens Online

Abril de 2021. Era uma quinta-feira e lá estava eu, pela rua Augusta, prestes a fazer o percurso de volta para a minha casa. O clima em São Paulo havia começado a esfriar. Porém, confiando no meu taco, não levei uma blusa. Um erro inocente. Tinha acabado de sair da barbearia que eu costumo (ou costumava) frequentar pelo menos uma vez ao mês e, como sempre, retornaria a pé, fazendo um caminho com o qual já estou habituado. Contudo, dessa vez a trilha parecia completamente diferente.

Já se passava das oito horas da noite, um horário em que a famosa rua Augusta, mesmo durante a semana, estaria lotada. Não era o caso. Com o toque de recolher, até mesmo um dos lugares mais badalados da capital se tornou um grande caminho sem alma. Não estava vazio, obviamente, mas não era a mesma coisa. Não sou do tipo de pessoa que acredita em energias, mas não consigo pensar em uma descrição mais precisa da cena do que dizer que haviam sugado a energia da rua Augusta.

Além do pequeno número de pessoas e carros no local, outra coisa me chamou a atenção: diversos ciclistas passavam pelo lugar. Talvez seja uma falha de observação minha, mas eu acredito que nunca tinha visto tantas bicicletas na rua antes da pandemia. Esse cenário diferente me trouxe à memória um filme de 2007, Eu Sou a Lenda, protagonizado pelo ator Will Smith. Na obra, o mundo é devastado por uma doença e o personagem de Smith é o único sobrevivente, que vive sozinho na grande cidade de Nova York. No longa, a metrópole se torna uma selva e é mais fácil encontrar animais selvagens do que outros seres humanos.

Não que os ciclistas sejam como os animais do filme. São pessoas que buscam nos exercícios uma alternativa saudável de distração, em meio ao caos que estamos vivendo nos dias de hoje. Contudo, se levarmos em consideração que esses indivíduos fazem parte de um novo cenário que o mundo adquiriu com a pandemia, então é possível enxergar a semelhança com o filme de 2007.

O fato de que eu morria de medo do filme quando era criança me deu a sensação de que eu estaria vivendo em um dos meus pesadelos. Mas, pensando bem, será que eu não estou? Com tudo que tem acontecido, as notícias, as mortes, o caos, nada disso se difere de um péssimo sonho, no qual o medo é constante e você não sabe o que fazer. Pois é, infelizmente tudo isso é verdadeiro, inclusive o desejo incessante de acordar e voltar para uma realidade em que nada aconteceu.

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